quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Divirta-se elege as melhores atrações de São Paulo em 2017



Divirta-se elege as melhores atrações de São Paulo em 2017






Redação Divirta-se
20 Dezembro 2017 | 20h10
Convidamos especialistas de diversas áreas para eleger as melhores atrações que passaram pela cidade ao longo de 2017. Confira os vencedores
O ano, como sempre, foi movimentado para a vida cultural e gastronômica de São Paulo. E estamos felizes por ter participado disso e levado até você, leitor, as melhores atrações da cidade. Em 2017, acompanhamos também a abertura de importantes espaços culturais – como o Sesc 24 de Maio, a Japan House e o Instituto Moreira Salles –, além de novos palcos para shows, como a Casa de Francisca, que se mudou para um palacete no Centro, e a Casa Natura Musical, que veio para reforçar a programação voltada à música brasileira.
Para relembrar um pouco de tudo isso, convidamos especialistas de diferentes áreas para a nossa já tradicional votação Melhores do Ano.
São oito categorias: Shows Nacionais; Shows Internacionais; Exposições; Gastronomia; Filmes Nacionais; Filmes Internacionais; Teatro Adulto; e Teatro Infantil. Os jurados enviaram votos de 1º, 2º e 3º lugar, com uma breve justificativa. Para chegar aos vencedores, foi usada a seguinte regra: a cada voto de 1º lugar, a atração ganhou 3 pontos; o de 2º lugar valeu 2 pontos; e quem ficou em 3º lugar recebeu 1 ponto.

Quando mais de uma atração alcançou a mesma pontuação final, utilizou-se como critério de desempate o número de vezes que a candidata foi citada pelos jurados. Se, ainda assim, o empate persistiu, os candidatos dividiram o pódio. A seguir, o melhor de 2017.

Em 2017, Instituto Moreira Salles abriu nova sede, na Avenida Paulista. Foto: Hélvio Romero/Estadão
SHOWS NACIONAIS
1º lugar: Caetano, Moreno, Zeca e Tom Veloso
2º lugar: Mallu Magalhães 
3º lugar: Criolo/Letrux

Show conjunto de Caetano Veloso e seus filhos vai virar DVD em 2018. Foto: Jorge Bispo
JULIO MARIA, Jornalista e crítico do ‘Caderno 2’
1º lugar: Caetano, Moreno, Zeca e Tom Veloso. Caetano se renova na essência dos filhos, sobretudo Tom e Zeca.
2º lugar: Refavela 40. Não foi só um show. Gilberto Gil em família mostrou-se feliz, leve, criativo e Soberano.
3º lugar: Mônica Salmaso. Finalmente, com o belo repertório do CD ‘Caipira’, a cantora chega ao coração.
MARINA VAZ, Editora do ‘Divirta-se’
1º lugar: Criolo. Levado ao palco, o disco ‘Espiral de Ilusão’revelou um Criolo tão à vontade com o samba quanto com o rap.
2º lugar: Mallu Magalhães. Com belas projeções ao fundo, o show mostra como a voz e a presença de palco de Mallu evoluíram.
3º lugar: Paulinho da Viola e Marisa Monte. Elegância e delicadeza em um encontro para ficar na memória.
RENATO VIEIRA, Repórter do ‘Divirta-se’
1º lugar: Caetano, Moreno, Zeca e Tom Veloso. Um show íntimo pautado pela alegria do patriarca em estar com os filhos.
2º lugar: Mallu Magalhães. Amadurecida como intérprete, ela conseguiu levar ao palco a deliciosa leveza do álbum ‘Vem’.
3º lugar: Lô Borges. Seu lendário ‘disco do tênis’ vira show competente e vigoroso depois de 45 anos.
ROBERTA MARTINELLI, Apresentadora da Rádio Eldorado e TV Cultura
1º lugar: Letrux. No show do álbum ‘Em Noite de Climão’, ela interpreta textos bem escolhidos ao lado de banda potente.
2º lugar: Tulipa Ruiz. Um novo olhar, uma nova voz e um novo som marcaram o lançamento do álbum ‘TU’.
3º lugar: Luiza Lian. Revelação com o álbum visual ‘Oyá Tempo’. Cenário e instalação funcionam muito bem
SHOWS INTERNACIONAIS
1º lugar: The Who2º lugar: PJ Harvey3º lugar: Kamasi Washington

Pela primeira vez, o The Who veio ao Brasil, emocionando fãs da banda. Foto: Wilton Junior/Estadão
JOÃO PAULO CARVALHO, Repórter do ‘Caderno 2’
1º lugar: The Who. Pete Townshend e Roger Daltrey esbanjaram vigor físico e técnico. Um show emocionante.
2º lugar: Bruno Mars. Um verdadeiro showman. Ninguém na música pop atual é mais brilhante do que ele.
3º lugar: Green Day. Coeso, o trio liderado por Billie Joe enfileirou um hit atrás do outro, comovendo os fãs.
LUCAS BRÊDA, Repórter da revista ‘Rolling Stone’
1º lugar: The Who. Com muito vigor, a banda está em melhor forma do que os veteranos acostumados a tocar por aqui.
2º lugar: PJ Harvey. A cantora hipnotizou em show do Popload Festival, focado em seus dois álbuns mais recentes.
3º lugar: Kamasi Washington. Atração do Nublu Jazz Festival, o saxofonista reuniu banda poderosa.
MARCELO COSTA, Editor do site ‘Scream & Yell’
1º lugar: Kamasi Washington. Acompanhado de uma super banda, ele fez show elegante e dançante.
2º lugar: Madeleine Peyroux. A opção pelo intimismo despiu o show de grandiosidade e entregou delicadeza e charme.
3º lugar: PJ Harvey. Ela cantou o velório do mundo, exibindo as cicatrizes de uma sociedade decadente.
PEDRO ANTUNES, Repórter do ‘Caderno 2’
1º lugar: Sigur Rós. Se entendêssemos islandês ou a língua inventada pela banda, o impacto seria outro. Menor.
2º lugar:  U2. O que a banda mostrou ao reeditar ‘The Joshua Tree’depois de 30 anos é que o mundo
segue igual.
3º lugar: PJ Harvey. No teatro, foi jogo ganho. No Popload Festival, debaixo de sol quente? Foi mágico.
EXPOSIÇÕES
1º lugar: Robert Frank
2º lugar: Di Cavalcanti / Histórias da Sexualidade / Levantes / Nelson Felix 
3º lugar: Anita Malfatti / Véio

Série ‘Os Americanos’, de Robert Frank, em cartaz no IMS até 30/12. Foto: Robert Frank
ANTONIO GONÇALVES FILHO, Editor do ‘Aliás’
1º lugar: Histórias da Sexualidade. Num ano turbulento para museus, reuniu grandes nomes, de Renoir a Francis Bacon.
2º lugar: Robert Frank. Reunião de 83 trabalhos do mítico fotógrafo suíço que melhor retratou a América dos excluídos.
3º lugar: Rubem Ludolf. Tributo a um dos maiores construtivistas do País, revisando sua obra desde 1950.
JÚLIA CORRÊA, Repórter do ‘Divirta-se’
1º lugar: Di Cavalcanti. Em retrospectiva, o olhar visionário daquele que soube tão bem retratar nossa diversidade.
2º lugar: Anita Malfatti: 100 Anos de Arte Moderna. Boa chance para elucidar todo o impacto do pioneirismo da artista.
3º lugar: Robert Frank. O primor da técnica e o olhar perspicaz do fotógrafo para uma América em transformação.
RAFAEL VOGT MAIA ROSA, Curador e crítico de arte
1º lugar: Levantes. Arte como olho da história e do espírito. O curador como pensador, através de achados e ensaios abertos.
2º lugar: Robert Frank. A técnica que a América não tinha. Uma exposição única em todos os sentidos.
3º lugar: Invenções da Mulher Moderna, Para Além de Anita e Tarsila. Um pouco de nossa melhor
arte experimental.
RODRIGO NAVES, Crítico e curador de arte
1º lugar: Nelson Felix. Um dos maiores artistas brasileiros, numa exposição de peso na Galeria e no Anexo Millan.
2º lugar: Véio – De Surpresa no Mundo. Cícero Alves dos Santos é a maior revelação da arte brasileira dos últimos tempos.
3º lugar: Francisco de Goya. As gravuras são um ponto alto desse grande pintor. Contudo, já foram vistas muitas vezes.
FILMES NACIONAIS
1º lugar: No Intenso Agora
2º lugar: Bingo / Era o Hotel Cambridge
3º lugar: Corpo Elétrico

