sábado, 31 de março de 2018

Malvino Salvador é Boca de Ouro, personagem de Nelson Rodrigues, no Festival de Curitiba

Malvino Salvador está em Curitiba para interpretar o bicheiro Boca de Ouro, personagem icônico do submundo carioca, criado por Nelson Rodrigues, com toques mitológicos na adaptação que o diretor Gabriel Villela apresenta no Festival de Teatro de Curitiba. Com duas sessões na mostra, a primeira apresentação acontece neste sábado (31), às 21 horas, no Teatro Guaíra e a segunda amanhã, às 19 horas.
Paraná Portal conversou com o ator que contou um pouco da história do lendário bicheiro carioca, figura temida e megalomaníaca, que tem esse apelido porque trocou todos os dentes por uma dentadura de ouro.
Confira:
Os atores Mel Lisboa e Claudio Fontana fazem o casal Celeste e Leleco. Já Leonardo Ventura interpreta o fiel e apaixonado marido de Guigui, Agenor. Chico Carvalho é Caveirinha, o repórter rodrigueano, que carrega em si o olhar afiado e crítico do dramaturgo-jornalista, que durante anos trabalhou em redações e conheceu de perto os vícios e contradições da imprensa. Chico também interpreta a grã-fina Maria Luiza. Cacá Toledo e Guilherme Bueno completam o elenco. Jonatan Harold assume o piano desta gafieira carioca oferecendo a ambiência musical para Mariana Elisabetsky interpretar as canções imortalizadas por Dalva de Oliveira.
Foto: João Caldas
Como toda a ação proposta por Nelson Rodrigues parte da mente contraditória de Dona Guigui, as diferentes narrativas da personagem são exploradas pelo encenador de forma muito diversa. A cada versão de Guigui, a arena de Gabriel Villela circula, ressaltando o espaço arquetípico convergente, assim como o salão circular de uma gafieira, ou um ciclo de vida que se encerra.http://folhapioneira.com.br/malvino-salvador-e-boca-de-ouro-personagem-de-nelson-rodrigues-no-festival-de-curitiba/
A montagem recebeu sete indicações ao prêmio Aplauso Brasil: melhor ator (Malvino Salvador), melhor atriz (Lavínia Pannunzio), melhor ator coadjuvante (Chico Carvalho), melhor atriz coadjuvante (Mel Lisboa), melhor direção (Gabriel Villela), melhor cenografia (Gabriel Villela) e melhor espetáculo. Mel Lisboa também foi indicada aos Prêmios Shell de Melhor Atriz e Aplauso Brasil de Melhor Atriz Coadjuvante. O diretor Gabriel Villela também foi indicado ao Prêmio Shell SP e a peça foi escolhida a melhor do ano pelo jornal O Estado de São Paulo.

Entrevista com Malvino Salvador sobre seu personagem “O Boca de Ouro”

Malvino Salvador interpreta “O Boca de Ouro”, bicheiro personagem de Nelson Rodrigues


