quinta-feira, 23 de maio de 2019

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© Joao Caldas Fº

Sesc Guarulhos recebe o espetáculo “Estado de Sítio”, de Gabriel Villela

Sesc Guarulhos,a mais nova unidade do Sesc São Paulo no estado, receberá, em seu novíssimo Teatro, o espetáculo “Estado de Sítio”, adaptação de Gabriel Villela – que também assina a direção e os figurinos – para o texto clássico do filósofo argelino Albert Camus. Serão duas apresentações, dias nos dias 25 (sábado, às 20h) e 26 (domingo, às 18h) de maio.
O elenco traz no palco os atores Elias AndreatoClaudio FontanaChico CarvalhoArthur FaustinoCacá ToledoDaniel MazzaroloKauê PersonaMarco FrançaMariana ElisabetskyNathan Milléo GualdaPedro InoueRogério RomeraRosana Stavis Zé Gui Bueno. Já a cenografia é assinada por J C Serroni.
Concepção – Na peça, o totalitarismo infecta o organismo social de maneira insidiosa e os sintomas podem não ser facilmente identificáveis, mas os efeitos são implacáveis. Para a encenação de Estado de Sítio, Gabriel Villela “parte do princípio de que a epidemia deveria ultrapassar a condição de alegoria – o que na atual conjuntura talvez reduzisse a poética de Camus a uma espécie de alerta político, correndo inclusive o risco de fazermos um espetáculo panfletário – para atingir a categoria mais ampla de símbolo”.
Segundo Villela, que recentemente encenou os elogiados espetáculos Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues, e Hoje é Dia de Rock, de Zé Vicente, “a riqueza dramatúrgica de Camus não se limita a um contexto histórico específico nem a um campo político delimitado, mas é um mosaico de teatralidades que nos lembra que a liberdade exige esforço coletivo e contínuo”.
Para os figurinos, Vilella traz o preto como cor básica complementada com cores nos adereços de cabeça. Já a maquiagem de Claudinei Hidalgo também realça o caráter grotesco e não realista dos personagens, enquanto a direção musical de Babaya e Marco França França traz no coro trágico grego arranjos polifônicos de canções revolucionárias icônicas, como Fischia il Vento, o Hino da Resistência Francesa, músicas ciganas de Goran Bregovic e outras cantadas em ladino (língua falada por comunidades judaicas originárias da Península Ibérica).  
Ivan Andrade, diretor-assistente do espetáculo, ressalta que na peça “é possível reconhecer traços que vão da tragédia grega ao auto-sacramental. Camus tinha a mesma sensibilidade para costurar estilos, gêneros, escolas, tendências etc, que tinha para transitar entre o jornalismo, o ensaio filosófico, o romance e a dramaturgia, sempre visando defender aguerridamente suas ideias libertárias”. 
Responsável pela cenografia da montagem, José Carlos Serroni (J. C. Serroni) questiona: “Que espaço poderia corporificar o medo, a submissão, a negligência e a omissão dos governantes diante de problemas reais que agonizam uma sociedade organizada de homens de bem? Como simbolizar a peste, um grande mal e uma punição que paira sobre a cidade?”. Que possamos atender uma vontade de Camus que chegou a dizer: “Perceber-se-á bem que Estado de Sítio se trata de uma peça de cólera, mas sobre essa questão terei uma coisa a acrescentar: cheguei a pensar chamar o espetáculo de ‘O Amor de Viver’”.
Estado de Sítio – Ao escrever a obra, Camus declarou que pretendia “atacar frontalmente um tipo de sociedade política que se organiza, à direita ou à esquerda, de modo totalitário. Esta peça toma o partido do indivíduo, da natureza humana naquilo que ela possui de mais nobre, o amor, contra as abstrações e os terrores de um regime autoritário”.