‘No Intenso Agora’ foi produzido inteiramente com imagens de arquivo. Foto: VideoFilmes
ANDRÉ CARMONA, Repórter do ‘Divirta-se’
1º lugar: No Intenso Agora. Em tempos políticos sombrios, João Moreira Salles expõe, sensivelmente, que só sonhar não basta.
2º lugar: Bingo – O Rei das Manhãs. Irreverente e impiedoso. O ator Vladimir Brichta elevou seu status com o papel de Bozo.
3º lugar: Divinas Divas. O filme de Leandra Leal é uma afronta purpurinada à homofobia e uma ode à arte.
LUIZ CARLOS MERTEN, Crítico do ‘Caderno 2’
1º lugar: Corpo Elétrico. O mítico ‘Saída da Fábrica’, o filme fundador do cinema, acrescido de temática LGBT.
2º lugar: Era o Hotel Cambridge. Um apaixonante filme sobre os sem-teto. Estético e político.
3º lugar: No Intenso Agora. A euforia da revolução transformada em melancolia. O sonho (não) acabou.
LUIZ ZANIN ORICCHIO, Crítico do ‘Caderno 2’
1º lugar: Era o Hotel Cambridge. A diretora inova ao fazer integrantes de uma ocupação interpretarem a si mesmos.
2º lugar: No Intenso Agora. O diretor revisita antigas filmagens para refletir sobre o que fazer depois do ápice da existência.
3º lugar: Martírio. Comovente, incontornável, político, o filme denuncia o genocídio dos guaranis-caiovás.
NATHAN FERNANDES, Editor da revista ‘Galileu’
1º lugar: Bingo – O Rei das Manhãs. Quem esperaria que o lado pesado dos anos 1980 seria tão bem representado por um palhaço.
2º lugar: On Yoga: Arquitetura da Paz. Uma excelente oportunidade para conhecer a tradição indiana (e você mesmo).
3º lugar: Corpo Elétrico. O proletariado LGBT recebe destaque, e o público ganha uma narrativa original.
FILMES INTERNACIONAIS
1º lugar: PATERSON / MÃE!
2º lugar: DUNKIRK
3º lugar: BLADE RUNNER 2049

Em ‘Paterson’, o diretor Jim Jarmusch encantou com um drama sensível. Foto: Mary Cybulski
LUIZ CARLOS MERTEN, Crítico do ‘Caderno 2’
1º lugar: Dunkirk. O filme de Christopher Nolan mostra o intimismo na guerra – e também a grandeza dos derrotados.
2º lugar: Paterson. As pequenas vidas e a poesia do cotidiano são mostradas no longa. Com um extraordinário Adam Driver.
3º lugar: Além das Palavras. É possível filmar a poesia? No longa, a solidão da artista Emily Dickinson.
LUIZ ZANIN ORICCHIO, Crítico do ‘Caderno 2’
1º lugar: Paterson. O minimalismo poético de Jarmusch na história do motorista de ônibus que escreve nas horas vagas.
2º lugar: Na Praia à Noite Sozinha. O intimismo ‘Nouvelle Vague’ do diretor na história da atriz que retorna ao seu país.
3º lugar: Últimos Dias em Havana. Diretor conta com maestria a história de dois amigos na capital cubana.
MICHELE ALVES, Repórter da revista ‘Preview’
1º lugar: Mãe!. O filme é uma piada doente, uma advertência urgente e um grito de insanidade, que não veio para agradar ao público.
2º lugar: Manifesto. Camaleônica, Cate Blanchett dá um show de atuação no filme mais apaixonante de sua carreira.
3º lugar: Your Name. Filme lindamente animado e com emoção. Outra pérola na carreira do diretor Makoto Shinkai.
NATHAN FERNANDES, Editor da revista ‘Galileu’
1º lugar: Blade Runner 2049. Ressuscitar um clássico nem sempre é glorioso. A menos que você seja Denis Villeneuve.
2º lugar: Mãe!. O ano termina sem ninguém saber se ‘Mãe!’ é um filme bom ou ruim. Já vale a segunda colocação só pela dúvida.
3º lugar: Dunkirk. Nolan pega o espectador pelo pescoço e o afoga numa das melhores experiências do ano.
TEATRO
1º lugar: Boca de Ouro
2º lugar: Grande Sertão Veredas / Preto
3º lugar: O Rei da Vela

‘Boca de Ouro’, de Nelson Rodrigues, ganhou montagem de Gabriel Villela. Foto: João Caldas
CELSO CURI, Produtor cultural e crítico de teatro
1º lugar: O Rei da Vela. A atuação de Borghi é excepcional. A atualidade do texto assusta, e a encenação é forte e contemporânea.
2º lugar: Preto. Expõe, de forma contundente, questões atuais, com linguagem envolvente. Grace Passô está estonteante.
3º lugar: Ocupação Rio Diversidade. Solos escritos por talentosos dramaturgos, com atuações marcantes.
GABRIELA MELLÃO, Crítica, autora e diretora de teatro
1º lugar: Grande Sertão Veredas. Volume, cor, cheiro e afeto no sertão de Guimarães Rosa, em uma viagem de sentidos.
2º lugar: Boca de Ouro. Encenação, atuação, música, luz, figurino – tudo reluz e é ouro em peça emblemática da obra de Villela.
3º lugar: Tchékhov É um Cogumelo. Quebra-cabeça do tempo, composto por quadros vivos de rara intensidade.
JÚLIA CORRÊA, Repórter do ‘Divirta-se’
1º lugar: Boca de Ouro. O talento do elenco, na gafieira cheia de vida e cores de Villela, faz jus à sagacidade do texto de Nelson.
2º lugar: Carmen. Natalia Gonsales brilha em cena na adaptação vibrante e atual de Baskerville para o clássico francês.
3º lugar: Kiev. Alvim acerta ao dispensar proselitismo no retrato de dramas privados do totalitarismo soviético.
MARIA EUGÊNIA DE MENEZES, Jornalista e crítica de teatro
1º lugar: Boca de Ouro. O diretor Gabriel Villela mostra sua potência máxima com Nelson Rodrigues.
2º lugar: Preto. A assombrosa peça da Companhia Brasileira de Teatro, o mais maduro e significativo grupo do País.
3º lugar: Grande Sertão Veredas. Todas as cores de Guimarães Rosa surgem no palco negro de Bia Lessa.