Malvino Salvador – Foto: Ale Maya.
O bicheiro Boca de Ouro, personagem icônico do submundo carioca, criado por Nelson Rodrigues, na adaptação ao diretor Gabriel Villela apresenta na Mostra 2018 do Festival de Curitiba, nos dias 31 de março, às 21h, e 1º de abril, às 19h, no Guaírão.
Eu Amo Curitiba (EAC): O “Boca de Ouro” é um clássico de Nelson Rodrigues nos fale sobre a adaptação de Gabriel Villela.
Malvino Salvador (MS): É um prazer estar falando com você e seus leitores, como você falou é um clássico de Nelson Rodrigues escrito em 1959, acho que é uma das grandes peças dele, das mais emblemáticas e com um personagem realmente incrível “O Boca de Ouro” é um personagem que foi para o cinema, então tá presente na história da dramaturgia brasileira. O Nelson acho que é nosso maior dramaturgo e o Boca tem uma narrativa muito interessante, por que ela apresenta esse personagem em três versões a partir das versões de uma outra personagem que é a dona Guigui ex-amante do Boca de Ouro que retrata o Boca a partir do humor em que ela está em determinado momento. A primeira versão ela tinha sido abandonada pelo bicheiro, ela retrata um “Boca de Ouro” para os jornalistas que vão atrás dela para saber sobre o Boca que havia morrido, eles não contam para ela que ele morreu. E ela retrata ele como um assassino cruel, na segunda versão quando ela descobre que o Boca morreu ela muda a versão e retrata o Boca como um cara que as vezes ajudava a comunidade ela suaviza o Boca e na terceira versão para ela se reconciliar com o marido ela acaba retratando o Boca como um cara manipulador assim, um assassino manipulador.  O Gabriel em termos de narrativa a peça se apresenta em dois planos, o plano real que o plano das pessoas que estão ali, dos jornalistas, a dona Guigui que estão contando a história que estão apresentando para o público. E num outro plano que é da imaginação de uma personagem que está contando uma história que ai apresentam-se outros personagensna trama. Como estrutura narrativa o Gabriel Villela apresentou uma visão muito peculiar, na minha opinião ele potencializou essa estrutura narrativa com os componentes que ele utilizou no espetáculo. Ele cria uma grande fábula para o espetáculo, ele apresenta a primeira cena com um Rio de Janeiro em um grande carnaval, traz então algo até saudosista pra um Rio de Janeiro tão violento hoje em dia apesar da peça tratar de violência também, mas ele traz uma coisa saudosista de uma época em que a cidade era menos cruel e mais romântica.
(EAC): Já que a peça se apresenta em trê versões como ficam as composições de figurinos?
(MS): Todo o  figurino tem essa riqueza do carnaval isso já é um componente que o Gabriel usa muito, é uma segunda pele do ator. Isso contribui também para a narrativa do personagem Boca de Ouro nestas três versões e como são versões diferentes os figurinos mudam também criando uma tragetória de nascimento e morte. Aproveitando-se de certos componentes do texto, como por exemplo no texto de diz que O “Boca de Ouro” é o drácula de Madureira, então na primeira versão ele coloca um figurino remetendo uma coisa ao vampiro, uma coisa mais negra e colocando ele como o cara troca os dentes por dentes de ouro e o canino é proeminente como se fosse o canino de um vampiro. Ele mata as vítimas dando uma bocanhada no pescoço. Essa é uma grande fábula ele tira o realismo da peça, cria essa fábula, então ele cria na primeira versão um Boca mais ancestral, vampiresco que tem a origem abjeta de um personagem que nasceu no submundo, que nasceu numa pia de gafieira e cresceu no submundo do crime. Na segunda versão onde a versão dele é suavizada, o Gabriel se aproveita para mudar o figurino e colocar o Boca de Ouro mais sofisticado. Ele aparece querendo ser um figurino mais de lord inglês. Na terceria versão tá quase querendo tocar Deus é uma trajetória mítica de nascimento e morte, onde ele quer esse cara que não teve nada, ele quer em contraponto alcançar o poder absoluto e isso o leva a morte.
