sábado, 14 de maio de 2016

“Rainhas do Orinoco” estreia hoje no Teatro Vivo

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Foto: Divulgação
Walderez de Barros (Mina), Luciana Carnieli (Fifi) e o músico Dagoberto Feliz estreiam nesta-sexta-feira (13) no espetáculo Rainhas do Orinoco, no Teatro Vivo, em São Paulo. Com direção de Gabriel Villela, a comédia do mexicano Emilio Carballido, com tradução de Hugo de Villavicenzio, é um teatro recheado de canções latino-americanas.
A encenação foi construída a partir da estética do circo–teatro, tal qual ele existiu no Brasil até meados dos anos 60, que teve seu auge com Vicente Clestino, Gilda de Abreu, Tonico e Tinoco, José Fortuna, Circo Arethusa, Dercy Gonçalves, Grande Otelo, Oscarito, com os grandes circos e grandes melodramas.
“Este espetáculo é o irmão ingênuo, formoso, brincalhão da minha montagem de “Vem Buscar-me Que Ainda Sou Teu”, de Soffredini, em 1990, e que foi um momento em que a arte popular acabou nos dando a matéria prima para a configuração de um teatro mais brasileiro, do interior do Brasil profundo. Carballido teve a sabedoria de fazer uma grande comédia. A peça é um depoimento humanista de alguém que enxerga através da comédia e do melodrama a existência de dois seres humanos desprotegidos na carne e nos grotões da America Latina. Colocamos em cena esse texto usando a linguagem estética do circo-teatro”, comenta Villela.
A atriz Walderez de Barros em cena no musical (Foto: Divulgação)
A atriz Walderez de Barros em cena no musical (Foto: Divulgação)
Para isso, Gabriel conta com parceiros especiais. Os diretores assistentes Ivan Andrade e Daniel Mazzarolo estão juntos com Gabriel desde o primeiro ensaio. A direção musical, preparação vocal, arranjos vocais e a partitura dos textos coube à mineira Babaya, que já fez 29 espetáculos com o diretor, enquanto os arranjos instrumentais foram elaborados pelo musicista, diretor e ator Dagoberto Feliz. Os figurinos com cores, texturas e caimentos inspirados em toda a América Latina são de Gabriel Villela. A cenografia de William Pereira remete a um pequeno picadeiro em formato de barco com telões naif reproduzindo a fauna e a flora de uma floresta equatorial. A iluminação é de Caetano Vilela e os adereços e objetos de cena foram confeccionados em sua maioria por Shicó do Mamulengo. A direção de produção é de Cláudio Fontana.
Os ingressos custam entre R$ 25 (estudante) e R$ 80 e podem ser adquiridos na bilheteria do local ou pelo siteIngresso Rápido.
Teatro Vivo fica na Avenida Doutor Chucri Zaidan, 2460 – Morumbi.
http://equipenews.com.br/entretenimento/rainhas-do-orinoco-estreia-hoje-no-teatro-vivo

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WALDEREZ DE BARROS ESTREIA NOVO ESPETÁCULO DIRIGIDO POR GABRIEL VILLELA NO TEATRO VIVO

