
quarta-feira, 2 de julho de 2014
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ENTREVISTA
O ator Cláudio Fontana foi parar no teatro por acaso
Ele esteve recentemente em Campinas com a peça 'Um Réquiem para Antonio'
05/06/2014 - 13h00 | Delma Medeiros
delma@rac.com.br
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Foto: Edu Fortes/AAN
Cláudio Fontana em entrevista para o Papo C fala sobre Um Réquiem para Antonio
Cláudio Fontana em entrevista para o Papo C fala sobre 'Um Réquiem para Antonio'
Sua formação é em administração de empresas, mas a arte levou a melhor. O primeiro contato com as artes cênicas foi em um curso de teatro feito “apenas para desinibir”. Mas o prazer de viver emoções e personagens variados falou mais forte e Cláudio Fontana largou o emprego para se dedicar à carreira de ator. Seu primeiro trabalho profissional lhe rendeu o Prêmio da Associação dos Produtores de Espetáculos Teatrais de São Paulo (Apetesp). Logo depois foi chamado para sua primeira novela global. O ator, que atualmente está em turnê com o espetáculo Um Réquiem para Antonio, em que divide o palco com Elias Andreato, falou com exclusividade ao Caderno C durante sua passagem por Campinas.
Caderno C — Neste espetáculo, Um Réquiem para Antonio, você volta a trabalhar com o Elias Andreato. Como se deu esse reencontro?
Cláudio Fontana — Eu sempre brinco que esse espetáculo é minha declaração de amor ao Elias. Porque sempre tive e continuo tendo uma admiração muito grande por ele, um ator de teatro que ama seu ofício, que a gente sabe que é difícil. Conheci o Elias quando ele me dirigiu no 'Adivinhe quem Vem para Rezar', uma peça que fiz com o Paulo Autran. Fiquei fascinado com a forma como ele encara a profissão, o ofício, a maneira como dirige. Ele é ator, é diretor, é autor. Depois eu produzi um texto dele, trabalhei com ele em cena, numa comédia do Sergio Roveri chamada 'Andaime'. 'Um Réquiem para Antonio' surgiu, na verdade, dessa admiração. Eu e o Dib (Carneiro Neto, autor do texto) fomos assistir um monólogo que o Elias fazia e depois saímos para jantar. Eu disse que queria voltar a trabalhar com ele. Aí o Elias sugeriu abordar esse tema, tão mítico, da inveja do Salieri pelo Mozart. O Dib disse: “eu escrevo”. A gente brinca que nada como uma ação entre amigos. O teatro surge um pouco disso, ainda é uma atividade artesanal, carinhosa, então nada como fazer teatro com pessoas com as quais se tem afinidade.
Nesta peça particularmente, porque além do Elias, você volta a trabalhar com o Gabriel Villela, que te dirigiu em seu primeiro trabalho profissional?
Conheci o Gabriel quando ele dirigia o teatro amador do Clube Pinheiros, que eu frequentava. Fazia atletismo no Pinheiros e um dia vi um cartaz de “procura-se ator para o grupo de teatro amador”. Eu tinha brigado com meu técnico, que tinha me dado um treinamento muito forte e pensei, “vou ser ator”. Na época, era o Silnei Siqueira que estava dirigindo lá e eu comecei a fazer o teatro amador do clube e me apaixonei por essa possibilidade de viver outras emoções que não as minhas. E também para me desinibir. Na época eu era gerente de marketing de uma indústria química e foi o teatro que me possibilitou, de alguma forma, me sentir mais à vontade nas reuniões. Essa sensação de prazer de viver outros personagens me estimulou e continuei a fazer teatro amador, que foi a minha escola. Lá comecei a aprender, porque no teatro a gente está sempre aprendendo. O Gabriel participou do grupo de teatro do clube e depois foi dirigir o primeiro espetáculo profissional dele — 'Você Vai Ver o que Você Vai Ver'. Em seguida dirigiu 'Vem Buscar-me que Ainda Sou Teu', um texto do (Carlos Alberto) Sofredini, com a Laura Cardoso e me convidou para atuar. Na época, eu conciliava o trabalho com o teatro, mas depois da estreia do espetáculo, que ganhou vários prêmios, a televisão me chamou e eu pedi demissão do meu trabalho.
Na televisão qual foi seu primeiro trabalho?
Minha primeira novela foi 'Deus nos Acuda', do Sílvio de Abreu, direção do Jorge Fernando, em 1992. Era muito engraçado, tinha a Dercy Gonçalves no elenco, uma deliciosa companheira.
Além de atuar você também produz. Como nasceu o Cláudio produtor?