(EAC): Qual foi o processo de criação para o personagem “Boca de Ouro”?
(MS): Eu fui buscando todas as referências que o Gabriel foi apresentando para o personagem. Foram três meses de ensaio e o Gabriel em cada dia ele ia trazendo assim olha: Assista esse filme, veja essa referência, procure o texto tal e traga alguma coisa diferente pra amanhã e assim foi feito em todos os dias de ensaio.
Um pouco mais sobre a Mostra:
O personagem, interpretado pelo ator Malvino Salvador, é um lendário bicho carioca, figura temida e megalomaníaca, que tem esse apelido como um trocadilho todos os dentes por uma dentadura de ouro e que também é conhecido como Drácula de Madureira.Quando Boca é assassinado seu passado é vasculhado por um repórter. A fonte é dona Guigui, uma ex-amante do contraventor, uma mulher que faz o longa-metragem, revela as várias versões do bicho, interpretada por Lavínia Pannunzio.Os atores Mel Lisboa e Claudio Fontana fazem o casal Celeste e Leleco. Já Leonardo Ventura interpreta o fiel e apaixonado marido de Guigui, Agenor. Chico Carvalhoé Caveirinha, o homem que carrega o seu olhar e a crítica do dramaturgo-jornalista, que faz anos trabalha em redacções e conheceu os vícios e contradições da imprensa. Chico também interpreta a grã-fina Maria Luiza.Cacá ToledoeGuilherme Buenocompletam o elenco. Jonatan Haroldassume o piano desta gafieira carioca oferecendo uma ambiência musical para a Mariana Elisabetskyinterpretar como canções imortalizadas por Dalva de Oliveira.Como uma ação proposta por Nelson Rodrigues da mente contraditória de Dona Guigui, como diferentes narrativas do personagem são exploradas pelo encenador de forma muito diversa. A cada versão de Guigui, uma arena de Gabriel Villela circula, com destaque para o espaço arquetípico convergente, assim como o salão circular de uma gafieira, ou um ciclo de vida que se encerra.Dentro das iconografias do subúrbio carioca, Gabriel se utiliza da simbologia do candomblé e das mascaradas não há espetáculo.Uma casa de Celeste e Leleco traz muitas representações de Orixás sincretizados. A figura de Iansã (Guilherme Bueno) faz toda a vida que uma cena de morte acontece. Iansã faz uma contrarregragem das mortes da história. O político tem toda essa arena: uma política, como narrativas contraditórias, uma libido, uma festa da gafieira, o jogo do bicho, uma fé e a música. Retratos de uma época que nos mostram o Brasil pouco mudou e, em seguida, o bebê nasceu em Pernambuco em 1912 e radicado no Rio de Janeiro, nunca foi tão atual.O melhor ator (Malvino Salvador), melhor atriz (Lavínia Pannunzio), melhor ator coadjuvante (Chico Carvalho), melhor atriz coadjuvante (Mel Lisboa), melhor direção (Gabriel Villela), melhor cenografia ( Gabriel Villela) e melhor espetáculo. O Mel Lisboa também foi exposto aos Prémios Shell de Melhor Atriz e Aplauso Brasil de Melhor Atriz Coadjuvante. O diretor Gabriel Villela também foi indicado ao prêmio Shell SP ea peça foi escolhida como melhor do ano pelo jornal O Estado de São Paulo.
Ficou curioso? Então fica o convite doMalvino Salvador pra você acompanhar os  trabalhos que compõem a programação do 27º Festival de Curitiba:
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Ingressos
A venda dos ingressos está disponível pelo site www.festivaldecuritiba.com.br , pelo aplicativo “Festival de Curitiba 2018” e nas bilheterias oficiais do evento, no ParkShoppingBarigüi, com funcionamento das 11h às 23h, de segunda a sexta; no sábado, das 10h às 22h e, aos domingos, das 14h às 20h; e no Shopping Mueller, de segunda um sábado, das 10h às 22h, domingos e visto das 14h às 20h.
Conheça mais sobre a peça , acessando a página www.facebook.com/bocadeouromalvinosalvador