Redação do Aplauso Brasil (redacao@aplausobrasil.com)
Rainhas do Orinoco em cartaz no Teatro Vivo, em São Paulo. Foto: João Caldas.
“Rainhas do Orinoco” em cartaz no Teatro Vivo, em São Paulo. Foto: João Caldas.
SÃO PAULO – O diretor Gabriel Villela cultiva velhas parcerias como as atrizes Walderez de Barros e Luciana Carnieli para seu novo espetáculo Rainhas do Orinoco. A peça conta a história de duas atrizes de teatro musical que ganham a vida com shows pela América Latina. Viajando em um barco pelo rio Orinoco, cantam e representam seus amores e seus sonhos. O projeto faz parte do Vivo EnCena e estreia na sexta-feira (13), às 21h30.
A encenação foi construída a partir da estética do circo–teatro, tal qual ele existiu no Brasil até meados dos anos 60, que teve seu auge com Vicente Clestino, Gilda de Abreu, Tonico e Tinoco, José Fortuna, Circo Arethusa, Dercy Gonçalves, Grande Otelo, Oscarito, com os grandes circos e grandes melodramas.
A atmosfera de circo aparece na cenografia e adereços também. O primeiro assinado por William Pereira remete a um pequeno picadeiro em formato de barco com telões naif reproduzindo a fauna e a flora de uma floresta equatorial. Já os adereços são, na maioria, confeccionados por Shicó do Mamulengo.
Rainhas do Orinoco traz música tocada e cantada ao vivo pelos atores. Nesta montagem, as esquetes, os entreatos trarão canções diferentes das sugeridas pelo autor no texto original. A base da pesquisa são canções da América Latina cantadas na voz de Cascatinha e Inhana.
As atrizes Walderez de Barros e Luciana Carnieli e o ator Dagoberto Feliz têm uma parceria antiga com o diretor Gabriel Villela. Para Gabriel, “Walderez e Luciana são duas atrizes de gerações diferentes, mas de muita importância para todas as gerações. Dagoberto é um grande clown-palhaço, um grande artista e esteve na montagem de Vem Buscar-me, ou seja, ele entende o que eu estou pensando para esta peça”.
Vivo EnCena
Rainhas do Orinoco integra o projeto cultural Vivo EnCena, uma iniciativa da Telefônica Vivo. “A Vivo acredita que o teatro vai além do espetáculo e investe na música e nas artes cênicas como elemento de transformação. Por isso, além de viabilizar esta peça maravilhosa com texto do mexicano Emilio Carballido e com direção do premiado Gabriel Villela, promovemos também uma turnê nacional” revela a diretora de Gestão Responsável e Sustentável da Telefônica Vivo, Heloísa Genish.
“Além da peça, a programação traz também os “Encontros Vivo EnCena”, que acontecem após o espetáculo e geram a aproximação do público com o artista, convidando para a reflexão criativa quem produz e quem consome cultura”, destaca Heloísa. O Vivo EnCena oferece ainda workshops gratuitos que buscam a formação de plateia e a inclusão cultural. Realizado há mais de doze anos, o projeto beneficia 20 estados brasileiros e tem curadoria e gestão do Teatro Vivo, na capital paulista
Vivo Transforma
 Vivo EnCena integra a plataforma Vivo Transforma, criada pela Telefônica Vivo em 2015 para promover a democratização do acesso à cultura e o envolvimento das comunidades em iniciativas voltadas essencialmente à música e às artes cênicas. Em 2016, são mais de 90 projetos apoiados por meio das leis de incentivo fiscal, em diferentes regiões do país, com foco em transformação social, revelação de novos talentos e valorização da cultura nacional.

Ficha Técnica
Texto: Emilio Carballido Tradução: Hugo de Villavicenzio. Direção: Gabriel Villela. Elenco: Walderez de Barros, Luciana Carnieli e Dagoberto Feliz.Figurino: Gabriel Villela Cenografia: William Pereira. Arranjos Instrumentais: Dagoberto Feliz. Direção Musical: Babaya. Iluminação: Caetano Vilela. Assistentes de direção: Ivan Andrade e Daniel Mazzarolo. Produção Executiva: Luiz Alex Tasso. Direção de Produção: Claudio Fontana.Patrocínio: Vivo e 2S Inovações Tecnológicas

