***Últimas apresentações de “Hoje é dia de Rock” com acessibilidade***
Crédito
das fotos: Kraw Penas.
***Terminam nesta semana as apresentações de “Hoje é dia de Rock”. E especialmente no dia 15 de dezembro, sexta-feira, a peça oferecerá ao público acesso aos recursos de audiodescrição e tradução em libras (linguagem brasileira de sinais). O espetáculo assinado por Gabriel Villela está em cartaz no Guairinha, de quinta a sábado, às 20h30 e domingo, às 19h.
Hoje é dia de Rock é baseado em texto de José Vicente, estreou em 17 de novembro pelo Teatro de Comédia do Paraná, projeto do Teatro Guaíra e Secretaria de Cultura, e tem lotado todas as sessões. A trama conta a história de uma família mineira que sai do sertão para tentar a vida na grande cidade e tudo muda na vida do casal e dos cinco filhos.
DiversidArte - O programa DiversidArte da Secretaria de Estado da Cultura (SEEC) tem o objetivo de incentivar e promover ações afirmativas que sejam inclusivas e contribuam para o fim de todo tipo de discriminação.
Ao reconhecer e valorizar os grupos de culturas populares, imigrantes e aqueles historicamente discriminados, como a população negra, povos de terreiro, ciganos, indígenas, quilombolas, faxinalenses, LGBTs, movimentos de rua e idosos, defendemos suas identidades e saberes, garantindo o fortalecimento e a inserção destes grupos nas políticas públicas culturais, viabilizando a criação, a produção, a difusão e a fruição cultural.
Resultado da participação da SEEC em diferentes conselhos de proteção e defesa de direitos, o programa atende às metas do Plano Estadual de Cultura do Paraná (PEC-PR). As ações que integram o DiversidArte vão desde exposições itinerantes, que enaltecem a cultura paranaense, a projetos que contribuem com a acessibilidade de portadores de deficiência.
No elenco estão: Rosana Stavis e Rodrigo Ferrarini, Arthur Faustino, Cesar Mathew, Evandro Santiago, Flávia Imirene, Helena Tezza, Kauê Persona, Luana Godin, Matheus Gonzáles, Nathan Milléo Gualda, Paulo Henrique dos Santos e Pedro Inoue.
Ficha técnica: Hoje é dia de Rock. Texto: José Vicente. Direção, Cenografia e Figurinos: Gabriel Villela. Diretor Assistente: Ivan Andrade. Direção Musical, arranjos e preparação vocal: Marco França. Assistente de figurinos e aderecista: José Rosa. Iluminação: Wagner Correa.
Serviço: Hoje é Dia de Rock - Teatro de Comédia do Paraná Dias 14, 15, 16 (de quinta a sábado), às 20h30 e 17 (domingo), às 19h. Classificação: 14 anos Ingressos: R$ 20,00 Dia 15 – apresentação com acessibilidade Intérpretes de Libras: Lorena Baika e Tânia Lisboa Audiodescrição: Maria Lucia Daldegan Apoio: Cris Lemos. Pessoas interessadas na audiodescrição devem entrar em contato com o departamento de Produções Artísticas do CCTG pelo telefone (41) 3304-7918.
colunapersonalidades.blogspot.com/2017/
CATEGORIA: ESCRITOS
eu
também espero uma linguagem
a partir de um recorte de Hoje é dia de rock[1]
fotografia de Vitor Dias.
a feitura desse texto é atravessada por uma breve troca de mensagens com
Cesar Matthew, ator que intepreta Valente, na peça em questão.
alguns trechos desse texto são entrecortados pela dramaturgia
de Hoje é dia de rock – há uma versão online aqui
fotografia de Vitor Dias.
a feitura desse texto é atravessada por uma breve troca de mensagens com
Cesar Matthew, ator que intepreta Valente, na peça em questão.
alguns trechos desse texto são entrecortados pela dramaturgia
de Hoje é dia de rock – há uma versão online aqui
valentia
1 qualidade do que é valente, corajoso, intrépido; valor, coragem, audácia.
2 qualidade do que tem energia, força, vigor.
3 capacidade de agir energicamente, com decisão, seriedade.
4 qualidade do que é resistente, forte.
5 ato praticado com coragem, intrepidez.
1 qualidade do que é valente, corajoso, intrépido; valor, coragem, audácia.
2 qualidade do que tem energia, força, vigor.
3 capacidade de agir energicamente, com decisão, seriedade.
4 qualidade do que é resistente, forte.
5 ato praticado com coragem, intrepidez.
Escrevo de dentro da armadilha. A partir de uma
emboscada. A partir das imagens e discursos que criaram sobre nós. Bichas.
Escrevo sobre o perigoso gesto de tentar falar em nome
de uma ideia de coletividade extremamente heterogênea, unida pelo rastro de
violência, especialmente nessa parte do globo: colonizada e genocida.
Escrevo no interior de uma dupla emboscada: a partir
dos discursos e imagens que nós mesmos criamos.
Escrevo para saber de você como é que lida(re)mos com
as coisas (coisas) que eles criaram.
Escrevo sem respostas.
esse texto começa quando me disseram que aqui, antes
do período colonial,
a sexualidade não encontrava a distinção homofóbica com a qual operamos
a sexualidade não encontrava a distinção homofóbica com a qual operamos
esse texto começa quando me disseram que o primeiro
índio morto no brasil
teve sua morte espetacularizada ao ser amarrado a um canhão[2]
teve sua morte espetacularizada ao ser amarrado a um canhão[2]
esse texto começa quando se aceita que a ideia de
pecado, solidão
e família é necessariamente colonial
e família é necessariamente colonial
esse texto começa quando na porta do teatro eu ouvi
“que bom que tem a bicha para dar uma animada na platéia”
“que bom que tem a bicha para dar uma animada na platéia”
esse texto começa quando em frente ao guairinha dois
garotos
sofreram um ataque homofóbico em 2015
(eles também usavam saias)
sofreram um ataque homofóbico em 2015
(eles também usavam saias)
Escrevo tentando assegurar e amparar os estigmas e
estereótipos que nos aplanam, que supostamente arrancam de nós a complexidade –
o privilégio de ser complexo – e nos direcionam a imaginários eufóricos ou
suicidas.