Foto: Roberto Ramos
TEATRO INFANTIL
1º lugar: Kazuki e a Misteriosa Naomi
2º lugar: Alice no País do Iê Iê Iê / Buda / Pescadora de Ilusão
3º lugar: Gagá / Rouxinol e o Imperador Chinês / Space Invaders
DANIELA TÓFOLI, Diretora de grupo da revista ‘Crescer’
1º lugar: Buda. Produção impecável, cenário deslumbrante, trilha sonora de arrepiar e atuações contundentes.
2º lugar: Gagá. Brilha ao falar com sensibilidade sobre um tema distante para as crianças: a solidão da terceira idade.
3º lugar: Grandes Verdades num Copo Cheio de Vento. O texto torna a peça especial e, o tempo todo, o clima é de magia.
DIB CARNEIRO NETO, Editor e crítico do site ‘Pecinha É a Vovozinha!’
1º lugar: Pescadora de Ilusão. Lindo tributo a Clarice Lispector, valorizando seu jeito brincalhão de ser mãe e artista.
2º lugar: Kazuki e a Misteriosa Naomi. Nada como uma história bem contada, com lances de humor e romantismo.
3º lugar: O Dragão de Fogo. Sensível tradução cênica de fábula oriental. Incrível estudo de narrativas populares.
LINA BROCHMANN, Fundadora do site ‘bora.aí’
1º lugar: Alice no País do Iê Iê Iê. Divertido, bem produzido, fala de bullying e da importância do incentivo dos pais.
2º lugar: Rouxinol e o Imperador Chinês. Adaptação original, poética e única do conto de Hans Christian Andersen.
3º lugar: Mônica contra o Capitão Feio. Lúdico e divertido, emociona os fãs (de todas as idades) da turminha.
RODRIGOH BUENO, Curador da Associação Paulista dos Amigos da Arte (APAA)
1º lugar: Kazuki e a Misteriosa Naomi. Harmonia entre dramaturgia, direção, iluminação e elenco. Sensível e envolvente.
2º lugar: Space Invaders. O espetáculo juvenil trata este público com respeito, modernidade e muita qualidade artística.
3º lugar: Canções para Pequenos Ouvidos. Faz jus à definição de ‘para todas as idades’. Divertido e inteligente.
GASTRONOMIA
1º lugar: Evvai
2º lugar: Piccolo 
3º lugar: Tangará Jean-Georges

Ambiente do Evvai (Foto: Tadeu Brunelli)
BEATRIZ MARQUES, Redatora-chefe da ‘Revista Menu’
1º lugar: Tangará Jean-Georges. O chef francês trouxe sua grife, executada com extrema competência pela equipe brasileira.
2º lugar: Evvai. Delicadeza, criatividade e técnica apurada fazem parte da receita de sucesso, uma das boas surpresas do ano.
3º lugar: Fitó. Um ótimo representante da cozinha nordestina na cidade, com pratos acolhedores e preços amigáveis.
LUCINÉIA NUNES, Repórter do Divirta-se
1º lugar: Evvai. Ótimo voo solo do chef Luiz Filipe Souza, que faz uma comida moderna, com técnica e apresentação criativa
2º lugar: Loup. Em salões elegantes, serve uma comida deliciosa, com várias opções para compartilhar à mesa.
3º lugar: Tangará Jean-Georges. Cozinha primorosa, afinada, com pratos cheios de sabor. Mas a preços proibitivos.
PATRÍCIA FERRAZ, Editora do ‘Paladar’
1º lugar: Piccolo. Ótima comida, bons preços, lugar pra lá de simpático. Bem-vindo ao filhote do Più.
2º lugar: Bráz Elettrica. Grande sacada, ótima pizza. Tão legal que quebrou a regra de que paulistano só come pizza à noite.
3º lugar: Tangará Jean-Georges. A comida é espetacular, mas o serviço não faz jus à comida nem aos altos preços!
ROSA MORAES, Diretora de Gastronomia da Laureate
1º lugar: Piccolo. Para o jantar, o menu-degustação é excelente, com grande delicadeza e criatividade no uso dos vegetais.
2º lugar: Evvai. Cozinha autoral de um novo talento. Ele sabe aliar técnica, criatividade, beleza e o mais importante…. sabor.
3º lugar: Bráz Elettrica. Os caras sabem como fazer pizza e unir o clima cool nova-iorquino ao vibrante de Pinheiros.
http://cultura.estadao.com.br/blogs/divirta-se/divirta-se-elege-as-melhores-atracoes-de-sao-paulo-em-2017/

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Coluna do dia 14/12/17

***Últimas apresentações de “Hoje é dia de Rock” com acessibilidade***


Crédito das fotos: Kraw Penas.

***Terminam nesta semana as apresentações de “Hoje é dia de Rock”. E especialmente no dia 15 de dezembro, sexta-feira, a peça oferecerá ao público acesso aos recursos de audiodescrição e tradução em libras (linguagem brasileira de sinais). O espetáculo assinado por Gabriel Villela está em cartaz no Guairinha, de quinta a sábado, às 20h30 e domingo, às 19h. 


Hoje é dia de Rock é baseado em texto de José Vicente, estreou em 17 de novembro pelo Teatro de Comédia do Paraná, projeto do Teatro Guaíra e Secretaria de Cultura, e tem lotado todas as sessões. A trama conta a história de uma família mineira que sai do sertão para tentar a vida na grande cidade e tudo muda na vida do casal e dos cinco filhos.


DiversidArte - O programa DiversidArte da Secretaria de Estado da Cultura (SEEC) tem o objetivo de incentivar e promover ações afirmativas que sejam inclusivas e contribuam para o fim de todo tipo de discriminação.

Ao reconhecer e valorizar os grupos de culturas populares, imigrantes e aqueles historicamente discriminados, como a população negra, povos de terreiro, ciganos, indígenas, quilombolas, faxinalenses, LGBTs, movimentos de rua e idosos, defendemos suas identidades e saberes, garantindo o fortalecimento e a inserção destes grupos nas políticas públicas culturais, viabilizando a criação, a produção, a difusão e a fruição cultural.

Resultado da participação da SEEC em diferentes conselhos de proteção e defesa de direitos, o programa atende às metas do Plano Estadual de Cultura do Paraná (PEC-PR). As ações que integram o DiversidArte vão desde exposições itinerantes, que enaltecem a cultura paranaense, a projetos que contribuem com a acessibilidade de portadores de deficiência.

No elenco estão: Rosana Stavis e Rodrigo Ferrarini, Arthur Faustino, Cesar Mathew, Evandro Santiago, Flávia Imirene, Helena Tezza, Kauê Persona, Luana Godin, Matheus Gonzáles, Nathan Milléo Gualda, Paulo Henrique dos Santos e Pedro Inoue.

Ficha técnica: Hoje é dia de Rock. Texto: José Vicente. Direção, Cenografia e Figurinos: Gabriel Villela. Diretor Assistente: Ivan Andrade. Direção Musical, arranjos e preparação vocal: Marco França. Assistente de figurinos e aderecista: José Rosa. Iluminação: Wagner Correa.

Serviço: Hoje é Dia de Rock - Teatro de Comédia do Paraná Dias 14, 15, 16 (de quinta a sábado), às 20h30 e 17 (domingo), às 19h. Classificação: 14 anos Ingressos: R$ 20,00 Dia 15 – apresentação com acessibilidade Intérpretes de Libras: Lorena Baika e Tânia Lisboa Audiodescrição: Maria Lucia Daldegan Apoio: Cris Lemos. Pessoas interessadas na audiodescrição devem entrar em contato com o departamento de Produções Artísticas do CCTG pelo telefone (41) 3304-7918.http://colunapersonalidades.blogspot.com.br/2017/
***Últimas apresentações de “Hoje é dia de Rock” com acessibilidade***

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxRUDVIjZXYeMKhVGimpbpReewc6k88UVhwbklmhLb539PEdqF3SwffvF_5mg-i1wAIe3gyBH6-tH3-kl_HWXPjGjubDcBhywu5KlIFCcZLw6jQjUlyAmwCSOo-0M-B7f6Gj2GfT2GDxyD/s640/TCPHojeeDiadeRockfoto5KrawPenas.jpg

Crédito das fotos: Kraw Penas.