Mais informações sobre o 21º Festival de Curitiba, acesse aqui: Festival de Curitiba

quinta-feira, 29 de março de 2018

Diretor de teatro Gabriel Villela é tema de livro das Edições Sesc São Paulo

image003-2     Livro traz fotos e depoimentos do diretor e de seus parceiros de trabalho, contando detalhes dos mais de 40 espetáculos encenados ao longo de sua trajetória
 A obra de um dos grandes diretores brasileiros é tema do livro das Edições Sesc São Paulo, Imaginai! O teatro de Gabriel Villela, organizado pelo jornalista e dramaturgo Dib Carneiro Neto e pelo professor de teatro e ator Rodrigo Audi. O livro traça a trajetória do diretor, cenógrafo e figurinista mineiro, um dos mais profícuos e respeitados no cenário contemporâneo. Após os lançamentos durante o FIT – Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto, em julho do ano passado, e no Sesc Consolação, em setembro do mesmo ano, os organizadores participam de bate-papo com o diretor no Festival de Teatro de Curitiba, dia 30 de março, às 17h, no Teatro Sesc da Esquina.


A obra traz registros fotográficos de todos os seus espetáculos – tanto teatrais como shows e óperas –, apresentados em depoimentos do próprio diretor sobre memórias e referências a bastidores, detalhes da montagem, relação com os atores, processo criativo e parcerias afetuosas com Ruth Escobar, Laura Cardoso, Sábato Magaldi e J.C. Serroni, entre outros. Unem-se a esses materiais artigos de críticos como Macksen Luiz e Luiz Carlos Merten e de parceiros de trabalho, como a atriz Walderez de Barros e o diretor Eduardo Moreira, do Grupo Galpão. Nestes textos são abordados diferentes aspectos de seu trabalho, como a criação de cenários e figurinos, os métodos de preparação de elenco e a relação de sua obra com o universo circense. Além do conteúdo textual, o livro traz registros de fotógrafos de peso, como Lenise Pinheiro, Gal Oppido, Vânia Toledo e João Caldas.
“A explosão visual do teatro de Gabriel Villela está na refração da luz de velas dos altares ou na ribalta dos dramas das arenas de circo, nas alegorias de uma religiosidade que reverbera trevas medievais ou em palhaços que subvertem a sisudez do clássico sem roubar-lhe a alma.”
Macksen Luiz

Gabriel Villela tem como característica forte a mistura entre uma formação erudita e a ligação com sua terra, Carmo do Rio Claro, em Minas Gerais – aonde sempre volta em busca de inspiração.

Sua extensa produção, iniciada profissionalmente na década de 1980, vem colecionando críticas positivas e prêmios (dentre eles, dez Prêmios Shell e nove APCAs), com espetáculos exuberantes, que derivam de textos de autores clássicos como Shakespeare, Schiller e Beckett, mas também de um mundo mais prosaico e particular, no qual se revela sua mineiridade. A intensidade barroca e a inspiração do circo são características marcantes de seu teatro, retratado pela primeira vez de forma completa numa publicação.

Sua peça de estreia, Você vai ver o que você vai ver (1989)já chamou a atenção de críticos da envergadura de Alberto Guzik. No ano seguinte, dirigiu a grande atriz Ruth Escobar em Relações perigosas. Daí em diante, alcançou outros marcos históricos, como a apresentação, junto com o Grupo Galpão, de Romeu e Julieta no Globe Theatre – foi a primeira vez que um grupo brasileiro se apresentou nos palcos do lendário teatro londrino. A propósito, essa montagem foi a única a constar em um ranking feito pela exigente Bárbara Heliodora, considerada a maior crítica brasileira em Shakespeare. Outras encenações do autor inglês merecem destaque, como Sua incelença Ricardo III (2010), Macbeth (2012) e A tempestade (2015/2016).
“Gabriel cultiva o circo, como Fellini cultivava os palhaços, e ama o melodrama, como Luchino Visconti. Tudo se mistura no imaginário de Gabriel Villela, a alta cultura tanto quanto a cultura popular.”
Luiz Carlos Merten

No repertório musical de suas peças, cabe o cancioneiro popular brasileiro, a música de câmara, as modas de viola, o rock and roll, a música iugoslava; tudo isso embalando Shakespeare, Calderón de La Barca, Samuel Beckett, João Cabral de Melo Neto, Arthur Azevedo, Chico Buarque. Do compositor e autor brasileiro, Villela encenou diversas montagens, como A ópera do malandro, Os saltimbancos e Gota d’água. Entre os grandes nomes da MPB que dirigiu, estão Maria Bethânia, Milton Nascimento, Elba Ramalho e Ivete Sangalo.

O olhar intimista dos organizadores do livro, Dib Carneiro Neto e Rodrigo Audi, que trabalharam com Gabriel em diversas ocasiões, se lançou ao desafio de reunir extenso material para dar conta de mostrar ao leitor a história, que ainda está sendo contada, de um dos grandes encenadores brasileiros.