Escrevo querendo, ao mesmo tempo, desvendar e tornar
possível a imagem risível: a imagem em convulsão – por isso, uma imagem que
vive, uma imagem que respira, sente, chora e sangra.
Escrevo para que a bicha seja gargalhável sempre que
quiser – mas escrevo, antes de tudo, para que ela gargalhe. Viva.
Escrevo porque quero que a imagem risível seja uma
escolha lúcida, não um caminho fácil, não um caminho repetível, um atalho, um
trajeto que se faz no automático, atribuído por um sistema que não
necessariamente se interessa pela autonomia de uma subjetividade, mesmo que em
um âmbito representacional.
Escrevo porque quero que a imagem risível dobre, gire e
quebre – que ela esteja em cacos, que ela seja difícil, com um percurso que nos
permita ir-testando ir-juntando até atingir uma espécie de certeza, uma espécie
de firmeza: uma valentia (“para
estilhaçar a ditadura da imagem e os preconceitos a ela vinculados”, como
é apresentada a trajetória de Virginie Despentes em Teoria King Kong).
Escrevo porque a imagem da bicha vibra e aponta vetores
de dubiedade: um falso problema? um
recurso retórico? uma bobagem? uma chatice minha? uma loucura na qual estou
preso? uma repetição desnecessária? uma continuidade inevitável? uma invenção
coletiva? uma ordem das hierarquias inerentes ao fazer artístico? uma criação
processual? uma representação? a minha vida? teatro?
Valentia: rir, permitir o riso.
Valentia: deixar de rir, parar o riso.
Valentia: desvendar o riso.
Valentia: segurar na mão, o som e o público.
Valentia: preencher.
1 DE DEZEMBRO DE 2017 12:28
Francisco Mallmann
cesar,
querido. estou escrevendo.
não posso dizer que estou escrevendo sobre ‘hoje é dia de rock’, porque penso e escrevo a partir de um recorte da peça. talvez possa ser frustrante te dizer que estou escrevendo “sobre a peça”, de um modo abrangente. enfim, de todo modo, eu queria te fazer uma pergunta que, ao mesmo tempo, é e não é sobre isso. e se você quiser, pode me responder.
não posso dizer que estou escrevendo sobre ‘hoje é dia de rock’, porque penso e escrevo a partir de um recorte da peça. talvez possa ser frustrante te dizer que estou escrevendo “sobre a peça”, de um modo abrangente. enfim, de todo modo, eu queria te fazer uma pergunta que, ao mesmo tempo, é e não é sobre isso. e se você quiser, pode me responder.
o que é ser uma bicha latinoamericana?
Escrevo como uma interlocutora, parceira,
uma-bicha-que-escreve.
Escrevo porque há uma dramaturgia anterior (sempre há
uma dramaturgia anterior).
Escrevo porque o “Dramaturgo José Vicente foi Rimbaud
do Brasil”[3] e
tratou sobre a homossexualidade de homens em mais de um dos seus textos.
Escrevo porque se escolhe fazer teatro (sempre há um
teatro anterior).
Escrevo porque se fazem escolhas (e fazer escolhas é
escolher habitar, tocar, trocar, manusear sensibilidades e o sensível).
Escrevo porque há diretores, diretoras, dramaturgos,
dramaturgas, atrizes, atores, técnicos, parceiros, artistas, públicos,
instituições e Estados (onde é que terminam e começam?).
Escrevo porque existem acordos, demandas, metodologias,
treinos, testes, exercícios, processos e fotografias de divulgação (marcas e
ensaios).
Escrevo porque “um sucesso da década de 1970” foi
remontado na cidade em que nasci, vivo e crio.
Escrevo porque antes de chegar ao teatro as pessoas
caminharam, se locomoveram, saíram de lugares, andaram pela rua, pegaram
ônibus, pedalaram, viveram suas vidas e talvez tenham corrido riscos: eu não
sei que vidas são essas – algumas eu conheço, outras não.
Escrevo porque proponho uma leitura idiossincrática das
possibilidades de vivências sexuais e de gênero – aqui, penso especialmente a
partir de uma identidade de gênero “bicha” em que o próprio uso do termo
“bicha” aponta especificidades[4].
Escrevo pelas personagens e figuras estranhas nos
espetáculos, nesse espetáculo – pelos deslocamentos vitais que
dissidências (tenho pensado sobre essa
palavra e ainda não encontrei substituta) podem promover.
Escrevo porque a própria noção de “espetáculo” faz
necessário que existam “seres espetacularizados” – mas quem pode ser
espetacular? em que contexto? de que modo? com quais contornos? quais as
abordagens dessa espetacularização?
Escrevo porque há a linguagem. O desenvolvimento, o
tencionamento e a morte da linguagem.
Escrevo porque nesta dramaturgia alguém diz: “vem que
eu espero tua linguagem” e eu compartilho desse chamamento. Eu também espero
uma linguagem, como quem cria música. Eu também me pergunto “Que palavras ainda
lhes faltam? O que necessitam dizer?” como Audre Lorde fez.
Escrevo porque um elenco branco evoca uma dramaturgia
que, em dado momento, diz “nós somos índios”.
Escrevo porque é a bicha quem tem nojo de pobres e
detesta “caipirismo” nessa família.
Escrevo porque a única mulher negra na peça é uma
personagem cigana, hiperssexualizada, inserida em uma encenação que a faz
entrar em cena, na maior parte das vezes, para sentar no colo de um homem
que a chama incessantemente de “irmãzinha” (me
reviro à atriz Flávia Imirene, e essa não é uma colocação sobre a
qualidade de sua atuação, definitivamente – é outra a abordagem)
Meus silêncios não tinham me protegido[5].