Serviço para Roteiros
 http://www.aplausobrasil.com.br/2016/05/13/walderez-de-barros-estreia-novo-espetaculo-dirigido-por-gabriel-villela-no-teatro-vivo/
RAINHAS DO ORINOCO, de Emilio Carballido, tradução de Hugo de Villavicenzio. Comédia. Mina e Fifi são duas atrizes de teatro musical que ganham a vida com shows pela América Latina. Viajando em um barco pelo rio Orinoco, cantam e representam seus amores e seus sonhos em uma aventura repleta de lirismo, canções, drama e bom humor.  Elenco: Walderez de Barros, Luciana Carnieli e Dagoberto Feliz Direção: Gabriel Villela.Duração: 90min. Onde: Teatro VIVO: Av Dr Chucri Zaidan, 2460, Morumbi – telefone:(11) 974201529. Temporada: Sextas às 21h30, sábados às 21h e domingos às 18h. Ingresso:  R$ 50 (sex), R$ 50 a 80 (sáb e dom). Classificação 14 anos. Estreia 13/05. Até 3 de julho.
– 50% de desconto para Cliente Vivo Valoriza e um acompanhante.

sexta-feira, 13 de maio de 2016


Diretor mineiro investiga o popular e o político da América Latina em musical

NELSON DE SÁ
DE SÃO PAULO

13/05/2016 02h04

O diretor mineiro Gabriel Villela não quer que ninguém esqueça o que aconteceu com o rio Doce, em novembro. Antes avesso à política, ele até se filiou a organizações que lutam para manter a tragédia ambiental de Mariana (MG) no foco das redes sociais e da opinião pública.
E estreia nesta sexta-feira (13) uma peça que se passa num rio, Orinoco, que termina numa das maiores áreas de exploração de petróleo do mundo, na Venezuela.
É uma comédia musical popular, do mexicano Emilio Carballido (1925-2008), com temas relacionados indiretamente à América Latina toda, como descreveu o próprio autor, que é uma das maiores referências na dramaturgia regional recente, em entrevista à Folha em 2003.
João Caldas/Divulgação
Luciana Carnieli, Walderez de Barros e Dagoberto Feliz em cena da peça 'Rainhas do Orinoco
Luciana Carnieli, Walderez de Barros e Dagoberto Feliz em cena da peça 'Rainhas do Orinoco'
"Rainhas do Orinoco" acompanha a pessimista Mina e a otimista Fifi, supostas vedetes, mas que estão mais para prostitutas, em sua viagem fantasiosa pelo rio, enfrentando "situações difíceis" que remetem alegoricamente à "luta dos povos latino-americanos", como afirmou o dramaturgo.
É realismo mágico, próprio de uma geração encabeçada por Carballido, explica o diretor, citando o argentino Arístides Vargas e o brasileiro Carlos Alberto Soffredini –de "Vem Buscar-me que Ainda Sou Teu", o primeiro espetáculo de Villela (foi montado em 1989), que a descreve como uma peça-irmã de "Rainhas do Orinoco".
O programa do novo espetáculo sublinha o elo com o realismo mágico por meio de um texto do colombiano Gabriel García Márquez sobre a América Latina, inclusive o trecho que fala desta "pátria imensa de homens alucinados e mulheres históricas, cuja tenacidade sem fim se confunde com a lenda".
Mas nada é muito explicitado, politicamente, nos duelos verbais que marcam a peça no palco. São "duas putas", descreve o diretor, que "vão ficando grandes, até o final 'Thelma & Louise'", à maneira do filme hollywoodiano de 1991, e ambas são lançadas de uma catarata.
CIRCO-TEATRO
Mina é interpretada por Walderez de Barros, atriz brasileira histórica, que começou no CPC (Centro Popular de Cultura) da UNE e em 1968 já estava na novela "Beto Rockfeller". Natural de Ribeirão Preto (SP), ela se inspira no contato que teve, criança, com o circo-teatro.
"O teatro que eu vi na minha infância era circo", diz. "A minha formação é essa, 'Sansão e Dalila' no picadeiro. 'Rainhas do Orinoco' mexe com a minha memória mais antiga. É claro que tem o momento em que a gente renega, só quer teatro de Paris, da Europa, mas depois passa e a gente volta."
Walderez diz que "o belo, para mim, está ligado a isso". Ela divide o palco com Luciana Carnielli, que faz Fifi e que já trabalhou com Villela nas montagens de "Ópera do Malandro" e "Gota d'Água", musicais de Chico Buarque de Holanda, e com o ator e músico Dagoberto Feliz.
João Caldas/Divulgação
Luciana Carnieli, Walderez de Barros e Dagoberto Feliz em cena da peça 'Rainhas do Orinoco
Luciana Carnieli, Walderez de Barros e Dagoberto Feliz em cena da peça 'Rainhas do Orinoco'
Feliz, que dirigiu o mesmo texto há sete anos, também faz os arranjos instrumentais. A direção musical é de Babaya. Junto com Villela, eles mudaram as canções. No lugar daquelas separadas por Carballido, "resolvemos pegar Cascatinha e Inhana, guarânias paraguaias e outras", descreve o diretor.
A dupla sertaneja paulista e demais compositores populares, inclusive músicas recolhidas no interior mineiro, formam um elemento entre muitos na encenação como sempre "barroca" de Villela –descrição com que não concorda muito, mas aceita por indicar o cuidado com detalhes que o caracteriza. Outro é o cenário de William Pereira, que se aproximaria dos painéis de ópera.
Como Walderez, também o diretor, que é de Carmo do Rio Claro, interior de Minas, conheceu o teatro por meio do circo, o que se reflete nos figurinos com "cores, texturas e caimentos" desenhados por ele –e, desta vez, inspirados também por suas viagens pela América Latina.
Uma delas, a mais significativa, que ele relata com entusiasmo e grande detalhe, foi para o México de Carballido, de onde trouxe imagens, entre muitas outras, da "festa dos mortos".
RAINHAS DO ORINOCO
QUANDO sex., às 21h30; sáb., às 21h; dom., às 18h; até 3/7
ONDE Teatro Vivo - av. Dr. Chucri Zaidan, 2.460, tel. (11) 9-7420-1529
QUANTO R$ 50 (sex.) e R$ 50 a 80 (sáb. e dom.)
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
http://m.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/05/1770598-diretor-mineiro-investiga-o-popular-e-o-politico-da-america-latina-em-musical.shtml?mobile


