Diretor e cenógrafo Gabriel Villela ministra curso em Manaus; leia entrevista
A gente é o nosso currículo em termos de peças realizadas mais do que em prêmios recebidos, diz diretor ao Jornal do Commercio

Foto: Divulgação

MANAUS - Como a dramaturgia do teatro musicado (falado e cantado) influência a criação de uma personagem? Quais as características da preparação do ator para o teatro musicado? Em entrevista exclusiva, o diretor, cenógrafo e figurinista mineiro Gabriel Villela fala sobre o que é atuar e o amor pela arte. Ele ministra dois dias de curso na capital amazonense sobre “A Música em Cena” nos dias 27 e 28 deste mês.
As inscrições são gratuitas, para maiores de 18 anos e estão abertas até o dia 16 de maio, por meio do e-mail: lvivoencena@gmail.com. No campo “Assunto” preencher com o nome do workshop. No corpo do email informar dados pessoais incluindo nome completo, RG, telefones para contato e e-mails, além de citar experiência artística (É imprescindível ter noções básicas de canto, com afinação) e interesse na atividade. As vagas são limitadas, havendo seleção entre os inscritos.
Os selecionados receberão e-mail e ligação telefônica no dia 20 de maio. Durante os dois dias de curso, os participantes ouvirão relatos práticos dos resultados dos espetáculos dirigidos por Gabriel Villela em parceria com Babaya como “Romeu e Julieta”, “A Rua da Amargura” e “Os Gigantes da Montanha” com o Grupo Galpão. Outros espetáculos abordados serão “A Tempestade”, que teve excelente repercussão de público e prêmios e, ainda, “Rainhas do Orinoco”, em cartaz em São Paulo.
Estilo de Vida: Sua experiência é focada no teatro. A televisão nunca te seduziu?
Gabriel Villela: Não. Não tenho nenhuma ligação com a linguagem televisiva. Aliás, eu a desconheço e não tenho conhecimento nessa aérea.
EV: Há diferenças entre o ator de teatro, ator de televisão ou ator de cinema? Um único ator pode passear em todos?
GV: Na origem etimológica da palavra ator em grego, está a explicação para esta função. Ator é "aquele que responde o que ouve". Na TV, no cinema e sobretudo no teatro a fórmula é a mesma. Não há diferença entre os atores de TV, cinema e teatro. Quando são bons, são bons em qualquer área. Há, porém, os "farsantes" que se viram numa linguagem mais frágil como a da TV e quando chegam ao teatro, decepcionam.
EV: O figurinista e o cenógrafo trabalham juntos. Como essa visão te ajuda na hora de dirigir?
GV: O impulso para criar a cenografia e o figurino vem da necessidade que tenho de transformar o espaço de ensaios numa espécie de ateliê renascentista onde a arte é produzida artesanalmente por várias mãos. Por exemplo, uma cama antiga e colchões estão por definir o chão e o ambiente de "Peer Gynt", de Ibsen, minha próxima direção teatral. Entendo que o figurino de design antropológico senta à mesa como instrumento artístico de estilo e de discussão de personagem.
EV: Você vem a Manaus falar sobre ‘Música em cena’. Quais as características da preparação do ator para o teatro musicado?
GV: O ator para o teatro musicado que me proponho a fazer deve conhecer as características do teatro popular. A parceria com Babaya é fundamental nesse sentido pois ela tem um conhecimento profundo da música interiorana mineira. O DNA da expressão da emoção, da comunicação direta com o coração está presente na melodia popular. Buscamos uma música popular que vá direto ao coração, sem filtros. O ator para o teatro musicado não necessariamente tem de ser um cantor com aptidões operísticas e nem ser tão afinado assim. O importante é que a sua voz eleve à condição do canto a palavra que não pode mais ser dita, a palavra que precisa ser cantada.
EV: Como a música em cena se relaciona com a dramaturgia?
GV: Quando entre no final da estória como arremate de uma ideia ou circunstância, característica do melodrama brasileiro da década de 50. Ex: "Coração Materno" ou "O Ébrio", de Vicente Celestino.
EV: Com tantos prêmios na prateleira, algum que ainda sonha receber?
GV: No meu caso, os prêmios foram concentrados na minha mocidade teatral, momento em que a gente se acha um pouco bacana demais. É certo que minha geração dos anos 90 investigou e pesquisou muito e, em alguns casos, os prêmios vieram em quantidade. Mas agora olho para eles nas prateleiras simplesmente agradecendo a beleza da aurora da minha vida no teatro. Não tenho mais ambições para prêmios após os 50 anos. A gente é o nosso currículo em termos de peças realizadas mais do que em prêmios recebidos.
EV: Curiosidade: Você já dirigiu também shows de cantores nacionais de renome. Qual a diferença entre dirigir atores e músicos no palco?
GV: Os cantores que dirigi como Maria Bethânia, Elba Ramalho, Milton Nascimento ou Ivete Sangalo tiveram na sua formação uma relação estreita com o teatro. Bethânia é uma grande intérprete. Elba também. Ivete pratica aquilo que uma atriz popular tem de melhor: o "timing" de comédia. E Milton, é um ator que comove com a sua voz e como Elis Regina bem o definiu antes de mim: é a voz de Deus na terra.
Por dentro sobre Gabriel Villela
Gabriel Villela estudou Direção Teatral na USP. É diretor, cenógrafo e figurinista. Iniciou sua carreira profissional em 1989 com “Você vai ver o que você vai ver”, de Raymond Queneau, e “O concílio do amor”, de Oscar Panizza. Desde então, recebeu 3 Prêmios Molière, 3 Prêmios Sharp, 12 Prêmios Shell, 10 Troféus Mambembe, 6 Troféus APCA, da reconhecida Associação Paulista de Críticos de Arte, 5 Prêmios APETESP, da Associação de Produtores de Espetáculos Teatrais de São Paulo, 2 Prêmios PANAMCO e 1 Prêmio Zilka Salaberry.
Encenou Camus (Calígula), Heiner Muller (Relações Perigosas), Calderón de La Barca (A Vida é Sonho), Schiller (Mary Stuart), William Shakespeare (MACBETH, RICARDO III e ROMEU e JULIETA), Strindberg (O Sonho), e os dramaturgos brasileiros Nélson Rodrigues (A Falecida e Vestido De Noiva), Arthur Azevedo (O Mambembe), João Cabral de Melo Neto (Morte e Vida Severina), Carlos Alberto Soffredini (Vem Buscar-Me que Ainda Sou Teu), Dib Carneiro Neto (Salmo 91) e Luís Alberto de Abreu (A Guerra Santa) e Alcides Nogueira (Ventania, A Ponte e A Água De Piscina).
Tornou-se um dos mais renomados diretores teatrais com reconhecimento internacional, sendo convidado a participar de Festivais nos EUA, Europa e América Latina. Com o Grupo Galpão, Villela foi convidado para uma temporada no Globe Theatre, em Londres. Seus últimos trabalhos foram: A Tempestade (2015) com Celso Frateschi, Um Réquiem Para Antonio (2014), com Elias Andreato e Claudio Fontana, Os Gigantes Da Montanha (2013), de Pirandello, com o Grupo Galpão e Mania De Explicação, com Luana Piovani.