sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Recado de Eliana Zuanella em timeline da Tempestade. Emoticon smile
Parabéns pelo espetáculo primoroso. Nesta montagem, está Shakespeare e seu tema predileto - a usurpação do poder e as tramas que enredam o ser humano. Mas há muito mais. Críticos comentam que o bardo inglês estabeleceu intertexto com Montaigne e outros de sua época. Na 1a cena, enxerguei Camóes e os medos e ousadia de " atravessar o Bojador". Ethos envolvendo os espectadores, sem dúvida. É clara a assinatura da direção de Gabriel Villela que, em mantendo o original, amplia o texto trazendo para perto de nós, brasileiros, ou para qq parte, numa tessitura com a cenografia, a sonoplastia, a luz. Impecável trupe, encabeçada por Celso Frateschi, mas harmônica e elogiável a participação de cada ator. Alma lavada em tempos bicudos.

domingo, 4 de outubro de 2015

Cacá Toledo em Teatro Tucarena
Grande @albertossf
‪#‎Repost‬ @albertossf with @repostapp
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Eita que veio tanta coisa que a gente fica mudo, só aplaude e não sabe o que falar. My BH years, a paixão pelo Bardo e a sequente descoberta do Galpão, na essência da Flor, Minha Flor cosmo mineira do Romeu & Julieta sob a chuva, em Ouro Preto, a força criativa Globe Theatre carmo-rio-clarense de Gabriel Villela, o 'nós somos feitos da matéria de que são feitos os sonhos' do eterno Próspero... Evoé, elenco, produção & direção. Que ventos fortes mantenham essa Tempestade por muitas estações.‪#‎atempestade2015‬


A maior das complicações que há em se interpretar uma personagem de Shakespeare é também a mais deliciosa das facilidades: não há personagem nenhuma. É o ator entregue a sua condição de ator, obrigado a encarar um punhado exaustivo de linhas de força, vetores que cortam o espaço, timbres que ferem a voz. Não há método introspectivo que dê conta de formular a interioridade de uma única personagem sequer em Shakespeare. Só há corpo. Fiscalidade e tensões. Seria mais justo eliminar esse termo 'personagem' nas peças de Shakespeare. São, antes, figuras, marionetes. O que resume perfeitamente aquilo que é o próprio ator: um instrumento de expressividade a serviço da comunicação. E só. E já é muito! Muitíssimo!

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

PRIMAVERA TEATRAL 2015


Chico Carvalho (Ariel) em A Tempestade

        Apesar de todos os percalços, São Paulo oferece uma rica temporada teatral neste início de primavera indo desde espetáculos de grupos alternativos até grandes produções com astros globais. Neste segundo caso inserem-se as surpreendentes interpretações de Tarcisio Meira em O Camareiro (direção de Ulysses Cruz) e de Chistiane Torloni em Master Class (direção de José Possi Neto); são produções bem sucedidas artística e comercialmente a partir de textos convencionais já considerados clássicos do teatro de língua inglesa. Gabriel Villela perfila-se com esses diretores de renome nos cartazes da cidade oferecendo aquele que talvez seja o espetáculo mais bonito do ano: A Tempestade de Shakespeare ambientada numa paisagem repleta de objetos e canções mineiras que remetem a outro trabalho antológico do encenador (Romeu e Julieta de 2001 com o Grupo Galpão). Chico Carvalho tem atuação não menos que excepcional como o diáfano e etéreo Ariel (ao que eu saiba nunca houve intérprete que incorporasse tão bem fisicamente o “espírito do ar” criado pelo bardo inglês). Menos famoso que seus colegas acima citados, o encenador Hugo Coelho faz divertida e eficiente montagem de Morte Acidental de Um Anarquista(*) com interpretação irreverente de Dan Stulbach.