Escrevo porque uma bicha se chama Valente. Valente.
Porque a ela foi solicitada a língua presa e porque foi a única a ser aplaudida
em cena aberta na noite em que estive no teatro. Porque dela se riu, até que
fosse perdido o ar.
Escrevo porque Valente também começou “a escrever cartas
para pessoas imaginárias” quando brincava “como uma criança obcecada, que
recebeu uma flechada e saiu sangue”.
Escrevo uma carta para alguém imaginário enquanto
sangro, tal qual dramaturgia.
Escrevo porque quando Valente se desloca do fundo do
palco até a frente, um susto me ocorre, um medo, um desejo estranho de salvá-lo
ao mesmo tempo que quero segurar sua mão, me expor, ao seu lado, em
constrangimento. Pois que sejamos multidão.
Escrevo porque quando dança Valente, ao som de duas
vozes, ao som de mulheres que cantam, español, eu danço e
choro junto/com/ao lado, uma mesma dança perturbada.
Escrevo sobre os sonhos e desejos da dupla
Valente-Isabel: casar com o Elvis, namorar o mecânico, ser um imperador asteca,
ir com algum garoto para trás da igreja, morrer na merda. Fugir. Fugir. Fugir.
Fugir. Para que descubram só amanhã.
quais são as
relações por meio das quais uma bicha se torna uma bicha risível?[6] ou
o antônimo disso? atribuímos isso a ela? ao outro?
qual
dramaturgia – horizonte mundo sentido – me permite ser/ver uma bicha
sonhadora-fugitiva?
quem ampara ou
ridiculariza esse ser? o que o torna ridicularizável ou amparável?
quem o torna
“isto” ou “aquilo”?
que narrativa é
essa? e por que hoje – agora?
qual nosso
interesse em re-avivar ideias de família, propriedade, liberdade e gênero,
entendendo os deslocamentos, as contínuas mudanças históricas e as projeções
que se fazem de um amanhã?
esse texto não compreende por normalidade relações
heterossexuais
envolvendo procriação e monogamia
envolvendo procriação e monogamia
esse texto compreende que há uma ideologia de
gênero imperando
há muito tempo em nossas relações sociais
uma noção de gênero e sexo que é heterossexual, machista, homofóbica,
racista e colonial
há muito tempo em nossas relações sociais
uma noção de gênero e sexo que é heterossexual, machista, homofóbica,
racista e colonial
esse texto acha que, de algum modo, para eles, a
culpa vai ser sempre
da bicha (da outra): se ela for risível, sofrível, inteligente ou burra, pobre ou rica,
a culpa vai ser sempre dela
da bicha (da outra): se ela for risível, sofrível, inteligente ou burra, pobre ou rica,
a culpa vai ser sempre dela
esse texto se pergunta como é possível que
algumas pessoas
se permitam ver certas coisas no palco mas não se permitam ver certas coisas na rua
se permitam ver certas coisas no palco mas não se permitam ver certas coisas na rua
Escrevo distante da polícia – no entanto, sei que
tropeço em uma ideia de proteção, de atenção, em uma ideia ativa de cuidado,
que é ruidosa e polifônica, que pode parecer monitória.
Escrevo porque preciso saber se não estou reproduzindo
qualquer tipo de coerção violenta. É só uma bicha, no teatro, afinal.
Deixa ela. Tudo está “lindo”. Tudo está “poético” e “primoroso”.
Escrevo porque preciso usar o verbo fazendo a
autocrítica – o quanto desses indícios que trago à tona são de minha
responsabilidade? O quanto a minha cognição e meu desejo de desdobramento quer
se aproximar ou se afastar de coisas, deliberadamente? Quem recorta sou eu.
Escrevo a partir da bicha e, por isso,
necessariamente escrevo sobre a mulher, o homem, a mãe e o pai, os irmãos,
a irmã, a cunhada, os frequentadores de um bar. Escrevo sobre a bicha
porque escrevo sobre o mundo e sobre o modo como ele nos permite viver ou
morrer. Escrevo a partir da bicha por isso escrevo
sobre estética, política e vida. Escrevo sobre a bicha porque
escrevo sobre tudo.
Escrevo curioso para saber o quanto andam pensando por
aí sobre as coisas que fazem, as imagens e conhecimentos que se produzem e/ou
reproduzem ao criar. Escrevo para saber quem vive no interior
das decisões.
Escrevo para saber o que querem dizer em 2017 com
“realidade” “brasil” “índio”, em se tratando de uma construção discursiva que
envolve o “apagamento de um tempo” – o mesmo slogan para aqueles que lutam
contra o fascismo e para os que são, de fato, fascistas. O apagamento de um
tempo é tudo o que sabemos fazer no Brasil, ao que parece – índio escravidão
ditadura: palavras que nos recordam isso: “o apagamento de um tempo”, vários
tempos encadeados.
Escrevo para descobrir se “apagar um tempo” estando
dentro dele não é também convocar o próprio apagamento: quem apaga?
quem pede para apagar? quem é apagado? por quê?
Escrevo depois de já ter compartilhado algumas dessas
ideias que registro aqui de forma processual com outro artista e ter
ouvido: “acho que as pessoas não querem saber disso, por que não fala
das músicas, tão bonitas? do figurino colorido?” como se
questões pudessem ser apagadas com cor e som. “Será que não podemos só rir
um pouco?“, ele também disse como se eu estivesse boicotando o riso ao
invés de um desejo de entendê-lo (o que já demonstra, em si, um interesse
e uma valoração). Como se essa abordagem fosse uma afronta ou
uma bobagem – como se a bicha não fosse parte
integrante e fundamental na construção narrativa, de sentido e imagética que a
mim se apresenta.