***Terminam nesta semana as apresentações de “Hoje é dia de Rock”. E especialmente no dia 15 de dezembro, sexta-feira, a peça oferecerá ao público acesso aos recursos de audiodescrição e tradução em libras (linguagem brasileira de sinais). O espetáculo assinado por Gabriel Villela está em cartaz no Guairinha, de quinta a sábado, às 20h30 e domingo, às 19h. 
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiU-PMULRvnqPFPLo4NpLMYbbP8n-4BymEWb0dSENNuy-GyQCtdQDxTfxXM95m966CLMwgaVsgHUoFxqIclu_GYkuWDv7q7azSc_T4QgiHc_uumR17r-J95hcu7UXqZSVpmCJiNSVFt7qrf/s640/TCPHojeeDiadeRockfoto3KrawPenas.jpg

Hoje é dia de Rock é baseado em texto de José Vicente, estreou em 17 de novembro pelo Teatro de Comédia do Paraná, projeto do Teatro Guaíra e Secretaria de Cultura, e tem lotado todas as sessões. A trama conta a história de uma família mineira que sai do sertão para tentar a vida na grande cidade e tudo muda na vida do casal e dos cinco filhos.
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DiversidArte - O programa DiversidArte da Secretaria de Estado da Cultura (SEEC) tem o objetivo de incentivar e promover ações afirmativas que sejam inclusivas e contribuam para o fim de todo tipo de discriminação.

Ao reconhecer e valorizar os grupos de culturas populares, imigrantes e aqueles historicamente discriminados, como a população negra, povos de terreiro, ciganos, indígenas, quilombolas, faxinalenses, LGBTs, movimentos de rua e idosos, defendemos suas identidades e saberes, garantindo o fortalecimento e a inserção destes grupos nas políticas públicas culturais, viabilizando a criação, a produção, a difusão e a fruição cultural.

Resultado da participação da SEEC em diferentes conselhos de proteção e defesa de direitos, o programa atende às metas do Plano Estadual de Cultura do Paraná (PEC-PR). As ações que integram o DiversidArte vão desde exposições itinerantes, que enaltecem a cultura paranaense, a projetos que contribuem com a acessibilidade de portadores de deficiência.

No elenco estão: Rosana Stavis e Rodrigo Ferrarini, Arthur Faustino, Cesar Mathew, Evandro Santiago, Flávia Imirene, Helena Tezza, Kauê Persona, Luana Godin, Matheus Gonzáles, Nathan Milléo Gualda, Paulo Henrique dos Santos e Pedro Inoue.

Ficha técnica: Hoje é dia de Rock. Texto: José Vicente. Direção, Cenografia e Figurinos: Gabriel Villela. Diretor Assistente: Ivan Andrade. Direção Musical, arranjos e preparação vocal: Marco França. Assistente de figurinos e aderecista: José Rosa. Iluminação: Wagner Correa.

Serviço: Hoje é Dia de Rock - Teatro de Comédia do Paraná Dias 14, 15, 16 (de quinta a sábado), às 20h30 e 17 (domingo), às 19h. Classificação: 14 anos Ingressos: R$ 20,00 Dia 15 – apresentação com acessibilidade Intérpretes de Libras: Lorena Baika e Tânia Lisboa Audiodescrição: Maria Lucia Daldegan Apoio: Cris Lemos. Pessoas interessadas na audiodescrição devem entrar em contato com o departamento de Produções Artísticas do CCTG pelo telefone (41) 3304-7918.
colunapersonalidades.blogspot.com/2017/

CATEGORIA: ESCRITOS

eu também espero uma linguagem

a partir de um recorte de Hoje é dia de rock[1]
fotografia de Vitor Dias.
a feitura desse texto é atravessada por uma breve troca de mensagens com
Cesar Matthew, ator que intepreta Valente, na peça em questão.
alguns trechos desse texto são entrecortados pela dramaturgia
de 
Hoje é dia de rock – há uma versão online aqui
valentia
1 qualidade do que é valente, corajoso, intrépido; valor, coragem, audácia.
2 qualidade do que tem energia, força, vigor.
3 capacidade de agir energicamente, com decisão, seriedade.
4 qualidade do que é resistente, forte.
5 ato praticado com coragem, intrepidez.
Escrevo de dentro da armadilha. A partir de uma emboscada. A partir das imagens e discursos que criaram sobre nós. Bichas.
Escrevo sobre o perigoso gesto de tentar falar em nome de uma ideia de coletividade extremamente heterogênea, unida pelo rastro de violência, especialmente nessa parte do globo: colonizada e genocida.
Escrevo no interior de uma dupla emboscada: a partir dos discursos e imagens que nós mesmos criamos.
Escrevo para saber de você como é que lida(re)mos com as coisas (coisas) que eles criaram.
Escrevo sem respostas.
esse texto começa quando me disseram que aqui, antes do período colonial,
a sexualidade não encontrava a distinção homofóbica com a qual operamos
esse texto começa quando me disseram que o primeiro índio morto no brasil
teve sua morte espetacularizada ao ser amarrado a um canhão[2]
esse texto começa quando se aceita que a ideia de pecado, solidão
e família é necessariamente colonial
esse texto começa quando na porta do teatro eu ouvi
“que bom que tem a bicha para dar uma animada na platéia”
esse texto começa quando em frente ao guairinha dois garotos
sofreram um ataque homofóbico em 2015
(eles também usavam saias)

Escrevo tentando assegurar e amparar os estigmas e estereótipos que nos aplanam, que supostamente arrancam de nós a complexidade – o privilégio de ser complexo – e nos direcionam a imaginários eufóricos ou suicidas.
Escrevo querendo, ao mesmo tempo, desvendar e tornar possível a imagem risível: a imagem em convulsão – por isso, uma imagem que vive, uma imagem que respira, sente, chora e sangra.
Escrevo para que a bicha seja gargalhável sempre que quiser – mas escrevo, antes de tudo, para que ela gargalhe. Viva.
Escrevo porque quero que a imagem risível seja uma escolha lúcida, não um caminho fácil, não um caminho repetível, um atalho, um trajeto que se faz no automático, atribuído por um sistema que não necessariamente se interessa pela autonomia de uma subjetividade, mesmo que em um âmbito representacional.
Escrevo porque quero que a imagem risível dobre, gire e quebre – que ela esteja em cacos, que ela seja difícil, com um percurso que nos permita ir-testando ir-juntando até atingir uma espécie de certeza, uma espécie de firmeza: uma valentia (“para estilhaçar a ditadura da imagem e os preconceitos a ela vinculados”, como é apresentada a trajetória de Virginie Despentes em Teoria King Kong).
Escrevo porque a imagem da bicha vibra e aponta vetores de dubiedade: um falso problema? um recurso retórico? uma bobagem? uma chatice minha? uma loucura na qual estou preso? uma repetição desnecessária? uma continuidade inevitável? uma invenção coletiva? uma ordem das hierarquias inerentes ao fazer artístico? uma criação processual? uma representação? a minha vida? teatro?

Valentia: rir, permitir o riso.
Valentia: deixar de rir, parar o riso.
Valentia: desvendar o riso.
Valentia: segurar na mão, o som e o público.
Valentia: preencher.

1 DE DEZEMBRO DE 2017 12:28
Francisco Mallmann
cesar, querido. estou escrevendo.
não posso dizer que estou escrevendo sobre ‘hoje é dia de rock’, porque penso e escrevo a partir de um recorte da peça. talvez possa ser frustrante te dizer que estou escrevendo “sobre a peça”, de um modo abrangente. enfim, de todo modo, eu queria te fazer uma pergunta que, ao mesmo tempo, é e não é sobre isso. e se você quiser, pode me responder.

o que é ser uma bicha latinoamericana?