Rainhas do Orinoco. E o tamanho da nossa solidão latino-americana.

"... e, eu, rio abaixo, rio  a fora, rio a dentro - o rio". 
 (A Terceira Margem do Rio - Guimarães Rosa)

http://alicequemedisse2.blogspot.com.br/2016/05/rainhas-do-orinoco-e-o-tamanho-da-nossa.html





O Orinoco é o principal rio da Venezuela, correndo por 4/5 do seu território, e interligando um de seus braços, ainda no seu alto curso, às águas do Rio Negro.

Se todo rio tem ou não três margens pode até ser discutível! Mas que esse  rio Orinoco tem, não há dúvidas! E a sua 3ª margem passa bem aqui pertinho, em Carmo do Rio Claro - Minas Gerais, à beira do Lago de Furnas!

E é essa terceira margem,  tão imaginária quanto real,  que une, pelo talento do diretor Gabriel Villela, a nossa latinidade solitária e solidária.

O texto do dramaturgo mexicano Emilio Carballido é uma dessas obras  que  atrai para a leitura sôfrega, ao mesmo tempo em que obriga a  leituras saboreadas pausadamente. Um texto leve e intenso, cômico e dramático, real e onírico, cru e poético, social e individual, político e alienado.

Essas dualidades e paradoxos tão característicos da essência latino-americana têm eco imediato. Reconhecemo-nos imediatamente no humor sarcástico, na esperança teimosa e no fatalismo melancólico.

Mina e Fifi, duas artistas mambembes  a bordo do barco Stella Maris, embrenham-se, à deriva - literal e metaforicamente -  no coração do fim do mundo - literal e metafórico.