Escrevo no ano em que falei publicamente sobre uma
outra peça, que considero transfóbica e me foi sugerido “assistir peças como
uma folha em branco, sem tantos preconceitos, se deixar emocionar sem tantas
amarras”.
Escrevo porque
não sou
não serei
não quero ser
não posso ser
uma folha em branco.
– Então me diz ‘vai!’. Eu preciso de alguém que me diga ‘vai!’
Criação de contexto – n.1
Como é que poderemos usar saias e nomear seus tecidos?
Como é que gritaremos – e como é que pararemos de
gritar?
Como é que criaremos um terreno para dançar?
Sonharemos com impérios incas?
Desmaiaremos em reuniões familiares?
Leremos mãos mesmo sem saber ler mãos?
Criação de contexto – n.2
Como é que poderei usar saias e nomear tecidos?
Como é que gritarei – e como é que pararei de gritar?
Como é que criarei um terreno para dançar?
Sonharei com impérios incas?
Desmaiarei em reuniões familiares?
Lerei mãos mesmo sem saber ler mãos?
Criação de contexto – n.3
(Fomos cuidadosamente ensinadas a odiar a nós
mesmas)[7]
Desde o princípio dos tempos, o mundo foi inspirado
pelo trabalho de artistas queer. Em troca, houve sofrimento, dor e violência.
Ao longo da história, a sociedade travou uma batalha contra os seus cidadãos e
cidadãs queer: elas devem seguir carreiras criativas, contanto que
discretamente. Através das artes, as queer são produtivas, lucrativas, entretém
e até são capazes de inspirar. Estes são os mais claros e úteis subprodutos
daquilo que, do contrário, é considerado um comportamento antissocial. Nos
círculos culturais, as queers podem coexistir tranquilamente com uma elite que,
de outro modo, as abomina.[8]
(Permita-se sentir raiva do fato de que não há
lugar neste país onde estejamos seguras, nenhum lugar onde não somos alvo do
ódio e do ataque, do nosso próprio desprezo, do suicídio – do armário)[9]
Criação de contexto – n.4
Fomos educadas para respeitar mais ao medo do que a
nossa necessidade de linguagem e definição, mas se esperamos em silêncio que
chegue a coragem, o peso do silêncio vai nos afogar. O fato de estarmos aqui e
que eu esteja dizendo essas palavras, já é uma tentativa de quebrar o silêncio
e estender uma ponte sobre nossas diferenças, porque não são as diferenças que
nos imobilizam, mas o silêncio. E restam tantos silêncios para romper![10]
1 DE DEZEMBRO DE 2017 13:24
Cesar Mathew
Oi
Chico!! Entendo sim, claro!! Fico muito feliz que você esteja escrevendo!!!
Irei
responder partindo do Valente e onde isso dialoga com o que eu acredito. Eu
penso por exemplo que a cena da despedida e do choro dele é ao mesmo tempo o
adeus da família mas também o choro da bixa latina, que tem duas peninhas pra
defender ela do mundo e faz disso sua armadura, mesmo que seja para sobreviver
só até a próxima esquina, então que seja assim, do jeito que ela é! Pra mim a
bixa latina chora a dor e a alegria de ficar de pé em terras sucateadas, são
séculos e séculos de pura extorsão do velho continente mas o que incomoda mesmo
é se ela usar um salto alto ou falar mole, dentro de toda solidão latina está a
bixa lutando e batendo asas.
será que eu
deveria estar contente já que há, pelo menos, uma bicha?
será que é
motivo de comemoração uma bicha entre muitxs heterossexuais?
será que a
minha leitura é classista e branca?
será que uma
equipe com integrantes gays nos imuniza dessas questões?
será que
isso é considerado uma possibilidade de recirculação de gênero?[11]
será uma
prática subversiva que questiona a própria ideia de identidade?
será que é
uma identidade surgindo da ruína?
será que o
fato do ator ser bicha torna tudo diferente?
será que o
deslocamento histórico justifica?
será que se
considera atual?
será que é
preciso ler como um entendimento datado?
será que o
governador assistiu e gostou?
será que ela
está tirando um sarro de tudo?
será que ela
está rindo de todo mundo?
será que ela
guarda uma certeza de que isso tudo é uma bobagem?
será que ela
está além dessas discussões?
será que ela
acha isso tudo uma chatice?
será que ela
percebe essas relações ao seu redor?
será que ela
se entende como parte do entretenimento?
será que o
gráfico dramático da bicha explica tudo?
será que a
dramaturgia dela a torna heroína?
será que a
dramaturgia dela a torna vítima?
será que a
fuga é salvação? redenção? única possibilidade? liberdade? desfecho trágico?
começo de outra coisa que o público não vê?
será que ela
é uma experiência estética?
será que eu
estou inventando coisa?
será que eu
estou me passando?
será que as
pessoas a amam por fetiche?
será que as
pessoas a adoram como adoram um animal fofinho?
será que é
assim que tem que ser uma bicha em um teatro “popular”?
será que
elas aplaudem uma personagem?
será que no
fim as pessoas sempre dão as mãos e saem dançando?
será que as
pessoas ririam dela fora de cena?
será que as
pessoas a aplaudem na rua?
será que a
arte nos proteje?
POR QUE A BICHA NÃO PODE SER SANTA?
POR QUE A BICHA NÃO PODE PARECER JESUS CRISTO?
POR QUE A BICHA NÃO PODE PARECER JESUS CRISTO?
POR QUE A BICHA PRECISA SER SANTA?
POR QUE A BICHA PRECISA PARECER JESUS CRISTO?
POR QUE A BICHA PRECISA PARECER JESUS CRISTO?
POR QUE A BICHA QUER SER SANTA?
POR QUE A BICHA QUER PARECER JESUS CRISTO?
POR QUE A BICHA QUER PARECER JESUS CRISTO?