        Máquina Tchekov é um instigante texto de Matéi Visniec que se junta a Ronaldo Ciambroni e a Mário Bortolotto como um dos autores mais montados em São Paulo. Ironia à parte, o dramaturgo romeno em boa hora tem várias de suas peças montadas por aqui. Esta peça trata do que aconteceu com as personagens de várias peças do autor russo em função do destino que ele lhes reservou; descontentes com seus desfechos elas vêm tirar satisfação com seu criador em seu leito de morte. A tradução cênica de Clara Carvalho e Denise Weimberg é límpida e acerta esteticamente ao colocar essas personagens como espíritos vagantes pelo ambiente.

        Ao Pé do Ouvido é uma nova experiência do Núcleo de Teatro Experimental dirigido por Zé Henrique de Paula: atores ouvem com fone de ouvido relatos de migrantes nordestinos e tentam reproduzir seus sentimentos por meio de voz e gesto. Tem a marca de qualidade do talentoso grupo da Rua Barra Funda.

        Tanto Faz é uma gostosa incursão de Mário Bortolotto no universo pop de Reinaldo Moraes. 23 atores dão conta das inúmeras personagens presentes no livro com destaque para Eldo Mendes como o protagonista Ricardo e para o próprio Bortolotto como o divertido amigo Chico.

        Bonecas Quebradas (*) foi a grande surpresa do mês de setembro e motivo de matéria deste blog.

      Zabobrim, O Rei Vagabundo. Mesclando elementos daCommedia Dell’Arte com a forma do circo teatro a dupla Esio Magalhães e Tiche Vianna criou este divertido espetáculo que conta a história de um pobre diabo que por obra de uma “genia” transforma-se em rei, mas para não fugir do seu destino de palhaço, é um rei cheio de percalços e trombadas.

        Agreste. Revisto depois de onze anos o espetáculo conserva a beleza, a surpresa e a frescura de quando estreou. Texto, direção e interpretações perfeitos. Montagem clássica do teatro brasileiro.

       Espetáculo criado por elementos da comunidade de Heliópolis, A Inocência do Que Eu (Não) Sei (*) é uma séria reflexão sobre os deficientes sistemas educacionais da “Pátria Educadora”.

        Encerrando a resenha Incêndios (*), o pungente espetáculo do grupo mexicano Tapioca Inn com a grande atriz Karina Gidi, que cumpriu curta temporada de duas semanas no Sesc Pompeia. QUEM VIU, VIU!!

(*) Vide matérias sobre essas peças neste blog consultando o marcador pelo título das mesmas.