Escrevo como uma interlocutora, parceira, uma-bicha-que-escreve.
Escrevo porque há uma dramaturgia anterior (sempre há uma dramaturgia anterior).
Escrevo porque o “Dramaturgo José Vicente foi Rimbaud do Brasil”[3] e tratou sobre a homossexualidade de homens em mais de um dos seus textos.
Escrevo porque se escolhe fazer teatro (sempre há um teatro anterior).
Escrevo porque se fazem escolhas (e fazer escolhas é escolher habitar, tocar, trocar, manusear sensibilidades e o sensível).
Escrevo porque há diretores, diretoras, dramaturgos, dramaturgas, atrizes, atores, técnicos, parceiros, artistas, públicos,  instituições e Estados (onde é que terminam e começam?).
Escrevo porque existem acordos, demandas, metodologias, treinos, testes, exercícios, processos e fotografias de divulgação (marcas e ensaios).
Escrevo porque “um sucesso da década de 1970” foi remontado na cidade em que nasci, vivo e crio.
Escrevo porque antes de chegar ao teatro as pessoas caminharam, se locomoveram, saíram de lugares,  andaram pela rua, pegaram ônibus, pedalaram, viveram suas vidas e talvez tenham corrido riscos: eu não sei que vidas são essas – algumas eu conheço, outras não.
Escrevo porque proponho uma leitura idiossincrática das possibilidades de vivências sexuais e de gênero – aqui, penso especialmente a partir de uma identidade de gênero “bicha” em que o próprio uso do termo “bicha” aponta especificidades[4].
Escrevo pelas personagens e figuras estranhas nos espetáculos, nesse espetáculo – pelos deslocamentos vitais que dissidências (tenho pensado sobre essa palavra e ainda não encontrei substituta) podem promover.
Escrevo porque a própria noção de “espetáculo” faz necessário que existam “seres espetacularizados” – mas quem pode ser espetacular? em que contexto? de que modo? com quais contornos? quais as abordagens dessa espetacularização?
Escrevo porque há a linguagem. O desenvolvimento, o tencionamento e a morte da linguagem.
Escrevo porque nesta dramaturgia alguém diz: “vem que eu espero tua linguagem” e eu compartilho desse chamamento. Eu também espero uma linguagem, como quem cria música. Eu também me pergunto “Que palavras ainda lhes faltam? O que necessitam dizer?” como Audre Lorde fez.
Escrevo porque um elenco branco evoca uma dramaturgia que, em dado momento, diz “nós somos índios”.
Escrevo porque é a bicha quem tem nojo de pobres e detesta “caipirismo” nessa família.
Escrevo porque a única mulher negra na peça é uma personagem cigana, hiperssexualizada, inserida em uma encenação que a faz entrar em cena, na maior parte das vezes, para sentar no colo de um homem que a chama incessantemente de “irmãzinha” (me reviro à atriz Flávia Imirene, e essa não é uma colocação sobre a qualidade de sua atuação, definitivamente – é outra a abordagem)

Meus silêncios não tinham me protegido[5].

Escrevo porque uma bicha se chama Valente. Valente. Porque a ela foi solicitada a língua presa e porque foi a única a ser aplaudida em cena aberta na noite em que estive no teatro. Porque dela se riu, até que fosse perdido o ar.
Escrevo porque Valente também começou “a escrever cartas para pessoas imaginárias” quando brincava “como uma criança obcecada, que recebeu uma flechada e saiu sangue”.
Escrevo uma carta para alguém imaginário enquanto sangro, tal qual dramaturgia.
Escrevo porque quando Valente se desloca do fundo do palco até a frente, um susto me ocorre, um medo, um desejo estranho de salvá-lo ao mesmo tempo que quero segurar sua mão, me expor, ao seu lado, em constrangimento. Pois que sejamos multidão.
Escrevo porque quando dança Valente, ao som de duas vozes, ao som de mulheres que cantam, español, eu danço e choro  junto/com/ao lado, uma mesma dança perturbada.
Escrevo sobre os sonhos e desejos da dupla Valente-Isabel: casar com o Elvis, namorar o mecânico, ser um imperador asteca, ir com algum garoto para trás da igreja, morrer na merda. Fugir. Fugir. Fugir. Fugir. Para que descubram só amanhã.

quais são as relações por meio das quais uma bicha se torna uma bicha risível?[6] ou o antônimo disso? atribuímos isso a ela? ao outro? 
qual dramaturgia – horizonte mundo sentido – me permite ser/ver uma bicha sonhadora-fugitiva?
quem ampara ou ridiculariza esse ser? o que o torna ridicularizável ou amparável?
quem o torna “isto” ou “aquilo”?
que narrativa é essa? e por que hoje – agora?
qual nosso interesse em re-avivar ideias de família, propriedade, liberdade e gênero, entendendo os deslocamentos, as contínuas mudanças históricas e as projeções que se fazem de um amanhã? 

esse texto não compreende por normalidade relações heterossexuais
envolvendo procriação e monogamia
esse texto compreende que há uma ideologia de gênero imperando
há muito tempo em nossas relações sociais
uma noção de gênero e sexo que é heterossexual, machista, homofóbica,
racista e colonial
esse texto acha que, de algum modo, para eles, a culpa vai ser sempre
da bicha (da outra): se ela for risível, sofrível, inteligente ou burra, pobre ou rica,
a culpa vai ser sempre dela
esse texto se pergunta como é possível que algumas pessoas 
se permitam ver certas coisas no palco mas não se permitam ver certas coisas na rua

Escrevo distante da polícia – no entanto, sei que tropeço em uma ideia de proteção, de atenção, em uma ideia ativa de cuidado, que é ruidosa e polifônica, que pode parecer monitória.
Escrevo porque preciso saber se não estou reproduzindo qualquer tipo de coerção violenta. É só uma bicha, no teatro, afinal. Deixa ela. Tudo está “lindo”. Tudo está “poético” e “primoroso”. 
Escrevo porque preciso usar o verbo fazendo a autocrítica – o quanto desses indícios que trago à tona são de minha responsabilidade? O quanto a minha cognição e meu desejo de desdobramento quer se aproximar ou se afastar de coisas, deliberadamente? Quem recorta sou eu.
Escrevo a partir da bicha e, por isso, necessariamente escrevo sobre a mulher, o homem, a mãe e o pai, os irmãos, a irmã, a cunhada, os frequentadores de um bar. Escrevo sobre a bicha porque escrevo sobre o mundo e sobre o modo como ele nos permite viver ou morrer. Escrevo a partir da bicha por isso escrevo sobre estética, política e vida. Escrevo sobre a bicha porque escrevo sobre tudo.
Escrevo curioso para saber o quanto andam pensando por aí sobre as coisas que fazem, as imagens e conhecimentos que se produzem e/ou reproduzem ao criar. Escrevo para saber quem vive no interior das decisões.
Escrevo para saber o que querem dizer em 2017 com “realidade” “brasil” “índio”, em se tratando de uma construção discursiva que envolve o “apagamento de um tempo” – o mesmo slogan para aqueles que lutam contra o fascismo e para os que são, de fato, fascistas. O apagamento de um tempo é tudo o que sabemos fazer no Brasil, ao que parece – índio escravidão ditadura: palavras que nos recordam isso: “o apagamento de um tempo”, vários tempos encadeados.
Escrevo para descobrir se “apagar um tempo” estando dentro dele não é também convocar o próprio apagamento: quem apaga? quem pede para apagar? quem é apagado? por quê?
Escrevo depois de já ter compartilhado algumas dessas ideias que registro aqui de forma processual com outro artista e ter ouvido: “acho que as pessoas não querem saber disso, por que não fala das músicas, tão bonitas? do figurino colorido?”  como se questões pudessem ser apagadas com cor e som. “Será que não podemos só rir um pouco?“, ele também disse como se eu estivesse boicotando o riso ao invés de  um desejo de entendê-lo (o que já demonstra, em si, um interesse e uma valoração). Como se essa abordagem fosse uma afronta ou uma bobagem – como se a bicha não fosse parte integrante e fundamental na construção narrativa, de sentido e imagética que a mim se apresenta.
Escrevo no ano em que falei publicamente sobre uma outra peça, que considero transfóbica e me foi sugerido “assistir peças como uma folha em branco, sem tantos preconceitos, se deixar emocionar sem tantas amarras”.
Escrevo porque
não sou
não serei
não quero ser
não posso ser
uma folha em branco.

– Então me diz ‘vai!’. Eu preciso de alguém que me diga ‘vai!’

