Entrevista com Malvino Salvador sobre seu personagem em “Boca de Ouro”
Malvino Salvador interpreta “O Boca de Ouro”, bicheiro personagem de Nelson Rodrigues

O bicheiro Boca de Ouro, personagem icônico do submundo carioca, criado por Nelson Rodrigues, na adaptação ao diretor Gabriel Villela apresenta na Mostra 2018 do Festival de Curitiba, nos dias 31 de março, às 21h, e 1º de abril, às 19h, no Guaírão.
Eu Amo Curitiba (EAC): O “Boca de Ouro” é um clássico de Nelson Rodrigues nos fale sobre a adaptação de Gabriel Villela.
Malvino Salvador (MS): É um prazer estar falando com você e seus leitores, como você falou é um clássico de Nelson Rodrigues escrito em 1959, acho que é uma das grandes peças dele, das mais emblemáticas e com um personagem realmente incrível “O Boca de Ouro” é um personagem que foi para o cinema, então tá presente na história da dramaturgia brasileira. O Nelson acho que é nosso maior dramaturgo e o Boca tem uma narrativa muito interessante, por que ela apresenta esse personagem em três versões a partir das versões de uma outra personagem que é a dona Guigui ex-amante do Boca de Ouro que retrata o Boca a partir do humor em que ela está em determinado momento. A primeira versão ela tinha sido abandonada pelo bicheiro, ela retrata um “Boca de Ouro” para os jornalistas que vão atrás dela para saber sobre o Boca que havia morrido, eles não contam para ela que ele morreu. E ela retrata ele como um assassino cruel, na segunda versão quando ela descobre que o Boca morreu ela muda a versão e retrata o Boca como um cara que as vezes ajudava a comunidade ela suaviza o Boca e na terceira versão para ela se reconciliar com o marido ela acaba retratando o Boca como um cara manipulador assim, um assassino manipulador. O Gabriel em termos de narrativa a peça se apresenta em dois planos, o plano real que o plano das pessoas que estão ali, dos jornalistas, a dona Guigui que estão contando a história que estão apresentando para o público. E num outro plano que é da imaginação de uma personagem que está contando uma história que ai apresentam-se outros personagensna trama. Como estrutura narrativa o Gabriel Villela apresentou uma visão muito peculiar, na minha opinião ele potencializou essa estrutura narrativa com os componentes que ele utilizou no espetáculo. Ele cria uma grande fábula para o espetáculo, ele apresenta a primeira cena com um Rio de Janeiro em um grande carnaval, traz então algo até saudosista pra um Rio de Janeiro tão violento hoje em dia apesar da peça tratar de violência também, mas ele traz uma coisa saudosista de uma época em que a cidade era menos cruel e mais romântica.
(EAC): Já que a peça se apresenta em trê versões como ficam as composições de figurinos?
(MS): Todo o figurino tem essa riqueza do carnaval isso já é um componente que o Gabriel usa muito, é uma segunda pele do ator. Isso contribui também para a narrativa do personagem Boca de Ouro nestas três versões e como são versões diferentes os figurinos mudam também criando uma tragetória de nascimento e morte. Aproveitando-se de certos componentes do texto, como por exemplo no texto de diz que O “Boca de Ouro” é o drácula de Madureira, então na primeira versão ele coloca um figurino remetendo uma coisa ao vampiro, uma coisa mais negra e colocando ele como o cara troca os dentes por dentes de ouro e o canino é proeminente como se fosse o canino de um vampiro. Ele mata as vítimas dando uma bocanhada no pescoço. Essa é uma grande fábula ele tira o realismo da peça, cria essa fábula, então ele cria na primeira versão um Boca mais ancestral, vampiresco que tem a origem abjeta de um personagem que nasceu no submundo, que nasceu numa pia de gafieira e cresceu no submundo do crime. Na segunda versão onde a versão dele é suavizada, o Gabriel se aproveita para mudar o figurino e colocar o Boca de Ouro mais sofisticado. Ele aparece querendo ser um figurino mais de lord inglês. Na terceria versão tá quase querendo tocar Deus é uma trajetória mítica de nascimento e morte, onde ele quer esse cara que não teve nada, ele quer em contraponto alcançar o poder absoluto e isso o leva a morte.