Walderez de Barros, em mais uma brilhante interpretação, surpreende pela comicidade de quem a associa aos grandes clássicos! Que maravilha! Na pele de Mina, emociona pela sabedoria da maturidade, pela obstinação pela sobrevivência e pela cumplicidade. Emociona também pela melancolia desesperançada e desgastada pelos anos tão duramente vividos.



Luciana Carnelli, como a jovem Fifi, é o contraponto leve, otimista e refrescante! É  quem dá alento.  É quem vê futuro na incerteza. E quem encanta-se com o feio, áspero e cruel. A alienação  quase infantil  é o sopro de brisa que navega o barco para o seu destino duvidoso.




Entre uma e outra, o elo do músico Dagoberto Feliz,cuja presença e intervenção costura os pontos dissonantes  em harmonia melódica e de pertencimento. Que lindo repertório latino! Que variedade de gêneros e nacionalidades! Que alternância mágica entre o acordeom  e o piano!

Impossível não associar de imediato à Vem Buscar-me Que Ainda Sou Teu (Carlos Alberto Soffredini), também sobre uma companhia mambembe de circo-teatro, montada por Gabriel Villela em 1990. Foi a primeira peça que vi do diretor e determinante para a minha enorme admiração pelo seu estilo único de unir o clássico ao popular e de imprimir cores fortemente locais a temas universais.




Cenário, como sempre, fortemente alegórico e com detalhes cuidadosos. Da cortina ao painel maravilhoso,  deslumbramentos caudalosos!

Figurinos, também como sempre, impecáveis e de composições inesperadas e  potentes! Cores fortes, tecidos e texturas variadas compõem um verdadeiro  mostruário das definições latinas! Todas lá, reconhecíveis e representadas! Que combinações felizes!

No melhor estilo Gabriel García Márquez, Rainhas do Orinoco é o espelho das nossas mazelas, marginalidades, realidades assombrosas, utopias e nó da nossa solidão. A América Latina corre a bordo do barco desgovernado. Sem alegorias. Sem metáforas.

No mais, é aprender e acreditar, também parte do nosso repertório latino, que sempre "ainda falta o mais interessante'!!

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Gabriel Villela encena ‘Rainhas do Orinoco’

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Os clássicos sempre mereceram espaço no repertório do diretor Gabriel Villela. Ao longo de sua trajetória, o artista mineiro assinou diversas montagens de Shakespeare, incluindo sua festejada versão de Romeu e Julieta, com o Grupo Galpão, e a recente A Tempestade. Também já passou por Schiller, Calderón de la Barca e pelos trágicos gregos.
É com desenvoltura que ele envereda por esse território. Contudo, invariavelmente, o criador retorna a suas raízes. Às memórias da infância em Rio Claro (MG), à magnificência do imaginário brasileiro, aos ícones da cultura popular. “É como se buscasse um eterno balanço entre esses dois universos, sempre oscilando entre o clássico e o popular”, comenta Villela, prestes a estrear Rainhas do Orinoco.
Na comédia do mexicano Emilio Carballido, que abre temporada nesta sexta-feira, 13, no Teatro Vivo, o foco recai sobre as agruras de duas artistas mambembes. Para pontuar a trama, o encenador foi buscar canções latino-americanas, as cores exuberantes do México, do Peru e da Bolívia e a estética do circo-teatro – gênero que vigorou por mais de meio século e amparou o desenvolvimento das artes cênicas no País.
Walderez de Barros vive Mina. Reconhecida pela densidade de seus papéis, a veterana atriz surge no palco como uma desesperançada e debochada artista de cabaré. Acompanhada por Fifi (Luciana Carnieli), ela percorre o continente – de El Salvador a Manaus, de Maracaibo a Bogotá. Já passou por incontáveis cidades, teve seus breves momentos de glória e uns tantos percalços. Mas, agora, os tempos parecem mais amargos.
A bordo de um barco, o Stela Maris, a dupla percorre os grotões da amazônia venezuelana navegando pelo rio Orinoco. Conseguiu um contrato para algumas apresentações. Mas não propriamente em uma casa de espetáculos. O público de um bordel, perdido nos confins do mundo, em um acampamento petrolífero, é tudo o que as espera. Serão recebidas como artistas ou como prostitutas? “São duas criaturas sem nenhuma perspectiva de futuro”, define Luciana Carnieli.
Se o destino reservado às personagens não se revela auspicioso, o que importa é a travessia. Como lidam com a perspectiva do fim, com a rudeza da realidade, sem perder de vista a mágica inerente à sua arte. Não por acaso, Villela evoca Gabriel García Márquez e suas reflexões sobre a América Latina. Terra em que as pestes, a opressão e a fome se transformam em matéria para a fábula e a utopia.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
http://istoe.com.br/gabriel-villela-encena-rainhas-do-orinoco/


