sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Mania de Explicação


Mania de Explicação
(Para Ana Carolina Grether, com quem compartilho o interesse pelos recados que o coração sempre está precisando mandar)
Por Ana Lucia Gondim Bastos

“Não tenho medo de crescer”- diz Isabel na véspera do seu aniversário de 13 anos – “Tenho medo de crescer por fora e continuar pequena por dentro!”. E é assim, num mergulho em suas diversas indagações e inseguranças em relação às suas construções acerca do (re)conhecimento das coisas do mundo e de seus próprios sentimentos, que Isabel encanta adultos e crianças na peça “Mania de Explicação” que Luana Piovani traz a São Paulo, baseado no livro de Adriana Falcão (diga-se de passagem, livro que já mora em meu baú de histórias, há algum tempo).  Para facilitar o entendimento das coisas, às vezes, precisamos ir fundo nelas, também descobre, a menina. A facilidade nada tem a ver com a superficialidade!  Todo período de ruptura, de grande transformação e de importantes decisões precisa desse aprofundamento em todos os sentidos que vão sendo, ininterruptamente, construídos para/na nossa experiência no mundo, aprofundamento naquilo que faz com que desenhemos nosso caminho de maneira única e autoral.
Adverte a lagarta que já se sabe futura borboleta: “quem é dono do próprio nariz e faz o melhor que pode na direção do que deseja, não tem que ter medo do por vir". Mas, e quando ainda não se sabe o que se deseja ou que história se quer contar? Aí não tem jeito, é se conformar e pegar a estrada que nos leva pra dentro da gente, sabendo necessária a disposição para (re) encontrar cobras e lagartos que habitam ou já habitaram nossos armários, sótãos  e porões, mas, também, nossos sonhos, amigos imaginários e toda sorte de personagem que dá ou  já deu contorno às nossas dúvidas, aos nossos medos, às nossas ambiguidades e a tudo mais que cabe no registro de sentimento. Lembrando que sentimento, também definiu Isabel, “é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado”.
Toda essa inevitável, às vezes cansativa e sempre repleta de inseguranças, busca por caminhos e sentidos, tecendo tramas de relações e afetos que nos vinculam e nos fazem nos apropriar de nossas narrativas de vida, é muito mais leve se contamos com uma boa dose de poesia e alegria. Nesta peça essa possibilidade de leveza é apresentada com a costura do texto realizada  através de músicas de Raul Seixas cantadas pelo elenco, num cenário de muita magia, texturas e cores.
Depois de Alice no País das Maravilhas (2003) e O Pequeno Príncipe (2006), Luana encara mais uma viagem na auto descoberta, mais uma viagem daquelas que o processo é mais importante do que o destino, porque só sabemos do destino quando já nos percebemos chegados e prontos para a próxima aventura... 

Mania de explicação! Na semana passada Manu e eu tivemos nosso primeiro passeio só de meninas com as amigas Júlia e Clara, filhas de Aline Kelly, colaboradora do @maecomfilhos. Eu, que comecei a blogar em 2005 para contar do “consumo de cultura em família” com meus meninos, preciso me ajustar à realidade de que os adolescentes que tenho em casa não vão mais curtir me acompanhar em tudo! Mas confesso que ao ganhar da Gol os convites para o musical infantil com canções de Raul Seixas, pensei até em dissuadi-los. Raulzito me parece eternamente adolescente e o livro de Adriana Falcão que deu origem ao espetáculo Mania de Explicação também me parece daqueles que todo mundo gosta. Mas aí lembrei do quanto Aline gosta de Raul – seu pai, que faleceu quando ela era adolescente ainda, ouvia com ela – e como as meninas são leitoras ávidas e curiosas com o mundo. O objetivo da peça é este: despertar a sensibilidade e a curiosidade de enxergar a vida a partir de vários ângulos e perspectivas, o espetáculo é a porta de entrada de um mundo lúdico e cheio de questionamentos, onde as palavras e seus significados podem levar os espectadores a uma aventura filosófica impulsionada pelos sentimentos. Posso dizer que alcança o objetivo – apesar de eu achar que manter o ritmo das canções sem um ajuste do milênio comprometeu, pois as crianças de hoje são mais elétricas, né? Mas a produção as ganha! Em sua quarta peça infantil, a atriz Luana Piovani repete a bem-sucedida parceria com Gabriel Villela, depois do espetáculo O Soldadinho e a Bailarina. Gabriel assina a direção, cenário e figurinos da montagem, que conta ainda com Ernani Maletta na direção musical e traz no elenco, além de Luana, os atores Felipe Brum, Nábia Vilela, Luiz Araújo, Letícia Medella e Diogo Almeida. “A originalidade contida no livro de Adriana está exatamente no fato de ela ter um conceito de síntese muito grande sobre as aventuras de uma criança que pergunta tudo, na graça com que ela concebe as palavras dessa criança inspirada no personagem original, que é a filha dela”, afirma Gabriel Villela. Recomendo a peça, especialmente para quem tem filhos entre 5 e 11 anos. As meninas de Aline, com 7 e 9, curtiram! Manu, 1 ano, dançou com as músicas e achou tudo bonito, mas se divertiu mesmo andando pelo teatro, que, felizmente, recebe as crianças sem reclamações! P.S. Curiosidade: a também mãe Luana Piovani conciliou a temporada carioca do espetáculo infantil com as filmagens de dois longas-metragens: Réveillon, uma produção da O2, com direção de Fabio Mendonça. E durante parte da temporada em São Paulo, Luana gravou Dupla Identidade, minissérie de Glória Perez, dirigida por Mauro Mendonça Filho.
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