Criação de contexto – n.1 
Como é que poderemos usar saias e nomear seus tecidos?
Como é que gritaremos – e como é que pararemos de gritar?
Como é que criaremos um terreno para dançar?
Sonharemos com impérios incas?
Desmaiaremos em reuniões familiares?
Leremos mãos mesmo sem saber ler mãos?

Criação de contexto – n.2
Como é que poderei usar saias e nomear tecidos?
Como é que gritarei – e como é que pararei de gritar?
Como é que criarei um terreno para dançar?
Sonharei com impérios incas?
Desmaiarei em reuniões familiares?
Lerei mãos mesmo sem saber ler mãos?

Criação de contexto – n.3
 (Fomos cuidadosamente ensinadas a odiar a nós mesmas)[7]
Desde o princípio dos tempos, o mundo foi inspirado pelo trabalho de artistas queer. Em troca, houve sofrimento, dor e violência. Ao longo da história, a sociedade travou uma batalha contra os seus cidadãos e cidadãs queer: elas devem seguir carreiras criativas, contanto que discretamente. Através das artes, as queer são produtivas, lucrativas, entretém e até são capazes de inspirar. Estes são os mais claros e úteis subprodutos daquilo que, do contrário, é considerado um comportamento antissocial. Nos círculos culturais, as queers podem coexistir tranquilamente com uma elite que, de outro modo, as abomina.[8]
(Permita-se sentir raiva do fato de que não há lugar neste país onde estejamos seguras, nenhum lugar onde não somos alvo do ódio e do ataque, do nosso próprio desprezo, do suicídio – do armário)[9]

Criação de contexto – n.4
Fomos educadas para respeitar mais ao medo do que a nossa necessidade de linguagem e definição, mas se esperamos em silêncio que chegue a coragem, o peso do silêncio vai nos afogar. O fato de estarmos aqui e que eu esteja dizendo essas palavras, já é uma tentativa de quebrar o silêncio e estender uma ponte sobre nossas diferenças, porque não são as diferenças que nos imobilizam, mas o silêncio. E restam tantos silêncios para romper![10]

1 DE DEZEMBRO DE 2017 13:24
Cesar Mathew
Oi Chico!! Entendo sim, claro!! Fico muito feliz que você esteja escrevendo!!!
Irei responder partindo do Valente e onde isso dialoga com o que eu acredito. Eu penso por exemplo que a cena da despedida e do choro dele é ao mesmo tempo o adeus da família mas também o choro da bixa latina, que tem duas peninhas pra defender ela do mundo e faz disso sua armadura, mesmo que seja para sobreviver só até a próxima esquina, então que seja assim, do jeito que ela é! Pra mim a bixa latina chora a dor e a alegria de ficar de pé em terras sucateadas, são séculos e séculos de pura extorsão do velho continente mas o que incomoda mesmo é se ela usar um salto alto ou falar mole, dentro de toda solidão latina está a bixa lutando e batendo asas.

será que eu deveria estar contente já que há, pelo menos, uma bicha?
será que é motivo de comemoração uma bicha entre muitxs heterossexuais?
será que a minha leitura é classista e branca?
será que uma equipe com integrantes gays nos imuniza dessas questões?
será que isso é considerado uma possibilidade de recirculação de gênero?[11]
será uma prática subversiva que questiona a própria ideia de identidade?
será que é uma identidade surgindo da ruína?
será que o fato do ator ser bicha torna tudo diferente?
será que o deslocamento histórico justifica?
será que se considera atual?
será que é preciso ler como um entendimento datado?
será que o governador assistiu e gostou?
será que ela está tirando um sarro de tudo?
será que ela está rindo de todo mundo?
será que ela guarda uma certeza de que isso tudo é uma bobagem?
será que ela está além dessas discussões?
será que ela acha isso tudo uma chatice?
será que ela percebe essas relações ao seu redor?
será que ela se entende como parte do entretenimento?
será que o gráfico dramático da bicha explica tudo?
será que a dramaturgia dela a torna heroína?
será que a dramaturgia dela a torna vítima?
será que a fuga é salvação? redenção? única possibilidade? liberdade? desfecho trágico? começo de outra coisa que o público não vê?
será que ela é uma experiência estética?
será que eu estou inventando coisa?
será que eu estou me passando?
será que as pessoas a amam por fetiche?
será que as pessoas a adoram como adoram um animal fofinho?
será que é assim que tem que ser uma bicha em um teatro “popular”?
será que elas aplaudem uma personagem?
será que no fim as pessoas sempre dão as mãos e saem dançando?
será que as pessoas ririam dela fora de cena?
será que as pessoas a aplaudem na rua?
será que a arte nos proteje?
POR QUE A BICHA NÃO PODE SER SANTA?
POR QUE A BICHA NÃO PODE PARECER JESUS CRISTO?
POR QUE A BICHA PRECISA SER SANTA?
POR QUE A BICHA PRECISA PARECER JESUS CRISTO?
POR QUE A BICHA QUER SER SANTA?
POR QUE A BICHA QUER PARECER JESUS CRISTO?

A radicalidade de um outro estatuto: outra maneira de se aproximar, dizer palavras, imaginar a vida – se referir à mesma dignidade com a qual identificam-se outros agentes. Vem que eu espero tua linguagem se tornando Eu crio uma linguagem se tornando Eu sou uma linguagem. Trocar a espera por atuação – inscrição de palavra, gesto, corpo, discurso: voz, língua, código, operação: pensamento. Outro. Me sento nas poltronas vermelhas e não quero dizer nada nunca mais. Penso nisso só amanhã. Mas não posso. Eu quero descansar – eu quero esquecer os nomes das violências específicas. Mas não posso. Quero parar de medir e tecer comparações[12]. Esquecer. Tirar da pele a História e as histórias. Arrancar. Mas não posso. Eu quero uma poesia que destrói para poder re-fazer. Construir muros para destruí-los. Eu sei sobre a descontextualização que posso estar aplicando – uma assimetria com ímpetos discursivos, reflexivos: críticos (dizem que não é isso o que faço, que não é isso o que sou). Eu sei que podem usar a palavra “desonestidade”. De um lado: nossas discussões seguem sendo setentistas – de outro: sinto sono. A vertente nostálgica – a quem? A saudade: a quem? “E quem é que quer ter saudade? Saudade do que? Da vida colonial?”[13]. Eu entendi. A fabulação. O cânone – o contra-canône. O realismo fantástico. A fronteira, o país, a cidade, as pedras, o caminho. Eu entendi a metáfora. Nada disso real: r-e-a-l. Eu entendi. Dois anos em cartaz. Real. Exatamente isso, um país, a cidade, estado, vida: trajeto. Pedra. Trilha sonora. Uma dramaturgia do dramaturgo censurado pela ditadura. Contexto: antes da aids. Tomar posição: não saber. Como é que se avança? Identificar as minhas ignorâncias e hábitos. Deixar que falem. Deixar que exista. Deixar ser confuso. E depois: enlouquecer. Começar os debates falando sobre saúde mental. Sobre a loucura – falando dela, com ela, ao lado ou dentro dela. Sobre a não imunidade de todos os tempos, especialmente este, em que insisto em abrir a boca. Falando contra os esconderijos. Contra a ingenuidade. Ser ingenuamente contra a ingenuidade. Falar sobre cinismo. Sobre as imagens que criei com as imagens existentes. Falar das subjetividades exaltadas, anárquicas e barulhentas em uma paisagem embrutecida. Falar arte como quem diz ação. Falar teatro como quem diz posicionamento. Falar música como quem diz garganta. Gritar. Ter, ao mesmo tempo, menos e mais paciência. Ouvir as explicações. Muito bem, muito bem, vocês estão com a razão – estou sendo radical. Desconfiar: como é que você pode me colocar em uma situação-outra? Como você me leva adiante? Como me tira e me devolve do mundo? Da calçada? Da cidade? Do teatro? Do meu corpo? Da minha comunidade, antes de tudo, estética. Não falo sobre beleza, assim, be le za. É bonito, é claro que sim. O Cesar. Valente, dizendo coisas. Não é sobre isso. É bonito. É sobre dizer. Sou eu. Dizer. Um espaço em que cada pessoa mantinha uma cumplicidade de olho e de traje, uma com a outra. E tinha rituais, que no fundo eram exorcismos, mas a gente não dizia dizia. A gente dizia. A gente diz.