A radicalidade de um outro estatuto: outra maneira de
se aproximar, dizer palavras, imaginar a vida – se referir à mesma dignidade
com a qual identificam-se outros agentes. Vem que eu espero tua
linguagem se tornando Eu crio uma linguagem se
tornando Eu sou uma linguagem. Trocar a espera por atuação –
inscrição de palavra, gesto, corpo, discurso: voz, língua, código, operação:
pensamento. Outro. Me sento nas poltronas vermelhas e não quero dizer nada
nunca mais. Penso nisso só amanhã. Mas não posso. Eu quero descansar – eu quero
esquecer os nomes das violências específicas. Mas não posso. Quero parar de
medir e tecer comparações[12].
Esquecer. Tirar da pele a História e as histórias. Arrancar. Mas não posso. Eu
quero uma poesia que destrói para poder re-fazer. Construir muros para
destruí-los. Eu sei sobre a descontextualização que posso estar
aplicando – uma assimetria com ímpetos discursivos, reflexivos: críticos (dizem
que não é isso o que faço, que não é isso o que sou). Eu sei que podem
usar a palavra “desonestidade”. De um lado: nossas discussões seguem sendo
setentistas – de outro: sinto sono. A vertente nostálgica – a quem? A saudade:
a quem? “E quem é que quer ter saudade? Saudade do que? Da vida colonial?”[13].
Eu entendi. A fabulação. O cânone – o contra-canône. O realismo fantástico. A
fronteira, o país, a cidade, as pedras, o caminho. Eu entendi a metáfora. Nada
disso real: r-e-a-l. Eu entendi. Dois anos em cartaz. Real. Exatamente isso, um
país, a cidade, estado, vida: trajeto. Pedra. Trilha sonora. Uma dramaturgia do
dramaturgo censurado pela ditadura. Contexto: antes da aids. Tomar posição: não
saber. Como é que se avança? Identificar as minhas ignorâncias e hábitos.
Deixar que falem. Deixar que exista. Deixar ser confuso. E depois: enlouquecer.
Começar os debates falando sobre saúde mental. Sobre a loucura – falando dela,
com ela, ao lado ou dentro dela. Sobre a não imunidade de todos os tempos,
especialmente este, em que insisto em abrir a boca. Falando contra os
esconderijos. Contra a ingenuidade. Ser ingenuamente contra a ingenuidade.
Falar sobre cinismo. Sobre as imagens que criei com as imagens existentes. Falar
das subjetividades exaltadas, anárquicas e barulhentas em uma paisagem
embrutecida. Falar arte como quem diz ação. Falar teatro como
quem diz posicionamento. Falar música como
quem diz garganta. Gritar. Ter, ao mesmo tempo, menos e mais
paciência. Ouvir as explicações. Muito bem, muito bem, vocês estão com
a razão – estou sendo radical. Desconfiar: como é que você pode me colocar
em uma situação-outra? Como você me leva adiante? Como me tira e me devolve do
mundo? Da calçada? Da cidade? Do teatro? Do meu corpo? Da minha comunidade,
antes de tudo, estética. Não falo sobre beleza, assim, be le za. É bonito, é
claro que sim. O Cesar. Valente, dizendo coisas. Não é sobre isso. É bonito. É
sobre dizer. Sou eu. Dizer. Um espaço em que cada pessoa mantinha uma
cumplicidade de olho e de traje, uma com a outra. E tinha rituais, que no fundo
eram exorcismos, mas a gente não
dizia dizia. A gente dizia. A gente diz.
Valentia: dizer.
__________________________________
[1] Texto: José Vicente. Direção, Cenografia e Figurino: Gabriel Villela. Diretor Assistente: Ivan Andrade. Direção Musical, arranjos e preparação vocal: Marco França. Assistente de figurinos e aderecista: José Rosa. Iluminação Wagner Correa. Fotos: Vitor Dias. Elenco: Rodrigo Ferrarini, Rosana Stavis, Arthur Faustino, Cesar Mathew, Evandro Santiago, Flávia Imirene, Helena Tezza, Kauê Persona, Luana Godin, Matheus Gonzales, Nathan Milléo Gualda, Paulo Marques, Pedro Inoue. A peça estreou no dia 18 de novembro e será apresentada até dia 17 de dezembro, de quinta-feira a sábado, às 20h30 e domingo, às 19h.
[2] Leia Aqui
[3] Leia Aqui
[4] Leia Aqui
[5] Audre Lorde, A Transformação do silêncio em linguagem e ação
[6] Em referência a questão elaborada por Gayle Rubin no texto O tráfico de mulheres: “Quais são, então, essas relações por meio das quais uma mulher se torna uma mulher oprimida?”.
[7] Manifesto Queer Nation Leia Aqui
[8] Manifesto Queer Nation
[9] Manifesto Queer Nation
[10] Audre Lorde, A Transformação do silêncio em linguagem e ação
[11] “Mesmo que construtos heterossexistas circulem como lugares praticáveis de poder/discurso a partir dos quais se faz o gênero, persiste a pergunta: que possibilidades existem de recirculação? Que possibilidades de fazer o gênero repetem e deslocam, por meio da hipérbole da dissonância, da confusão interna e da proliferação, os próprios construtos pelos quais os gêneros são mobilizados?” Judith Butler, Problemas de gênero.
[12] “Nuestro código de valores, nuestras pautas de conducta, todo lo que hacemos y pensamos, lo queramos o no, siempre lo medimos a la luz de planteamientos y propuestas éticas heteronormativas, procedentes de ámbitos tan homofóbicos como la iglesia, la religión, la filosofía, la escuela, la universidad, la política, los partidos, la cultura, el cine y todos los discursos morales que las instituciones proclaman a los cuatro vientos para impregnar poco a poco a las masas desde pequeñitos”. Paco Vidarte, Ética marica
[13] Bernardo Carvalho, Reprodução.