“Desde o começo de sua carreira, Gabriel Villela tem se apresentado nos palcos do Sesc e, ao espetáculo Vem buscar-me que ainda sou teu, que estreou em 1990 no Teatro Sesc Anchieta, se seguiram vários outros. Pois agora também agregamos este Imaginai! à nossa empreitada editorial. Com esta publicação, mais uma vez reafirmamos nosso compromisso com a valorização do teatro brasileiro”.
Danilo Santos de Miranda
FICHA TÉCNICA:
Imaginai!  O teatro de Gabriel Villela
Organização: Dib Carneiro Neto e Rodrigo Audi
Edições Sesc São Paulo
ISBN: 978-85-9493-013-2
Páginas: 340 p.
Formato: 23 x 23 cm
Preço: R$ 110,00

Serviço
Bate-papo sobre o livro Imaginai! O teatro de Gabriel Villela
Bate-papo com os organizadores Dib Carneiro Neto e Rodrigo Audi e o diretor de teatro, Gabriel Villela
Data: 30 de março de 2018, às 17h
Local: Teatro Sesc da Esquina
Endereço: Rua Visconde do Rio Branco, 969 – Curitiba – PR
As publicações das Edições Sesc São Paulo podem ser adquiridas em todas as unidades Sesc SP (capital e interior), nas principais livrarias e também pelo portal www.sescsp.org.br/livraria
SOBRE OS ORGANIZADORES

Dib Carneiro Neto é jornalista formado pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Foi editor-chefe do Caderno 2 do jornal O Estado de S. Paulo e é um dos mais ativos críticos brasileiros de teatro infantojuvenil. Como dramaturgo, ganhou em 2008 o Prêmio Shell de melhor autor por Salmo 91. Também já teve encenadas as peças Adivinhe quem vem para rezar, Depois daquela viagem, Crônica da casa assassinada, Um réquiem para Antonio Pulsões. É autor dos livros A hortelã e a folha de uva, Pecinha é a vovozinha, Já somos grandes Dia de ganhar presente.

Rodrigo Audi é arquiteto e urbanista pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo. Integrou o CPT em São Paulo, coordenado por Antunes Filho, exercendo as funções de professor e coordenador do curso de introdução ao método do ator e coordenador do Núcleo de Dramaturgia, além de atuar nos espetáculos A pedra do reino Senhora dos afogados. Foi assistente de direção de Gabriel Villela em Macbeth, repetindo a parceria como ator em A tempestade. A partir de 2015, tornou-se docente do Célia Helena Centro de Artes e Educação.

SOBRE AS EDIÇÕES SESC SÃO PAULO
Segmento editorial do Sesc, as Edições Sesc São Paulo têm o intuito de expandir o campo de ação da instituição, atendendo a um público cada vez mais amplo. Seu catálogo abrange diversas áreas do conhecimento, com ênfase em artes e ciências humanas, tendo a programação artístico-cultural e educativa do Sesc como uma das principais fontes de conteúdos da editora. Além dos títulos impressos, a editora já iniciou a digitalização de seu acervo. O objetivo é ter, em breve, todo o catálogo em e-books.
*com divulgação

sexta-feira, 16 de março de 2018

Temporada 2018


Crítica do Segundo Caderno de O Globo (16/3/2018)

