quinta-feira, 1 de outubro de 2015

A Tempestade: Villela transpõe o universo de Shakespeare para o Brasil


Peça: A Tempestade, foto 1
Celso Frateschi interpreta Próspero, um dos grandes personagens de Shakespeare
Considerada a última peça de William Shakespeare, A Tempestade (escrita em 1611, cinco anos antes da morte do autor) ganha uma roupagem brasileira pelas mãos do diretor mineiro Gabriel Villela. O espetáculo, em cartaz até final de novembro no Tucarena, faz parte das comemorações dos 50 anos do Tuca.
Com ícones da cultura popular, como potes de cerâmica, bordados e rendas dos figurinos, móveis e adereços em madeira, elementos religiosos e místicos distribuídos pelo cenário, além das músicas do cancioneiro popular e de compositores como Milton Nascimento (Peixinho do Mar) e Dorival Caymmi (Suíte do Pescador), a montagem transpõe a trama shakespeareana de Próspero, o duque de Milão, que teve o trono usurpado pelo irmão, para a realidade brasileira. Celso Frateschi, como Próspero, lidera o elenco de mais 10 atores, dentre eles Letícia Medella, Chico Carvalho e Helio Cícero.
Peça: A Tempestade, foto 2
O jovem casal Ferdinando e Miranda, vividos por Marco Furlan e Letícia Medella
A plateia fica hipnotizada desde a cena inicial. Aproveitando da estrutura de arena do teatro e com poucos e criativos elementos, os atores entram em cena, se dirigem ao centro do palco e sentam-se em círculo, dando início à  magia do teatro. Próspero com seu cajado místico (um velho galho de árvore) e a ajuda do anjo Ariel, vivido por Chico Carvalho, provoca uma tempestade no mar, que atrai para sua ilha o navio da corte de Nápoles. Detalhe: a tempestade é criada somente com um véu transparente, uma miniatura de navio, a iluminação e o canto e as vozes dos atores, que são redimensionadas pelos potes de cerâmica, usados para reverberar o som. Impossível não ficar preso à trama!
Depois do naufrágio, todos da tripulação conseguem se salvar e buscam abrigo na ilha abandonada. A trama se desenrola com Próspero articulando para que a verdade venha à tona. Contando com a colaboração tanto de Ariel como do escravo Caliban (Helio Cícero), Próspero faz com que o rei Alonso (Leonardo Ventura) descubra que o seu trono de duque de Milão fora usurpado por seu irmão mais novo Antonio (Rogério Romera). O mago também aproxima a filha Miranda (Letícia Medella) do príncipe Ferdinando (Marco Furlan), que se apaixonam.
Peça: A Tempestade, foto 4
Romis Ferreira, Helio Cícero e Dagoberto Feliz : os bufões Estéfano, Caliban e Trínculo
Como em toda a obra de Shakespeare, A Tempestade contém os sentimentos mais pungentes do ser humano, numa história de vingança, de violência, luta pelo poder, além de amor, reconciliação e, principalmente, perdão.

“Tenho atração e encantamento por obras que traduzem o universo mítico, onírico e poético, como nesta peça. Evidentemente não nos deparamos com um mundo apenas de encantos, mas também repleto de crueldades. Em A Tempestade, peça de despedida do bardo, encontramos um olhar mais benevolente”,  argumenta o diretor.

Peça: A Tempestade, foto 3
Chico Carvalho dá vida ao anjo Ariel
A montagem barroca e brasileira de Gabriel Villela para um texto tão contundente e vigoroso de Shakespeare magnetiza ainda mais os espectadores. As músicas também exercem fascínio e envolvem o público, tanto que ao final estão todos cantando e aplaudindo ao mesmo tempo! Difícil enumerar o que mais agrada na montagem: iluminação primorosa de Wagner Freire, os encantandores figurinos de José Rosa e Gabriel Villela, que também assina o cenário ao lado de Márcio Vinícius, os criativos adereços de Shicó do Mamulengo e a bela maquiagem de Claudinei Hidalgo. No entanto, a sintonia e o entrosamento dos onze atores em cena é o grande destaque do espetáculo; Celso Frateschi, que já interpretou Caliban em outra montagem, emociona na pele de Próspero. Sem dizer da sensível interpretação de Chico Carvalho e Helio Cícero, que engrandecem seus ricos e antagônicos personagens. Letícia Medella também chamou minha atenção: única mulher no elenco, sua voz doce sobressai nas canções. Outra montagem memorável de Villela para uma peça de Shakespeare! Um dos grandes destaques da temporada teatral deste ano!
Fotos: João Caldas

http://www.favodomellone.com.br/a-tempestade-villela-transpoe-o-universo-de-shakespeare-para-o-brasil/ Mellone

Como jornalista — tendo atuado em rádio, TV, jornal, revistas e assessoria de imprensa —, a palavra sempre foi minha matéria prima. No entanto, desde 2000 venho cultivando o plano B, ou seja, mantenho no meu velho PC um arquivo com meus escritos, que na verdade já era um pré-blog. Lá, deixo fluir a imaginação para que a linguagem inclusive ganhe novos contornos.

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