O produtor nasceu depois de uma novela. Eu fazia novela e voltava ao teatro. Acabou uma novela que eu fazia no SBT, 'As Pupilas do Senhor Reitor', uma novela ótima, com um elenco delicioso, com a Luciana Braga. Acabou a novela, nos vimos diante da velha rotina do ator “o que vou fazer agora?”. Porque ator não tem estabilidade, carteira assinada, emprego fixo. Eu e Luciana pensamos em produzir uma peça, ir atrás de um diretor, achar um texto, montar nossos projetos. A atividade de produção nasceu dessa vontade de criar nossa própria história como atores, conduzir nossas carreiras. Não ficar esperando o telefone tocar, mas ir atrás dos seus sonhos, dos projetos, trabalhar com as pessoas com as quais você tem afinidade, identificação.
E como começou?
Montamos uma produtora e fomos atrás desse sonho, a Lei Rouanet estava começando e a gente conseguiu apoio da Shell, que tinha uma influência muito grande no teatro brasileiro. Ainda existe o prêmio Shell, mas na época eles patrocinavam espetáculos. Comecei a produzir espetáculos nos quais trabalhava como ator. Pelo fato de eu ser ator, gosto de tratar bem o artista, acho que isso é um diferencial na minha produção, tanto que outros atores vieram me pedir para produzir as peças dele, como o Thiago Lacerda, Regina Braga, Drauzio Varella, Xuxa Lopes. Então também produzo espetáculos nos quais não estou trabalhando.
Tem algum trabalho que tenha sido mais marcante, ou o último é sempre o especial?
É verdade, com o último a gente está mais envolvido. Adoro fazer esse Mozart brincalhão, clownesco, mas acho que o mais marcante foi o penúltimo, a Lady Macbeth (da peça 'Macbeth'), uma peça também com direção do Gabriel, em que trabalhei com o Marcello Antony. Lady Macbeth é um dos personagens mais fascinantes da história do teatro e de toda a obra do Shakespeare. Muitos autores dizem que a Lady é a protagonista da peça, não o Macbeth. Então foi um desafio enorme, fazer um personagem feminino e ao mesmo tempo tão mau, no puro sentido do termo.
E como era aquele passinho que você usava na peça, em que parecia deslizar?
O passinho fez sucesso. A gente trabalhou a preparação corporal com o Ricardo Rizzo e com o próprio Gabriel e buscamos o contraponto dessa maldade toda, uma suavidade, como o rastejar de uma barata. A leveza no andar complementava toda aquela densidade e loucura dela. Foi uma descoberta corporal muito interessante. O teatro tem isso, o personagem não é só seu rosto, sua voz, é a expressão corporal também. Isso pesa muito no teatro. Então o corpo da lady Macbeth deu uma contribuição muito grande à construção da personagem.
Você já fez cinema?
Eu fiz um filme chamado 'I Hate' (Eu Odeio) São Paulo, que participou da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, com direção do Dardo Toledo Barros. Mas faz muito tempo (1998).
O foco é mais teatro mesmo?
Eu faço mais teatro e televisão, sempre a cada dois, três anos faço uma novela ou algum trabalho na televisão e nesses intervalos me dedico ao teatro.
No começo você falou que não é uma profissão fácil, quais as principais dificuldades, além da questão da instabilidade?
Pelo menos no meu caso, a maior dificuldades foi onde buscar conhecimento. Acho que o ator que não estuda não evolui, então sempre estudo muito. Como eu não fiz escola (de teatro), essa foi minha primeira dificuldade: como descobrir, obter informação, entender sobre as linguagens de interpretação, sobre o teatro brechtiano, o shakespeariano, enfim, era muito ávido por leitura e estudo. Faltam escolas de teatro. O Brasil precisa investir mais na área de artes cênicas, na formação do ator. O ator brasileiro ainda não é muito bem formado por falta de estrutura de escolas e de condições de trabalho. Muitos países tem seu Teatro Nacional, com elenco fixo contratado. O Sesi em São Paulo tem essa política de contratar atores, mas falta um corpo fixo de teatro. O ator, como eu disse, vive uma instabilidade financeira muito grande e isso é difícil.
Além da turnê com a peça, você tem outros projetos em vista?
Eu tenho um convite para fazer televisão, que ainda não está muito certo, para o ano que vem. Se der certo, me dedico no primeiro semestre à televisão. E tenho um novo projeto, um texto de Shakespeare que tenho muita vontade de montar. Se não puder fazer como ator vou só produzir, mas tomara que dê certo de estar no palco também.
Pode adiantar o nome?
'A Tempestade'. Um texto lindo, com o Francisco Cuoco e o Marcello Antony de novo.
TAGS | Claudio, Fontana, Ator, Entrevista, Correio, Campinas

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