Valentia: dizer.

__________________________________
[1] Texto: José Vicente. Direção, Cenografia e Figurino: Gabriel Villela. Diretor Assistente: Ivan Andrade. Direção Musical, arranjos e preparação vocal: Marco França. Assistente de figurinos e aderecista: José Rosa. Iluminação Wagner Correa. Fotos: Vitor Dias. Elenco: Rodrigo Ferrarini, Rosana Stavis, Arthur Faustino, Cesar Mathew, Evandro Santiago, Flávia Imirene, Helena Tezza, Kauê Persona, Luana Godin, Matheus Gonzales, Nathan Milléo Gualda, Paulo Marques, Pedro Inoue. A peça estreou no dia 18 de novembro e será apresentada até dia 17 de dezembro, de quinta-feira a sábado, às 20h30 e domingo, às 19h.
[2] 
Leia Aqui
[3] Leia Aqui
[4] Leia Aqui
[5] Audre Lorde, A Transformação do silêncio em linguagem e ação
[6] Em referência a questão elaborada por Gayle Rubin no texto O tráfico de mulheres: “Quais são, então, essas relações por meio das quais uma mulher se torna uma mulher oprimida?”.
[7] Manifesto Queer Nation 
Leia Aqui
[8] Manifesto Queer Nation
[9] Manifesto Queer Nation
[10] Audre Lorde, A Transformação do silêncio em linguagem e ação
[11] “Mesmo que construtos heterossexistas circulem como lugares praticáveis de poder/discurso a partir dos quais se faz o gênero, persiste a pergunta: que possibilidades existem de recirculação? Que possibilidades de fazer o gênero repetem e deslocam, por meio da hipérbole da dissonância, da confusão interna e da proliferação, os próprios construtos pelos quais os gêneros são mobilizados?” Judith Butler, Problemas de gênero.
[12] “Nuestro código de valores, nuestras pautas de conducta, todo lo que hacemos y pensamos, lo queramos o no, siempre lo medimos a la luz de planteamientos y propuestas éticas heteronormativas, procedentes de ámbitos tan homofóbicos como la iglesia, la religión, la filosofía, la escuela, la universidad, la política, los partidos, la cultura, el cine y todos los discursos morales que las instituciones proclaman a los cuatro vientos para impregnar poco a poco a las masas desde pequeñitos”. Paco Vidarte, Ética marica
[13] Bernardo Carvalho, Reprodução.

Malvino Salvador e Mel Lisboa apresentam “Boca de Ouro” em Campinas

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http://www.viracopos.info/wp-content/uploads/2017/12/JC170629_324019ok.jpg© João Caldas Fº
Grande clássico de Nelson Rodrigues, com direção de Gabriel Villela, o espetáculo terá apresentações nos dois primeiros fins de semana de novembro (de 3 a 12, de sexta a domingo), no Teatro Iguatemi.
“Boca de Ouro”, tragicomédia que narra em retrospecto a vida de um bicheiro carioca – temido e megalomaníaco, que tem esse apelido porque trocou todos os dentes por uma dentadura de ouro – terá seis apresentações em novembro (entre os dias 3 e 12, de sexta a domingo), no Teatro Iguatemi.
No elenco, Malvino Salvador, Mel Lisboa, Cláudio Fontana, Lavínia Pannunzio, Leonardo Ventura e Chico Carvalho. A direção é de Gabriel Villela. As apresentações serão às 21h nas sextas-feiras, às 21h30 aos sábados e às 19h aos domingos. A produção é da Brain+ GT.
Os ingressos custam R$ 50,00 (inteira) e R$ 25,00 (meia) no primeiro lote e R$ 100,00 (inteira) e R$ 50,00 (meia) no segundo e podem ser adquiridos pelo site www.ingressorapido.com.br ou na bilheteria do teatro, de segunda a sábado, das 10h às 22h e, aos domingos, das 12h às 20h (Av. Iguatemi, 777 – Vila Brandina – 3º piso do Shopping Iguatemi Campinas).
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Sobre a Peça
Boca de Ouro (Malvino Salvador) é um lendário bicheiro carioca que ganhou esse apelido porque trocou todos os dentes por uma dentadura de ouro. Depois de ser assassinado, ele tem o passado investigado por um repórter. A fonte das informações sobre a vida dele é a dona Guigui (Lavínia Pannunzio), a volúvel ex-amante do contraventor e uma mulher que, ao longo da peça, revela diferentes versões do bicheiro.
Mel Lisboa e Claudio Fontana fazem o casal Celeste e Leleco. Leonardo Ventura interpreta Agenor, fiel e apaixonado marido de Guigui. Chico Carvalho é Caveirinha, o repórter que carrega o olhar afiado e crítico do dramaturgo-jornalista. Chico também interpreta a grã-fina Maria Luisa. Cacá Toledo e Guilherme Bueno completam o elenco. Jonatan Harold assume o piano oferecendo a ambiência musical para Mariana Elisabetsky interpretar canções imortalizadas por Dalva de Oliveira (1917-1972).
Além da direção, Gabriel Villela criou os figurinos e a cenografia. A iluminação é de Wagner Freire, a direção musical e preparação vocal são assinadas por Babaya e a espacialização e antropologia da voz por Francesca Della Monica. Os diretores assistentes Ivan Andrade e Daniel Mazzarolo formam a equipe criativa.
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Cenário
As diferentes narrativas de Dona Guigui são exploradas pelo diretor de forma muito diversa. A cada nova versão da história é ressaltado o espaço arquetípico convergente, como o salão circular de uma gafieira ou um ciclo de vida que se encerra.
Inspirado no subúrbio carioca, Gabriel Villela se utiliza da simbologia do candomblé e das máscaras astecas no espetáculo. A casa de Celeste e Leleco traz muitas representações de orixás sincretizados. A figura de Iansã (Guilherme Bueno), faz a contrarregragem das mortes da história, aparecendo toda vez que uma cena fatídica acontece.
O Brasil cabe todo nesta arena: a política, as narrativas contraditórias, a libido, a festa da gafieira, o jogo do bicho, a fé e a música. Retratos de uma época que mostra um Brasil que pouco mudou e também que o dramaturgo pernambucano, nascido em 1912, nunca foi tão atual.
Ficha Técnica
Texto: Nelson Rodrigues.
Direção, Cenografia e Figurinos: Gabriel Villela.
Elenco: Malvino Salvador, Lavínia Pannunzio, Mel Lisboa, Claudio Fontana, Chico Carvalho, Leonardo Ventura, Cacá Toledo, Mariana Elisabetsky, Jonatan Harold e Guilherme Bueno.
Iluminação: Wagner Freire.
Direção Musical e preparação Vocal: Babaya.
Espacialização vocal e antropologia da voz: Francesca Della Monica.
Pianista: Jonatan Harold.
Diretores assistentes: Ivan Andrade e Daniel Mazzarolo.
Foto: João Caldas Fº.
Produção executiva: Luiz Alex Tasso.
Direção de produção: Claudio Fontana.
Duração: 100min.
Classificação: 14 anos.
Acessibilidade: gratuidade a portadores de deficiência
Serviço
Local: 
Teatro Iguatemi (Av. Iguatemi, 777 – Vila Brandina – 3º piso do Iguatemi Campinas)
Data: de 3 a 12 de novembro (sextas, sábados e domingos)
Horário: sextas às 21h; sábados às 21h30 e domingos às 19h.
Informações: (19) 3294-3166 – www.teatrogt.com.br
Ingressos
Primeiro lote:
 R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia-entrada)
Segundo lote: R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia-entrada).
Vendas: Bilheteria do Teatro (de segunda a sábado das 10h às 22h | domingo das 12h às 20h)
Pela internet: www.ingressorapido.com.br
Ateliê da Notícia
Jornalista responsável: Vera Longuini
Cel (19) 9 9771-6735 – Vivo
Atendimento: Caroline Magalhães
Redação: (19) 3252-9385
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NA PLATEIA