(EAC): Qual foi o processo de criação para o personagem “Boca de Ouro”?
(MS): Eu fui buscando todas as referências que o Gabriel foi apresentando para o personagem. Foram três meses de ensaio e o Gabriel em cada dia ele ia trazendo assim olha: Assista esse filme, veja essa referência, procure o texto tal e traga alguma coisa diferente pra amanhã e assim foi feito em todos os dias de ensaio.
Um pouco mais sobre a Mostra:
O personagem, interpretado pelo ator Malvino Salvador, é um lendário bicho carioca, figura temida e megalomaníaca, que tem esse apelido como um trocadilho todos os dentes por uma dentadura de ouro e que também é conhecido como Drácula de Madureira. Quando Boca é assassinado seu passado é vasculhado por um repórter. A fonte é dona Guigui, uma ex-amante do contraventor, uma mulher que faz o longa-metragem, revela as várias versões do bicho, interpretada por Lavínia Pannunzio.Os atores Mel Lisboa e Claudio Fontana fazem o casal Celeste e Leleco. Já Leonardo Ventura interpreta o fiel e apaixonado marido de Guigui, Agenor. Chico Carvalhoé Caveirinha, o homem que carrega o seu olhar e a crítica do dramaturgo-jornalista, que faz anos trabalha em redacções e conheceu os vícios e contradições da imprensa. Chico também interpreta a grã-fina Maria Luiza.Cacá ToledoeGuilherme Buenocompletam o elenco. Jonatan Haroldassume o piano desta gafieira carioca oferecendo uma ambiência musical para a Mariana Elisabetskyinterpretar como canções imortalizadas por Dalva de Oliveira.Como uma ação proposta por Nelson Rodrigues da mente contraditória de Dona Guigui, como diferentes narrativas do personagem são exploradas pelo encenador de forma muito diversa. A cada versão de Guigui, uma arena de Gabriel Villela circula, com destaque para o espaço arquetípico convergente, assim como o salão circular de uma gafieira, ou um ciclo de vida que se encerra.Dentro das iconografias do subúrbio carioca, Gabriel se utiliza da simbologia do candomblé e das mascaradas não há espetáculo.Uma casa de Celeste e Leleco traz muitas representações de Orixás sincretizados. A figura de Iansã (Guilherme Bueno) faz toda a vida que uma cena de morte acontece. Iansã faz uma contrarregragem das mortes da história. O político tem toda essa arena: uma política, como narrativas contraditórias, uma libido, uma festa da gafieira, o jogo do bicho, uma fé e a música. Retratos de uma época que nos mostram o Brasil pouco mudou e, em seguida, o bebê nasceu em Pernambuco em 1912 e radicado no Rio de Janeiro, nunca foi tão atual.O melhor ator (Malvino Salvador), melhor atriz (Lavínia Pannunzio), melhor ator coadjuvante (Chico Carvalho), melhor atriz coadjuvante (Mel Lisboa), melhor direção (Gabriel Villela), melhor cenografia ( Gabriel Villela) e melhor espetáculo. O Mel Lisboa também foi exposto aos Prémios Shell de Melhor Atriz e Aplauso Brasil de Melhor Atriz Coadjuvante. O diretor Gabriel Villela também foi indicado ao prêmio Shell SP ea peça foi escolhida como melhor do ano pelo jornal O Estado de São Paulo.
Ficou curioso? Então fica o convite do Malvino Salvador pra você acompanhar este espetáculo que compõe a programação do 27º Festival de Curitiba:
Ingressos
A venda dos ingressos está disponível pelo site www.festivaldecuritiba.com.br , pelo aplicativo “Festival de Curitiba 2018” e nas bilheterias oficiais do evento, no ParkShoppingBarigüi, com funcionamento das 11h às 23h, de segunda a sexta; no sábado, das 10h às 22h e, aos domingos, das 14h às 20h; e no Shopping Mueller, de segunda um sábado, das 10h às 22h, domingos e visto das 14h às 20h.
Conheça mais sobre a peça , acessando a página www.facebook.com/bocadeouromalvinosalvador
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