[1] Texto: José Vicente. Direção, Cenografia e Figurino: Gabriel Villela. Diretor Assistente: Ivan Andrade. Direção Musical, arranjos e preparação vocal: Marco França. Assistente de figurinos e aderecista: José Rosa. Iluminação Wagner Correa. Fotos: Vitor Dias. Elenco: Rodrigo Ferrarini, Rosana Stavis, Arthur Faustino, Cesar Mathew, Evandro Santiago, Flávia Imirene, Helena Tezza, Kauê Persona, Luana Godin, Matheus Gonzales, Nathan Milléo Gualda, Paulo Marques, Pedro Inoue. A peça estreou no dia 18 de novembro e será apresentada até dia 17 de dezembro, de quinta-feira a sábado, às 20h30 e domingo, às 19h.
[2] Leia Aqui
[3] Leia Aqui
[4] Leia Aqui
[5] Audre Lorde, A Transformação do silêncio em linguagem e ação
[6] Em referência a questão elaborada por Gayle Rubin no texto O tráfico de mulheres: “Quais são, então, essas relações por meio das quais uma mulher se torna uma mulher oprimida?”.
[7] Manifesto Queer Nation Leia Aqui
[8] Manifesto Queer Nation
[9] Manifesto Queer Nation
[10] Audre Lorde, A Transformação do silêncio em linguagem e ação
[11] “Mesmo que construtos heterossexistas circulem como lugares praticáveis de poder/discurso a partir dos quais se faz o gênero, persiste a pergunta: que possibilidades existem de recirculação? Que possibilidades de fazer o gênero repetem e deslocam, por meio da hipérbole da dissonância, da confusão interna e da proliferação, os próprios construtos pelos quais os gêneros são mobilizados?” Judith Butler, Problemas de gênero.
[12] “Nuestro código de valores, nuestras pautas de conducta, todo lo que hacemos y pensamos, lo queramos o no, siempre lo medimos a la luz de planteamientos y propuestas éticas heteronormativas, procedentes de ámbitos tan homofóbicos como la iglesia, la religión, la filosofía, la escuela, la universidad, la política, los partidos, la cultura, el cine y todos los discursos morales que las instituciones proclaman a los cuatro vientos para impregnar poco a poco a las masas desde pequeñitos”. Paco Vidarte, Ética marica
[13] Bernardo Carvalho, Reprodução.
Malvino Salvador e Mel Lisboa apresentam
“Boca de Ouro” em Campinas
De
-
13 de dezembro
de 2017
9
Grande clássico de Nelson Rodrigues, com direção de Gabriel
Villela, o espetáculo terá apresentações nos dois primeiros fins de semana de
novembro (de 3 a 12, de sexta a domingo), no Teatro Iguatemi.
“Boca de Ouro”, tragicomédia que narra em retrospecto a vida de
um bicheiro carioca – temido e megalomaníaco, que tem esse apelido porque
trocou todos os dentes por uma dentadura de ouro – terá seis apresentações em
novembro (entre os dias 3 e 12, de sexta a domingo), no Teatro Iguatemi.
No elenco, Malvino Salvador, Mel Lisboa, Cláudio Fontana,
Lavínia Pannunzio, Leonardo Ventura e Chico Carvalho. A direção é de Gabriel
Villela. As apresentações serão às 21h nas sextas-feiras, às 21h30 aos sábados
e às 19h aos domingos. A produção é da Brain+ GT.
Os ingressos custam R$ 50,00 (inteira) e R$ 25,00 (meia) no
primeiro lote e R$ 100,00 (inteira) e R$ 50,00 (meia) no segundo e podem ser
adquiridos pelo site www.ingressorapido.com.br ou na bilheteria do teatro, de
segunda a sábado, das 10h às 22h e, aos domingos, das 12h às 20h (Av. Iguatemi,
777 – Vila Brandina – 3º piso do Shopping Iguatemi Campinas).

Sobre a Peça
Boca de Ouro (Malvino Salvador) é um lendário bicheiro carioca que ganhou esse apelido porque trocou todos os dentes por uma dentadura de ouro. Depois de ser assassinado, ele tem o passado investigado por um repórter. A fonte das informações sobre a vida dele é a dona Guigui (Lavínia Pannunzio), a volúvel ex-amante do contraventor e uma mulher que, ao longo da peça, revela diferentes versões do bicheiro.
Boca de Ouro (Malvino Salvador) é um lendário bicheiro carioca que ganhou esse apelido porque trocou todos os dentes por uma dentadura de ouro. Depois de ser assassinado, ele tem o passado investigado por um repórter. A fonte das informações sobre a vida dele é a dona Guigui (Lavínia Pannunzio), a volúvel ex-amante do contraventor e uma mulher que, ao longo da peça, revela diferentes versões do bicheiro.
Mel Lisboa e Claudio Fontana fazem o casal Celeste e Leleco.
Leonardo Ventura interpreta Agenor, fiel e apaixonado marido de Guigui. Chico
Carvalho é Caveirinha, o repórter que carrega o olhar afiado e crítico do
dramaturgo-jornalista. Chico também interpreta a grã-fina Maria Luisa. Cacá
Toledo e Guilherme Bueno completam o elenco. Jonatan Harold assume o piano
oferecendo a ambiência musical para Mariana Elisabetsky interpretar canções
imortalizadas por Dalva de Oliveira (1917-1972).
Além da direção, Gabriel Villela criou os figurinos e a
cenografia. A iluminação é de Wagner Freire, a direção musical e preparação
vocal são assinadas por Babaya e a espacialização e antropologia da voz por
Francesca Della Monica. Os diretores assistentes Ivan Andrade e Daniel
Mazzarolo formam a equipe criativa.

Cenário
As diferentes narrativas de Dona Guigui são exploradas pelo diretor de forma muito diversa. A cada nova versão da história é ressaltado o espaço arquetípico convergente, como o salão circular de uma gafieira ou um ciclo de vida que se encerra.