Tudo sobre teatro

As dez melhores peças do ano de 2017 em São Paulo

A ótima temporada teve entre os destaques "Grande Sertão: Veredas", "Marte, Você Está Aí?", "Imortais", Gerald Thomas, Gabriel Villela e Zé Celso

access_time19 dez 2017, 18h17 - Publicado em 19 dez 2017, 18h11
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Luisa Arraes, Leon Góes e Caio Blat junto ao elenco de Grande Sertão: Veredas (Roberto Pontes/Veja SP)
Grande Sertão: Veredas, direção de Bia Lessa
Ausente do teatro há quase uma década, Bia Lessa adaptou e dirigiu a monumental versão do romance de Guimarães Rosa para o palco. A história do jagunço Riobaldo (interpretado por um ótimo Caio Blat) é revelada em meio a grandiosas batalhas entre pistoleiros inimigos. O amor reprimido pelo colega Diadorim (representado por Luiza Lemmertz) intriga o espectador, assim como sua sede de vingança contra o vilão Hermógenes (papel de Leon Góes). A mão delicada de Bia se reflete em passagens ousadas, como a cena de sexo protagonizada pela atriz Luisa Arraes e por Blat.
Marte, Você Está Aí?, direção de Gabriel Fontes Paiva
No novo drama, a autora Silvia Gomez se conecta com a atualidade brasileira sem abrir mão de personagens de refinada psicologia e propícios a entendimentos diversos. Militante política em décadas passadas, uma mulher de meia-idade (interpretada por Selma Egrei) parece mais preocupada em marcar presença em recepções e com as cores das roupas que veste. A filha (papel de Michelle Ferreira) não compreende como a mãe, com um passado contestador, adotou a futilidade. O desaparecimento da jovem, depois de participar de uma manifestação, leva a mulher, a contragosto, a rever a própria história e a estabelecer ligações com os dias de hoje. Jorge Emil completou o elenco.
Imortais, direção de Inez Viana
O ótimo drama trouxe o autor Newton Moreno na sua melhor forma desde o sucesso de Agreste, em 2004. As tradições e crendices do povo nordestino aparecem conectadas a uma polêmica contemporânea tratada de maneira sublime. A trama centra o foco em uma viúva conservadora (interpretada por Denise Weinberg) que, sofrendo de uma doença terminal, se instala em um túmulo próximo ao do marido para esperar a morte. O sossego é interrompido pelo retorno da filha rebelde (a atriz Michelle Boesche), afastada de casa há seis anos, ao lado do noivo (representado por Simone Evaristo), uma mulher em processo de transformação para homem trans.
Carmen, direção de Nelson Baskerville
Com dramaturgia de Luiz Farina baseada no romance de Prosper Mérimée, a peça promove um oportuno diálogo referente aos dias de hoje. Afinal, só pela originalidade faz sentido promover a nova leitura de uma história tão revisitada. Desta vez, a personagem ganha o corpo e a alma da atriz e bailarina Natalia Gonsales. A encenação propõe o ponto de vista de José (papel de Flávio Tolezani) atrás das grades, remontando o quebra-cabeça que o privou da liberdade. Carmen também defende sua identidade e abre espaço para o debate em torno do feminismo e da banalização da violência contra a mulher. Vitor Vieira também está no elenco.
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Natalia Gonsales e Flavio Tolezani: Carmen dialoga com os dias de hole (Ronaldo Gutierrez/Divulgação)
O Rei da Vela, direção de Zé Celso Martinez Corrêa
Zé Celso dirige cinco décadas depois uma nova versão do texto de Oswald de Andrade e tudo continua absurdamente atual. Escrita em 1933, logo depois da derrocada dos barões do café, a peça foi consagrada como opositora ao regime militar no fim dos anos 1960 e, hoje, reflete o país polarizado e desigual de 2017. O agiota Abelardo I (interpretado por Renato Borghi) enriqueceu emprestando dinheiro aos endividados a juros altíssimos. O caráter emotivo de ver um clássico tem força inegável, mas não se sobrepõe, neste caso, à mensagem pertinente sobre os contrastes sociais e políticos. 
Preto, direção de Marcio Abreu
A montagem da Companhia Brasileira de Teatro radicalizou ao fechar o foco nas diferenças, principalmente no racismo. Comandado por Marcio Abreu, o espetáculo tem dramaturgia concebida por Grace Passô, Nadja Naira e pelo próprio diretor e contou com Renata Sorrah no elenco. A encenação oferece ferramentas ao público para que ele tire suas conclusões sobre o que seria ou não discriminação. O elenco imprime uma grande naturalidade nas composições e jamais exagera no tom.
Dilúvio, direção de Gerald Thomas
O encenador e dramaturgo montou o seu melhor espetáculo desde Um Circo de Rins e Fígados, de 2005. Thomas estreita de forma radical o diálogo com as artes visuais e a dança. As bailarinas Lisa Giobbi e Julia Wilkins esbanjam técnica em coreografias, a maioria aéreas, que reforçam a dramaturgia e, com lirismo, amenizam o pessimismo inicial. O encenador desenhou um fim do mundo em que a população é usada como munição e recorreu a temas pertinentes, como o feminicídio, a homofobia e a intolerância, para expandir a compreensão da obra. As atrizes Maria de Lima, Ana Gabi, Beatrice Sayd e Isabella Lemos formaram o elenco
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Dilúvio: Maria de Lima, Ana Gabi e Beatrice Sayd (Roberto Setton/Divulgação)
Boca de Ouro, direção de Gabriel Villela
Em um momento de grande inspiração, o diretor minimizou a tragédia do texto original de Nelson Rodrigues e transformou a história em uma grande melodrama capaz de atingir contornos cômicos. Quando o bicheiro (Malvino Salvador) que trocou os dentes por uma dentadura dourada morre misteriosamente, sua viúva, Dona Guigui (Lavínia Pannunzio), é procurada para relatar como era o falecido — e apresenta três versões. Mel Lisboa, Claudio Fontana e Chico Carvalho também se destacaram no elenco.
Onze Selvagens, direção de Pedro Granato
O dramaturgo e diretor Pedro Granato criou um surpreendente espetáculo sobre a intolerância e a violência. Não soa leviano afirmar que a peça foi inspirada no roteiro do filme argentino Relatos Selvagens. É inegável, porém, que o espetáculo consegue ser mais perturbador por privilegiar a encenação de narrativas de conotação política e social com extremo realismo. Granato jogou em cena imagens impactantes e delicadas para temas espinhosos, amparado na coreografia de Inês Bushatsky e na iluminação de Gabriel Tavares.
Refluxo, direção de Eric Lenate
O espectador começava a ser instigado logo na entrada do Mezanino do Centro Cultural Fiesp, assim que se acomoda na plateia do espaço cênico transformado em um grande elevador. Foi de lá que público acompanhou a rotina do oprimido ascensorista Dário (interpretado por Maurício de Barros), que aperta o botão para o sobe e desce dos estranhos moradores de um edifício. A cantora de churrascaria Diva (papel de Lavínia Pannunzio), o escritor fracassado Túlio (o ator Laerte Késsimos), a esnobe Cleide (a atriz Patrícia Vilela), a solitária Dona Corina (Agnes Zuliani) e o síndico Abreu (Carlos Morelli) eram alguns deles.
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Lavínia Pannunzio, Laerte Késsimos e Maurício de Barros: comédia dramática de Angela Ribeiro (Leekyung Kim/Veja SP)
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