A maior das complicações que há em se interpretar uma personagem de Shakespeare é também a mais deliciosa das facilidades: não há personagem nenhuma. É o ator entregue a sua condição de ator, obrigado a encarar um punhado exaustivo de linhas de força, vetores que cortam o espaço, timbres que ferem a voz. Não há método introspectivo que dê conta de formular a interioridade de uma única personagem sequer em Shakespeare. Só há corpo. Fiscalidade e tensões. Seria mais justo eliminar esse termo 'personagem' nas peças de Shakespeare. São, antes, figuras, marionetes. O que resume perfeitamente aquilo que é o próprio ator: um instrumento de expressividade a serviço da comunicação. E só. E já é muito! Muitíssimo!
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