sexta-feira, 3 de novembro de 2017

TEATRO IGUATEMI'Boca de Ouro' é uma fábula suburbana
 Publicado 30/10/2017 - 19h06 - Atualizado 30/10/2017 - 19h06
Por Delma Medeiros
Um grande clássico do dramaturgo Nelson Rodrigues, 'Boca de Ouro', que teve sua primeira montagem em 1960, volta à cena pelo olhar do diretor Gabriel Villela e estreia na próxima sexta-feira curta temporada no Teatro Iguatemi Campinas. Estrelada pelo ator Malvino Salvador, a tragicomédia conta em retrospecto a vida de um bicheiro carioca temido e megalomaníaco que ganhou o apelido porque trocou todos os dentes por uma dentadura de ouro.
Malvino Salvador e o ator e produtor Cláudio Fontana participaram nesta segunda-feira (30) de uma coletiva para falar sobre o espetáculo, que começa por Campinas sua turnê pelo País, após temporada em São Paulo.
Fontana, que além de atuar, assina a direção de produção, explica que o projeto surgiu há três anos, numa parceria entre Villela, ele e o ator Marcelo Antony. Os três há trabalharam juntos nos espetáculos 'Macbeth' (de Shakespeare) e 'Vestido de Noiva' (de Nelson Rodrigues). “Por questão de agenda, o Marcelo não pode continuar e o Gabriel convidou o Malvino”, conta Fontana.
Para os atores, apesar de ter sido escrito em 1959, o texto de Nelson Rodrigues continua muito atual. “Esse texto é atemporal, fala de coisas que continuamos a vivenciar. Trata do ambiente jornalístico, de notícias distorcidas, deixando a dúvida se o que importa é a veracidade da notícia ou a forma como ela é contada”, coloca o ator.
A peça começa com o assassinato do bicheiro Boca de Ouro e a investigação feita pelo repórter Caveirinha (Chico Carvalho), que interpreta também a grã-fina Maria Luiza. Sua fonte de informações é a dona Guigui (Lavínia Pannunzio), ex-amante do contraventor e uma mulher que, ao longo da peça, revela diferentes versões sobre o bicheiro. “Na primeira versão, antes de saber que ele havia morrido, ela o descreve como um monstro, com raiva por ter sido abandonada por ele. Ao saber que ele morreu, surge a ex-amante saudosa que conta outra história, de um Boca de Ouro mais humano”, explica Salvador. “Como o marido de Guigui fica furioso com a reação dela e ameaça deixá-la, ela apresenta uma terceira versão. A peça traz a mesma história contada de três maneiras diferentes”, reforça Fontana, que vive Leleco, um malandro suburbano, casado com Celeste (Mel Lisboa). Além deles, integra o elenco Leonardo Ventura e Cacá Toledo.
Segundo Fontana, a montagem de Gabriel Villela carrega no gênero melodramático do texto de Nelson. “Um dos trunfos do espetáculo é sair da linguagem naturalista.” A peça se passa numa gafieira, onde uma trupe encena a história. A trilha é interpretada ao vivo pelo pianista Jonatan Harold, que cria a ambiência musical para Mariana Elisabetsky interpretar canções imortalizadas na voz de Dalva de Oliveira (1917-1972).
Além da direção, Gabriel Villela criou os figurinos e a cenografia.
“Na visão do diretor, os figurinos e cenários ajudam a criar uma fábula, o que dá aos atores inúmeras possibilidades. Ele abre o leque para metáforas poéticas. Por exemplo, Boca de Ouro é chamado de Drácula de Madureira e Gabriel lhe deu características meio vampirescas”, adianta Salvador. “Pelas simbologias, o diretor faz uma crítica social para mostrar a trajetória mítica do bicheiro.”
As diferentes narrativas de Dona Guigui são exploradas pelo diretor de forma muito diversa. A cada nova versão da história é ressaltado um espaço arquetípico específico. O diretor se vale também da simbologia do candomblé e de máscaras astecas no espetáculo. A casa de Celeste e Leleco traz muitas representações de orixás sincretizados. A figura de Iansã (Guilherme Bueno), faz a contra-regragem das mortes da história, aparecendo toda vez que uma cena fatal acontece.
“Esse convite foi um presentaço, um privilégio. Estava louco para voltar a fazer teatro e surgiu essa oportunidade. O texto é fantástico, o personagem maravilhoso, a equipe, a direção do Gabriel, calhou de dar tudo certo”, afirma Salvador, citando que este é seu “primeiro Nelson Rodrigues”. “Mas espero que seja o primeiro de vários outros.”
AGENDE-SE
http://correio.rac.com.br/mobile/materia_historico.php?id=497180
O quê: 'Boca de Ouro'
Quando: de 3 a 12/11, sextas, às 21h; sábados, às 21h30; e domingos, às 19h
Onde: Teatro Iguatemi Campinas (Avenida Iguatemi, 777, Vila Brandina, fone: 3294-3166)
Quanto: R$ 50,00 (primeiro lote - 104 ingressos) e R$ 100,00 (segundo lote); à venda na bilheteria do teatro (segunda a sábado, das 10h às 22h; domingo, das 12h às 20h) e pelo site www.ingressorapido.com.br

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