Crítica“Hoje é dia de rock”
Versão lírica de pedaços de sentimentos
Minas é o ponto de partida para chegadas desconhecidas. Ir, sem saber o que encontrar, mas levando o que se tem do arraial de sentimentos, é a caminhada da família de Pedro Fogueteiro. Músico à procura de uma clave inexistente, fabricante de fogos de artifício, segue a contragosto com a mulher Adélia e os cinco filhos para que novas fronteiras se abram para cada um. É ao encontro de vida melhor, de atravessar montanhas para um mundo de sons diferentes, que levam um trem de afetos e dores de um lugar que nunca os deixa. José Vicente, autor de “Hoje é dia de rock”, viveu como mineiro o encanto e sofrimentos de sua origem, e como ator da contracultura, as delícias e o espanto de um mar a ser explorado. Não por acaso, o texto escrito no início da década de 1970, se transformaria em fenômeno teatral na montagem hedonista de Rubens Corrêa. No mesmo Teatro Ipanema, 38 anos depois, a saga familiar de repressões e liberdades volta em versão onírica do também mineiro Gabriel Villela. Incomparáveis pelo tempo e visões que as distanciam, se aproximam pela identidade geográfica e apelo emocional. Villela poetiza, em ciranda de sentimentos, o desejo de ser um deus asteca, o olhar conciliador de uma cega, a conquista impossível do moto contínuo e a pirotecnia lírica da música de um homem. O diretor transpõe os contornos de personagens para enovelar o universo que os une e o escapismo que os move. Decisivamente poético, impregnado da estética própria do encenador, a montagem recondiciona a narrativa ao seu imaginário cênico. Da geometria de cadeiras coloridas em apoio a arquiteturas invisíveis, emerge um mapa-telão com um rio de minério dourado. Dos pequenos adereços dispostos no palco, surgem flores de pano e maleta-relicário. Do figurino de artesão, transbordam costuras e brilhos. Da trilha mineira-latina-caipira-roqueira são emitidas melodias de dissonâncias e esperanças. Nesse dominante espaço sonoro-visual, ultrapassam-se as contraturas da dramaturgia para ganhar assinatura característica de uma linguagem teatral particular. Como em tantas outras vezes, Gabriel Villela explorou a mineiridade através dos laços interioranos e das imagens de uma cultura marcante. A equipe técnica e o elenco dessa produção curitibana do Teatro de Comédia do Paraná estão integrados ao espírito do diretor, criando envolvente musicalidade poética. Os atores – Arthur Faustino, Cesar Mathew, Evando Santiago, Flávia Imirene, Helena Tezza, Kadê Persona, Luana Godin, Matheus Gonzáles, Nathan Milléo Gualda, Paulo Marques, Pedro Inoe e Marco França, com destaque para Rosana Stavis e Rodrigo Ferrarini – formam um coro sensível de acólitos de uma teatralidade estetizante.

Peça com Malvino Salvador cruza Nelson Rodrigues e a cultura das fake news

Montagem do clássico Boca de Ouro, em cartaz em BH, faz referência também elementos tipicamente cariocas, sob direção de Gabriel Vilela

 por Cecília Emiliana 17/03/2018 07:00
Fotos: João Caldas/ Divulgação
(foto: Fotos: João Caldas/ Divulgação)
Mitológico personagem de Nelson Rodrigues (1912-1980), Boca de Ouro é inspirado na riquíssima fauna de tipos cariocas. O biógrafo Ruy Castro, no livro O anjo pornográfico, conta que o dramaturgo só teve o trabalho de combinar dois deles: um motorista da linha de ônibus que o levava para almoçar na casa da mãe, orgulhoso de ter todos os dentes em ouro maciço, e o lendário bicheiro Arlindo Pimenta.
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Atento a esse universo carioca, o diretor Gabriel Villela montou a sua versão do clássico do teatro brasileiro, que estreou em 1959. Neste fim de semana, a peça fica em cartaz em Belo Horizonte. Protagonizado por Malvino Salvador, o espetáculo reconstitui a morte do temido malandro Boca de Ouro, conhecido não só por exibir a valiosa arcada dentária, como por matar os inimigos com  uma mordida na jugular.

A história é contada por Guigui (Lavínia Pannunzio), ex-amante do contraventor, que narra três versões distintas do assassinato investigado pelo repórter Caveirinha (Chico Carvalho). As principais suspeitas recaem sobre o casal Celeste (Mel Lisboa) e Leleco (Cláudio Fontana).
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Villela transformou o palco em um salão de gafieira – inicialmente, em meio a trevas. No primeiro momento, os figurinos, confeccionados em camadas, também são sombrios. No desenrolar da trama, a atmosfera típica do carnaval dos anos 1950 vai tomando conta do ambiente. O cenário, então, explode em confetes, serpentinas e brocal. O mesmo ocorre com as roupas dos personagens, que passam a ostentar várias cores. Tudo ao som de marchinhas carnavalescas na voz de Dalva de Oliveira e outras divas da Era do Rádio.