30/09/2015
http://www.palcopaulistano.blogspot.com.br/

A Tempestade: Villela transpõe o universo de Shakespeare para o Brasil


Peça: A Tempestade, foto 1
Celso Frateschi interpreta Próspero, um dos grandes personagens de Shakespeare
Considerada a última peça de William Shakespeare, A Tempestade (escrita em 1611, cinco anos antes da morte do autor) ganha uma roupagem brasileira pelas mãos do diretor mineiro Gabriel Villela. O espetáculo, em cartaz até final de novembro no Tucarena, faz parte das comemorações dos 50 anos do Tuca.
Com ícones da cultura popular, como potes de cerâmica, bordados e rendas dos figurinos, móveis e adereços em madeira, elementos religiosos e místicos distribuídos pelo cenário, além das músicas do cancioneiro popular e de compositores como Milton Nascimento (Peixinho do Mar) e Dorival Caymmi (Suíte do Pescador), a montagem transpõe a trama shakespeareana de Próspero, o duque de Milão, que teve o trono usurpado pelo irmão, para a realidade brasileira. Celso Frateschi, como Próspero, lidera o elenco de mais 10 atores, dentre eles Letícia Medella, Chico Carvalho e Helio Cícero.
Peça: A Tempestade, foto 2
O jovem casal Ferdinando e Miranda, vividos por Marco Furlan e Letícia Medella
A plateia fica hipnotizada desde a cena inicial. Aproveitando da estrutura de arena do teatro e com poucos e criativos elementos, os atores entram em cena, se dirigem ao centro do palco e sentam-se em círculo, dando início à  magia do teatro. Próspero com seu cajado místico (um velho galho de árvore) e a ajuda do anjo Ariel, vivido por Chico Carvalho, provoca uma tempestade no mar, que atrai para sua ilha o navio da corte de Nápoles. Detalhe: a tempestade é criada somente com um véu transparente, uma miniatura de navio, a iluminação e o canto e as vozes dos atores, que são redimensionadas pelos potes de cerâmica, usados para reverberar o som. Impossível não ficar preso à trama!
Depois do naufrágio, todos da tripulação conseguem se salvar e buscam abrigo na ilha abandonada. A trama se desenrola com Próspero articulando para que a verdade venha à tona. Contando com a colaboração tanto de Ariel como do escravo Caliban (Helio Cícero), Próspero faz com que o rei Alonso (Leonardo Ventura) descubra que o seu trono de duque de Milão fora usurpado por seu irmão mais novo Antonio (Rogério Romera). O mago também aproxima a filha Miranda (Letícia Medella) do príncipe Ferdinando (Marco Furlan), que se apaixonam.
Peça: A Tempestade, foto 4
Romis Ferreira, Helio Cícero e Dagoberto Feliz : os bufões Estéfano, Caliban e Trínculo
Como em toda a obra de Shakespeare, A Tempestade contém os sentimentos mais pungentes do ser humano, numa história de vingança, de violência, luta pelo poder, além de amor, reconciliação e, principalmente, perdão.

“Tenho atração e encantamento por obras que traduzem o universo mítico, onírico e poético, como nesta peça. Evidentemente não nos deparamos com um mundo apenas de encantos, mas também repleto de crueldades. Em A Tempestade, peça de despedida do bardo, encontramos um olhar mais benevolente”,  argumenta o diretor.

Peça: A Tempestade, foto 3
Chico Carvalho dá vida ao anjo Ariel
A montagem barroca e brasileira de Gabriel Villela para um texto tão contundente e vigoroso de Shakespeare magnetiza ainda mais os espectadores. As músicas também exercem fascínio e envolvem o público, tanto que ao final estão todos cantando e aplaudindo ao mesmo tempo! Difícil enumerar o que mais agrada na montagem: iluminação primorosa de Wagner Freire, os encantandores figurinos de José Rosa e Gabriel Villela, que também assina o cenário ao lado de Márcio Vinícius, os criativos adereços de Shicó do Mamulengo e a bela maquiagem de Claudinei Hidalgo. No entanto, a sintonia e o entrosamento dos onze atores em cena é o grande destaque do espetáculo; Celso Frateschi, que já interpretou Caliban em outra montagem, emociona na pele de Próspero. Sem dizer da sensível interpretação de Chico Carvalho e Helio Cícero, que engrandecem seus ricos e antagônicos personagens. Letícia Medella também chamou minha atenção: única mulher no elenco, sua voz doce sobressai nas canções. Outra montagem memorável de Villela para uma peça de Shakespeare! Um dos grandes destaques da temporada teatral deste ano!
Fotos: João Caldas

http://www.favodomellone.com.br/a-tempestade-villela-transpoe-o-universo-de-shakespeare-para-o-brasil/ Mellone

Como jornalista — tendo atuado em rádio, TV, jornal, revistas e assessoria de imprensa —, a palavra sempre foi minha matéria prima. No entanto, desde 2000 venho cultivando o plano B, ou seja, mantenho no meu velho PC um arquivo com meus escritos, que na verdade já era um pré-blog. Lá, deixo fluir a imaginação para que a linguagem inclusive ganhe novos contornos.