As diferentes narrativas de Dona Guigui são exploradas pelo diretor de forma muito diversa. A cada nova versão da história é ressaltado o espaço arquetípico convergente, como o salão circular de uma gafieira ou um ciclo de vida que se encerra.
Inspirado no subúrbio carioca, Gabriel Villela se utiliza da
simbologia do candomblé e das máscaras astecas no espetáculo. A casa de Celeste
e Leleco traz muitas representações de orixás sincretizados. A figura de Iansã
(Guilherme Bueno), faz a contrarregragem das mortes da história, aparecendo
toda vez que uma cena fatídica acontece.
O Brasil cabe todo nesta arena: a política, as narrativas
contraditórias, a libido, a festa da gafieira, o jogo do bicho, a fé e a
música. Retratos de uma época que mostra um Brasil que pouco mudou e também que
o dramaturgo pernambucano, nascido em 1912, nunca foi tão atual.
Ficha Técnica
Texto: Nelson Rodrigues.
Direção, Cenografia e Figurinos: Gabriel Villela.
Elenco: Malvino Salvador, Lavínia Pannunzio, Mel Lisboa, Claudio Fontana, Chico Carvalho, Leonardo Ventura, Cacá Toledo, Mariana Elisabetsky, Jonatan Harold e Guilherme Bueno.
Iluminação: Wagner Freire.
Direção Musical e preparação Vocal: Babaya.
Espacialização vocal e antropologia da voz: Francesca Della Monica.
Pianista: Jonatan Harold.
Diretores assistentes: Ivan Andrade e Daniel Mazzarolo.
Foto: João Caldas Fº.
Produção executiva: Luiz Alex Tasso.
Direção de produção: Claudio Fontana.
Duração: 100min.
Classificação: 14 anos.
Acessibilidade: gratuidade a portadores de deficiência
Texto: Nelson Rodrigues.
Direção, Cenografia e Figurinos: Gabriel Villela.
Elenco: Malvino Salvador, Lavínia Pannunzio, Mel Lisboa, Claudio Fontana, Chico Carvalho, Leonardo Ventura, Cacá Toledo, Mariana Elisabetsky, Jonatan Harold e Guilherme Bueno.
Iluminação: Wagner Freire.
Direção Musical e preparação Vocal: Babaya.
Espacialização vocal e antropologia da voz: Francesca Della Monica.
Pianista: Jonatan Harold.
Diretores assistentes: Ivan Andrade e Daniel Mazzarolo.
Foto: João Caldas Fº.
Produção executiva: Luiz Alex Tasso.
Direção de produção: Claudio Fontana.
Duração: 100min.
Classificação: 14 anos.
Acessibilidade: gratuidade a portadores de deficiência
Serviço
Local: Teatro Iguatemi (Av. Iguatemi, 777 – Vila Brandina – 3º piso do Iguatemi Campinas)
Data: de 3 a 12 de novembro (sextas, sábados e domingos)
Horário: sextas às 21h; sábados às 21h30 e domingos às 19h.
Informações: (19) 3294-3166 – www.teatrogt.com.br
Local: Teatro Iguatemi (Av. Iguatemi, 777 – Vila Brandina – 3º piso do Iguatemi Campinas)
Data: de 3 a 12 de novembro (sextas, sábados e domingos)
Horário: sextas às 21h; sábados às 21h30 e domingos às 19h.
Informações: (19) 3294-3166 – www.teatrogt.com.br
Ingressos
Primeiro lote: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia-entrada)
Segundo lote: R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia-entrada).
Vendas: Bilheteria do Teatro (de segunda a sábado das 10h às 22h | domingo das 12h às 20h)
Pela internet: www.ingressorapido.com.br
Primeiro lote: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia-entrada)
Segundo lote: R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia-entrada).
Vendas: Bilheteria do Teatro (de segunda a sábado das 10h às 22h | domingo das 12h às 20h)
Pela internet: www.ingressorapido.com.br
Ateliê da Notícia
Jornalista responsável: Vera Longuini
Cel (19) 9 9771-6735 – Vivo
Atendimento: Caroline Magalhães
Redação: (19) 3252-9385
redacao@ateliedanoticia.com.br
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NA PLATEIA
Tudo sobre
teatro
As dez melhores peças do ano de 2017 em São Paulo
A ótima temporada teve entre os destaques "Grande Sertão:
Veredas", "Marte, Você Está Aí?", "Imortais", Gerald
Thomas, Gabriel Villela e Zé Celso
access_time19 dez 2017, 18h17 - Publicado em 19 dez 2017,
18h11

Luisa Arraes,
Leon Góes e Caio Blat junto ao elenco de Grande Sertão: Veredas (Roberto
Pontes/Veja SP)
Grande Sertão: Veredas, direção de Bia Lessa
Ausente do teatro há quase uma década, Bia Lessa
adaptou e dirigiu a monumental versão do romance de Guimarães Rosa para o
palco. A história do jagunço Riobaldo (interpretado por um ótimo Caio
Blat) é revelada em meio a grandiosas batalhas entre pistoleiros inimigos. O
amor reprimido pelo colega Diadorim (representado por Luiza Lemmertz) intriga o
espectador, assim como sua sede de vingança contra o vilão Hermógenes (papel de
Leon Góes). A mão delicada de Bia se reflete em passagens ousadas, como a
cena de sexo protagonizada pela atriz Luisa Arraes e por Blat.
No novo drama, a autora Silvia Gomez se conecta com a atualidade
brasileira sem abrir mão de personagens de refinada psicologia e propícios a
entendimentos diversos. Militante política em décadas passadas, uma mulher de
meia-idade (interpretada por Selma Egrei) parece mais preocupada em marcar
presença em recepções e com as cores das roupas que veste. A filha (papel de
Michelle Ferreira) não compreende como a mãe, com um passado contestador,
adotou a futilidade. O desaparecimento da jovem, depois de participar de uma
manifestação, leva a mulher, a contragosto, a rever a própria história e a
estabelecer ligações com os dias de hoje. Jorge Emil completou o elenco.