IANSàOutra referência estética de Boca de Ouro vem das religiões de matriz africana. Ao fim de cada um dos três atos, Iansã surge no palco como uma entidade de transição. “Todo carioca que se preze frequenta um terreiro de umbanda, candomblé ou os dois. Busquei um toque dessa cultura. A Iansã faz a passagem de um ato para outro dançando e lidando com seus objetos sagrados, como o vento que sopra uma versão da morte do Boca de Ouro para que outra possa ser contada”, explica o diretor Gabriel Villela.

A indumentária do protagonista traz ainda pinceladas da cultura asteca. O próprio Boca de Ouro remete a uma espécie de entidade, “governador” da civilização peculiar chamada morro.

Para tratar das diversas versões de Guigui para o assassinato do bicheiro, Gabriel Villela fez conexões com um fenômeno contemporâneo: a pós-verdade. “Estamos vivendo um momento muito particular, em que cada um cria a verdade de acordo com seu próprio interesse, publica nas redes sociais e aquilo viraliza. Isso tem tudo a ver com a maneira como a Guigui fala do homem que foi amante dela: ora com raiva, ora com ternura, ora com receio de magoar o marido apaixonado (Agenor, papel de Leonardo Ventura). Claro que, em 1959, quando Nelson escreveu a peça, não havia computador nem internet. Mas ele já sabia que quem conta um conto não só aumenta um ponto, como o adapta à sua conveniência. É muito louco como a tecnologia atualiza isso nos dias de hoje”, diz o diretor mineiro.

“Para compor o espetáculo, a gente se debruçou ainda sobre outras obras, como o filme Rashomon, de Akira Kurosawa, e as peças de Pirandello, que falam sobre esse complexo tema da verdade”, afirma Malvino Salvador.

O papel, que o ator define como o mais importante de sua carreira, já estava há algum tempo no “radar” dele. Há cerca de uma década, Malvino leu quase toda a obra de Nelson. Porém, não se achava pronto para interpretar um personagem rodriguiano.

“O convite do Gabriel despertou em mim essa coragem. Foi muito desafiador mergulhar no universo desse diretor tão consagrado, que imprime estilo não realista a suas montagens. E foi exatamente isso que ele fez em Boca de Ouro. Esse trabalho me exigiu muito, mas estou feliz com o resultado”, comemora Malvino.

O ator aponta a megalomania como o traço mais marcante do “Drácula de Madureira”. Depois de mergulhar no mundo onde o bicheiro se criou, ele diz compreender a origem desse comportamento. “O Boca nasceu na gafieira, cresceu em meio à marginalidade e se tornou o maior malandro de Madureira. Veio do nada e, de repente, tornou-se o cara mais respeitado da comunidade. Com isso, acabou se sentindo um verdadeiro deus e busca materializar isso. Criou para si mesmo uma trajetória mítica. Daí os dentes de ouro e o caixão que manda fazer, do mesmo material, para poder ser enterrado como alguém muito importante”, conclui.

BOCA DE OURO
De Nelson Rodrigues. Direção: Gabriel Villela. 
Com Malvino Salvador, Mel Lisboa, Chico Carvalho e Leonardo Ventura. Sábado (17), às 21h, e domingo (18), às 19h. Grande Teatro do Palácio das Artes. Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Plateias 1 e 2: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada). Plateia superior: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia-entrada). Vendas on-line: www.ingressorapido.com.br

'BOCA DE OURO'

No palco, três versões para o mesmo crime

Diretor Gabriel Villela incorporou novos elementos na montagem da obra de Nelson Rodrigues