Teatro – A Tempestade de Shakespeare

Por Ana Lucia Gondim Bastos
Na porta do teatro uma frase do autor: “Enquanto houver um louco, um poeta e um amante haverá sonho, amor e fantasia. E enquanto houver sonho, amor e fantasia, haverá esperança”. No programa as palavras de Jan Kott: ”(…) A ilha é o mundo, o mundo um teatro, nele todos são atores. Próspero é apenas o diretor do espetáculo, breve e frágil como a vida”. No teatro de arena, a ilha, o sonho e a fantasia, com o público formando o mar.
E, então, começa o espetáculo e a gente descobre que aqueles atores todos, com figurino encantador e se fazendo valer de recursos cênicos surpreendentes, são músicos incríveis! O texto shakespereano costurado por uma trilha sonora bem brasileira ,que vai de Villa Lobos a canções do nosso folclore passando por Dorival Caymmi, aproxima ainda mais aquela ilha dos lugares por onde passamos.
A profusão de personagens que vai enredando a trama orquestrada pelos poderes mágicos de Próspero, aos poucos, nos apresenta a história do protagonista que perde o ducado de Milão em virtude da traição do irmão que, em conluio com o rei de Nápoles, o abandona em alto mar com a filha, Miranda. Já na ilha, onde chega com poucos objetos e alguns livros, Próspero controla espíritos e seres mágicos, com os quais vai contar para colocar seu plano de vingança em ação. O último texto de Shakespeare termina com um livro de magia em baixo das águas do mar e uma varinha enterrada na ilha, sua pena da caneta tinteiro? Enterrada em que ilha? Dos diversos teatros de arena ou na ilha de cada louco, poeta ou amante? Ilha de cada um de nós? Sim, impossível não sair dessa peça sem se perceber louco, poeta, amante… e um pouco músico, também. Responsáveis por manter a chama da esperança acesa e, com ela, a capacidade de contar e recontar histórias. Vale conferir essa bela montagem, dirigida por Gabriel Villela, com Celso Frateschi como Próspero, no Tuca Arena.https://tecendoatrama.wordpress.com/2015/08/29/teatro-a-tempestade-de-shakespeare/
5DIII © Joao Caldas Fº
5DIII © Joao Caldas Fº
"A Tempestade", de Shakespeare, em releitura de Gabriel Villela
Datada de 1611 e considerada a última peça inteiramente escrita pelo dramaturgo William Shakespeare, “A Tempestade” ganha uma adaptação do premiado diretor mineiro Gabriel Villela, em cartaz no Teatro Tucarena.
A peça apresenta uma história de vingança centrada em Próspero, que vive em uma ilha remota desde que perdeu o reinado para seu irmão, junto com dois seres mágicos e sua filha Miranda, quem planeja colocar no poder.
Nesta adaptação da peça, que faz parte da programação comemorativa dos 50 anos do Tuca, os elementos mágicos do drama são representados por ícones da cultura popular brasileira, em especial a de Minas Gerais. O figurino, que traz rendas e bordados, é um espetáculo a parte, assim como a música ao vivo, composta por canções populares brasileiras escolhidas pelo diretor. Parte do cenário vem de antiquários, como a mobília de antigos casarões. O cajado mágico usado por Próspero é um tronco retirado da represa de Carmo do Rio Claro (MG), cidade natal de Villela. A biblioteca do personagem é um armário de cachaças. A simbologia está por tudo.
A cenografia da peça foi pensada para o formato de arena – um grande círculo envolve toda a encenação, remetendo à Ilha onde Próspero vive. Potes de cerâmica são usados para amplificar ou modificar a voz dos atores e, assim como nas tragédias gregas, a música é cantada em coro pelos atores.
A peça, que vem recebendo elogios de crítica e público, fica em cartaz até 22 de novembro.
 http://www.baobamais.com.br/Site/php/radar_interna.php?CodRadar=29
A Tempestade
Tucarena – Rua Monte Alegre, 1.024, tel. (11) 3670-8453
Sexta às 21h30; sábado às 21h; domingo às 19h.
 R$ 50 a R$ 70 

Imagem: João Caldas