Imortais, direção
de Inez Viana
O ótimo drama trouxe o autor Newton Moreno na sua melhor
forma desde o sucesso de Agreste, em 2004. As tradições e
crendices do povo nordestino aparecem conectadas a uma polêmica contemporânea
tratada de maneira sublime. A trama centra o foco em uma viúva
conservadora (interpretada por Denise Weinberg) que, sofrendo de uma doença
terminal, se instala em um túmulo próximo ao do marido para esperar a morte. O
sossego é interrompido pelo retorno da filha rebelde (a atriz Michelle
Boesche), afastada de casa há seis anos, ao lado do noivo (representado por
Simone Evaristo), uma mulher em processo de transformação para homem trans.
Com dramaturgia de Luiz Farina baseada no romance de Prosper
Mérimée, a peça promove um oportuno diálogo referente aos dias de hoje.
Afinal, só pela originalidade faz sentido promover a nova leitura de uma
história tão revisitada. Desta vez, a personagem ganha o corpo e a alma da atriz
e bailarina Natalia Gonsales. A encenação propõe o ponto de vista de José
(papel de Flávio Tolezani) atrás das grades, remontando o quebra-cabeça que o
privou da liberdade. Carmen também defende sua identidade e abre espaço para o
debate em torno do feminismo e da banalização da violência contra a mulher.
Vitor Vieira também está no elenco.

Natalia
Gonsales e Flavio Tolezani: Carmen dialoga com os dias de hole (Ronaldo
Gutierrez/Divulgação)
O Rei da Vela, direção
de Zé Celso Martinez Corrêa
Zé Celso dirige cinco décadas depois uma nova versão
do texto de Oswald de Andrade e tudo continua absurdamente atual. Escrita em 1933, logo depois da derrocada dos barões do café, a
peça foi consagrada como opositora ao regime militar no fim dos anos 1960 e,
hoje, reflete o país polarizado e desigual de 2017. O agiota Abelardo I
(interpretado por Renato Borghi) enriqueceu emprestando dinheiro aos
endividados a juros altíssimos. O caráter emotivo de ver um clássico tem
força inegável, mas não se sobrepõe, neste caso, à mensagem pertinente sobre os
contrastes sociais e políticos.
Preto, direção de
Marcio Abreu
A montagem da Companhia Brasileira de Teatro radicalizou ao fechar
o foco nas diferenças, principalmente no racismo. Comandado por Marcio Abreu, o
espetáculo tem dramaturgia concebida por Grace Passô, Nadja Naira e pelo
próprio diretor e contou com Renata Sorrah no elenco. A encenação oferece
ferramentas ao público para que ele tire suas conclusões sobre o que seria ou
não discriminação. O elenco imprime uma grande naturalidade nas composições e
jamais exagera no tom.
Dilúvio, direção de
Gerald Thomas
O encenador e dramaturgo montou o seu melhor
espetáculo desde Um Circo de Rins e Fígados, de
2005. Thomas estreita de forma radical o diálogo com as artes visuais e
a dança. As bailarinas Lisa Giobbi e Julia Wilkins esbanjam técnica em
coreografias, a maioria aéreas, que reforçam a dramaturgia e, com lirismo,
amenizam o pessimismo inicial. O encenador desenhou um fim do mundo em que a
população é usada como munição e recorreu a temas pertinentes, como o
feminicídio, a homofobia e a intolerância, para expandir a compreensão da obra. As
atrizes Maria de Lima, Ana Gabi, Beatrice Sayd e Isabella Lemos formaram o
elenco

Dilúvio:
Maria de Lima, Ana Gabi e Beatrice Sayd (Roberto Setton/Divulgação)
Boca de Ouro, direção
de Gabriel Villela
Em um momento de grande inspiração, o diretor
minimizou a tragédia do texto original de Nelson Rodrigues e transformou a
história em uma grande melodrama capaz de atingir contornos cômicos. Quando o bicheiro (Malvino Salvador) que trocou os dentes por uma
dentadura dourada morre misteriosamente, sua viúva, Dona Guigui (Lavínia
Pannunzio), é procurada para relatar como era o falecido — e apresenta três
versões. Mel Lisboa, Claudio Fontana e Chico Carvalho também se destacaram
no elenco.
O dramaturgo e diretor Pedro Granato criou um
surpreendente espetáculo sobre a intolerância e a violência. Não soa leviano afirmar que a peça foi inspirada no roteiro do
filme argentino Relatos Selvagens. É inegável, porém, que o
espetáculo consegue ser mais perturbador por privilegiar a encenação de
narrativas de conotação política e social com extremo realismo. Granato
jogou em cena imagens impactantes e delicadas para temas espinhosos, amparado
na coreografia de Inês Bushatsky e na iluminação de Gabriel Tavares.
Refluxo, direção de
Eric Lenate
O espectador começava a ser instigado logo na entrada do Mezanino
do Centro Cultural Fiesp, assim que se acomoda na plateia do espaço cênico
transformado em um grande elevador. Foi de lá que público acompanhou a rotina
do oprimido ascensorista Dário (interpretado por Maurício de Barros), que
aperta o botão para o sobe e desce dos estranhos moradores de um edifício. A
cantora de churrascaria Diva (papel de Lavínia Pannunzio), o escritor
fracassado Túlio (o ator Laerte Késsimos), a esnobe Cleide (a atriz Patrícia
Vilela), a solitária Dona Corina (Agnes Zuliani) e o síndico Abreu (Carlos
Morelli) eram alguns deles.

Lavínia
Pannunzio, Laerte Késsimos e Maurício de Barros: comédia dramática de Angela
Ribeiro (Leekyung Kim/Veja SP)
https://vejasp.abril.com.br/blog/dirceu-alves-jr/as-dez-melhores-pecas-do-ano-de-2017-em-sao-paulo/
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