http://cultura.estadao.com.br/noticias/teatro-e-danca,com-cores-exuberantes-e-cancoes-latinas--gabriel-villela-encena-rainhas-do-orinoco,10000050497

Com cores exuberantes e canções latinas, Gabriel Villela encena ‘Rainhas do Orinoco’

 - Atualizado: 12 Maio 2016 | 06h 00

Do mexicano Emilio Carballido, peça com Walderez de Barros entra em cartaz na sexta-feira, 13, e mostra duas artistas mambembes

Os clássicos sempre mereceram espaço no repertório do diretor Gabriel Villela. Ao longo de sua trajetória, o artista mineiro assinou diversas montagens de Shakespeare, incluindo sua festejada versão de Romeu e Julieta, com o Grupo Galpão, e a recente A Tempestade. Também já passou por Schiller, Calderón de la Barca e pelos trágicos gregos. 
É com desenvoltura que ele envereda por esse território. Contudo, invariavelmente, o criador retorna a suas raízes. Às memórias da infância em Rio Claro (MG), à magnificência do imaginário brasileiro, aos ícones da cultura popular. “É como se buscasse um eterno balanço entre esses dois universos, sempre oscilando entre o clássico e o popular”, comenta Villela, prestes a estrear Rainhas do Orinoco
Música. Ao vivo, trilha se inspirou na dupla Cascatinha e Inhana
Música. Ao vivo, trilha se inspirou na dupla Cascatinha e Inhana
Na comédia do mexicano Emilio Carballido, que abre temporada nesta sexta-feira, 13, no Teatro Vivo, o foco recai sobre as agruras de duas artistas mambembes. Para pontuar a trama, o encenador foi buscar canções latino-americanas, as cores exuberantes do México, do Peru e da Bolívia e a estética do circo-teatro – gênero que vigorou por mais de meio século e amparou o desenvolvimento das artes cênicas no País. 
Walderez de Barros vive Mina. Reconhecida pela densidade de seus papéis, a veterana atriz surge no palco como uma desesperançada e debochada artista de cabaré. Acompanhada por Fifi (Luciana Carnieli), ela percorre o continente – de El Salvador a Manaus, de Maracaibo a Bogotá. Já passou por incontáveis cidades, teve seus breves momentos de glória e uns tantos percalços. Mas, agora, os tempos parecem mais amargos.
A bordo de um barco, o Stela Maris, a dupla percorre os grotões da amazônia venezuelana navegando pelo rio Orinoco. Conseguiu um contrato para algumas apresentações. Mas não propriamente em uma casa de espetáculos. O público de um bordel, perdido nos confins do mundo, em um acampamento petrolífero, é tudo o que as espera. Serão recebidas como artistas ou como prostitutas? “São duas criaturas sem nenhuma perspectiva de futuro”, define Luciana Carnieli. 
Se o destino reservado às personagens não se revela auspicioso, o que importa é a travessia. Como lidam com a perspectiva do fim, com a rudeza da realidade, sem perder de vista a mágica inerente à sua arte. Não por acaso, Villela evoca Gabriel García Márquez e suas reflexões sobre a América Latina. Terra em que as pestes, a opressão e a fome se transformam em matéria para a fábula e a utopia. 