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Gabriel Villela
Veterano. Gabriel Villela já havia feito versões de “A Falecida” e “Vestido de Noiva”, ambas de Nelson Rodrigues
PUBLICADO EM 16/03/18 - 03h00
O mineiro Gabriel Villela já havia se debruçado anteriormente sobre o universo rodriguiano. “No plano profissional, primeiramente fiz ‘A Falecida’ (1994), com a Maria Padilha, e, depois, ‘Vestido de Noiva’ (2009), com Marcello Antony, Leandra Leal e grande elenco”, rememora o diretor, que também se tornou conhecido por seu trabalho junto ao grupo Galpão.
Mas Villela lembra que, tendo tido Sábato Magaldi (1927-2016) como mestre, “não poderia ter ficado restrito somente às 17 peças do Nelson”. “Quem estudou com ele sabe que tinha que partir para as obras completas de Nelson Rodrigues – ‘A Vida como Ela É’, só para citar um exemplo”, explica.
E o que fascina tanto o diretor no universo do dramaturgo, morto em 1980, aos 68 anos? “Bem, ninguém fechou questão tão bem, em duas, três palavras, sobre a ética, a gene emocional e suburbana do homem brasileiro. O próprio Sábato dizia muito – e deixou escrito isso em letras colossais – que, com o advento de Nelson Rodrigues, o teatro brasileiro perde de vez seu complexo de inferioridade. Isso é uma grande verdade. Foi maior que todos nós, que nossos tempos. É verdade”, afirma.

Criação. Sobre a nova montagem de “Boca de Ouro” (o texto já foi adaptado também para o cinema), Gabriel Villela lembra que cada construção de um espetáculo, “da logística cênica, da linguagem cênica”, de alguma maneira traduz o pensamento do homem de seu tempo. “Por exemplo, ao dar três versões distintas de um mesmo fato, fomos pautados em cima do que, à época (do processo de montagem), estava então se construindo com o título de ‘fake news’ – muito embora, no caso da nossa Dona Guigui, protagonista da peça, ela dê essas versões (da morte do bicheiro Boca de Ouro) a partir de três impulsos emocionais internos, psicológicos. Muito diferente da vulgaridade das fake news de hoje, que se desmontam no dia seguinte – ou até no mesmo dia – nas redes sociais”.
O diretor lembra que, ainda no processo que precedeu a montagem, ele e companheiros de projeto leram o texto “Rashomon”, “filmado por (Akira) Kurosawa (1950), que também são três pessoas contando a história de um mesmo assassinato”. “Cada um adicionando, adulterando (a versão), bifurcando, criando uma logística com a literatura até então quase desconhecida – embora Pirandello também tenha feito isso, muito bem, no começo do século XX”, acrescenta ele.
Para Villela, a grande façanha da montagem é colocar as três mortes “dentro de três distintas formas de fazer poesia cênica”. “E a música – pungente, brasileira – costurando tudo, com tanta delicadeza, pelo canto da Mari (Mariana Elisabetsky). Ah, e também um elenco formoso, com o Malvino (Salvador) fazendo, numa primeira versão, um homem de luta, de guerra, de briga; no segundo, um lorde inglês, e, no terceiro, um deus inca”, pontua.

 

Trilha sonora

FOTO: DIVULGAÇÃO
Nana Caymmi
“A Noite do Meu Bem” (Dolores Duran, 1959)
Ouça: Nana Caymmi, em “A Noite do Meu Bem: As Canções de Dolores Duran”
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Maria Bethânia
“Vingança” (Lupicínio Rodrigues, 1951)
Ouça: Maria Bethânia, em “Memória da Pele”
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Gal Costa,
“Ave Maria no Morro” (Herivelto Martins, 1942)
Ouça: Gal Costa, em “Todas as Coisas e Eu”
FOTO: DIVULGAÇÃO
Cassia Eller
“Na Cadência do Samba” (Ataulfo Alves e Paulo Gesta, 1962)
Ouça: Cassia Eller, em “Cassia Eller”
FOTO: DIVULGAÇÃO
Waldir Azevedo
“Brasileirinho” (Waldir Azevedo, 1949)
Ouça: Waldir Azevedo, em “Os Grandes Sucessos de Waldir Azevedo”
FOTO: DIVULGAÇÃO
joão bosco
“De Frente pro Crime” (João Bosco e Aldir Blanc, 1974)
Ouça: João Bosco, em “Caça à Raposa”
FOTO: DIVULGAÇÃO
CAETANO VELOSO
“Cidade Maravilhosa” (André Filho, 1934)
Ouça: Caetano Veloso, em “Certeza da Beleza”
 http://www.otempo.com.br/divers%C3%A3o/magazine/no-palco-tr%C3%AAs-vers%C3%B5es-para-o-mesmo-crime-1.1585298