Mais reconhecido dramaturgo mexicano de sua época, Emilio Carballido (1925-2008) fez do mar uma constante em sua obra. Em vários de seus textos, o oceano aparece como cenário. No caso de Rainhas do Orinoco, porém, é um rio que merece protagonismo. E esse talvez tenha sido um dos traços a permitir que Gabriel Villela se sentisse tão à vontade ao encená-lo. 
Quando fala de suas motivações e referências, o diretor mineiro recorre ao universo delineado por Guimarães Rosa não apenas em Grande Sertão: Veredas, mas sobretudo em a Terceira Margem do Rio, talvez o mais célebre conto do autor. Obra que também lhe serve de esteio na literatura brasileira é Vem Buscar-me Que Ainda Sou Teu, de Carlos Alberto Soffredini. 
Em 1990, Villela assinou a direção de uma montagem dessa peça. Com uma trama que retrata uma família de circenses, o texto já apresentava vários dos elementos que o encenador agora reencontra: a arte popular, a escrita que cambaleia entre o prosaico e o lírico, o drama filtrado pelo humor, certa veia de ingenuidade. “O que me permite voltar àquele universo naïf, de leveza, que já estava lá apontado”, crê o diretor. 
Quem estava presente em Vem Buscar-me Que Ainda Sou Teu e volta a marcar presença em Rainhas do Orinoco é o ator e musicista Dagoberto Feliz. Ao longo da encenação, ele acompanha as personagens Mina (Walderez de Barros) e Fifi (Luciana Carnieli) ao acordeom e ao piano, além de assinar os arranjos musicais das canções, executadas ao vivo. 
Ao escrever a peça, Carballido já a havia concebido como comédia musicada, com números a entremear as cenas. A atual versão, porém, altera o repertório previsto. Marca do trabalho do diretor é o uso pouco ortodoxo e bastante autoral que faz das trilhas sonoras em seus espetáculos. Um grau de liberdade que lhe permitiu perscrutar, por exemplo, temas de procissões religiosas e serenatas das festas de Minas Gerais para embalar sua montagem de Romeu e Julieta. Em parceria com a preparadora vocal Babaya – com quem concebeu 29 peças –, Villela encontrou no repertório latino da dupla sertaneja Cascatinha e Inhana o tom para a saga das duas artistas que atravessam o Orinoco. 
A literatura latino-americana é pródiga em eleger personagens marginais, lançando luzes às figuras que a conformação social costuma guardar nas sombras. Neste Rainhas do Orinoco se acompanha o percurso de duas criaturas à deriva. Tanto em sentido metafórico – sem rumo profissional – quanto literal – estão em um barco no qual todos os tripulantes desapareceram e seguem sem a certeza de que chegarão ao seu destino.
Jovem, a personagem Fifi conserva alguma fé no futuro, é solar e sempre crédula. Um nítido contraponto à sua parceira de cena. Mais madura, Mina encara com amargura o que lhe está reservado. Mas nem por isso perde a altivez, como se imbuída da certeza de que seu ofício, ancestral, a transcende e é maior que ela. “Hoje, acredita-se que ser artista é algo sofisticado, glamouroso. Essa personagem é uma oportunidade de voltar às raízes, de mostrar o verdadeiro significado de ser artista”, aponta Walderez de Barros. 
RAINHAS DO ORINOCO
Teatro Vivo. Av. Dr. Chucri Zaidan, 2.460; 97420-1529. 6ª, 21h30; sáb., 21h; dom., 18h. R$ 50 a 80. Até 3/7. Estreia amanhã, 13/5