Sua obra anterior, A peste, é um romance primoroso que aborda o flagelo do totalitarismo simbolizado por uma epidemia que se espalha em uma vila marítima. A semelhança com Estado de Sítio é tamanha que, apesar da insistente negativa de Camus, parece difícil não entender essa peça como uma adaptação do romance. Alguns papeis secundários teriam sido simplificados, o posicionamento face à Igreja se tornado mais duro, o sarcasmo potencializado na figura do personagem Nada (Chico Carvalho) e o autoritarismo ganhado um viés alegórico sobretudo com os personagens da Peste (Elias Andreato) e sua Secretária, a Morte (Claudio Fontana). Ainda assim, ambas obras têm a mesma dinâmica (a epidemia vem da periferia para o centro da cidade, sendo o mar a única escapatória possível), tratam-se de tragédias de separação – de Diego (Pedro Inoue) e Vitória (Mariana Elisabetsky) – e o medo é o fio condutor de uma e de outra.
A escolha de Cádiz (Espanha) como cenário da obra não é casual. Apesar da memória recente do nazismo e do fascismo na Europa, o regime fascista de Franco, extremamente violento, ainda sobreviveria na Espanha por quase quatro décadas (1938-1973), uma mácula na história de uma Europa que já começava a avançar na transição para a democracia liberal. Cádiz, uma cidade brutal e longamente ocupada, cenário ideal para ter a peste como alegoria, tornando-a instrumento de medo, um ambiente propício a violências, deportações, instaurando um eterno estado de vigilância. Na peça é a coragem que triunfa sobre o mal, vale lembrar que Camus nunca foi um pacifista ingênuo – ele sabia que a resistência exigia sacrifícios, algumas vezes sobre-humanos.
Albert Camus – Nascido na Argélia durante a ocupação francesa no seio de uma família paupérrima, Albert Camus (1913-1960) graduou-se em filosofia e teve uma ousada carreira de jornalista, período em que tomou posições incisivas em relação à Guerra da Independência Argelina. Já morando na França, alcançou notoriedade em 1942 com a publicação de O estrangeiro, romance que se destacou por suas implicações filosóficas. Junto com a peça Calígula (1941) e com o ensaio O mito de Sísifo (1942), o romance constituiu o que ele mais tarde chamou de Trilogia do Absurdo.
Segundo Camus, a vida tem que ser vivida apesar da total falta de sentido e sem recorrer à esperança, isto é, devemos aceitar a noção de absurdo do nosso destino. Ao longo da vida, ele ainda publicou outros dois romances (A peste A queda), vários ensaios, peças e um livro de contos. Suas posições libertárias fizeram com que ganhasse a antipatia tanto de nazistas quanto de comunistas, ficando famosa a ruptura pública com seu amigo Jean-Paul Sartre por desavenças políticas. Em O homem revoltado (1951), Camus fez uma dura crítica aos processos de insurreição e de revolta metafísica, além de condenar o assassinato e o suicídio como reações ao absurdo.
Camus morreu num acidente de carro em 1960 junto com seu editor Michel Gallimard. Por algum tempo houve a suspeita de que ele tivesse sido assassinado a mando da URSS pelas fortes críticas que fazia a Moscou.
Sesc Guarulhos – Localizado no bairro Jardim Flor do Campo, O Sesc Guarulhos – novo centro cultural, esportivo e de convivência da instituição – contará com uma área total construídade 34,2 mil m².
Com expectativa de receber 4.000 pessoas por dia, a unidade oferecerá à população diversos equipamentos presentes nas unidades do Sesc no estado. Entre eles estão teatro com 349 lugaresginásio poliesportivocampo de grama sintéticaquadra poliesportivaquadra de têniscentro de educação ambientalbibliotecacentro de músicaárea de exposiçãoespaços de brincarsala de ginásticaespaço de tecnologias e artesclínica odontológicaconjunto aquático com piscina semiolímpica coberta e piscinas descobertas adulto e infantilcomedoria, café do teatro, entre outros espaços.
Para abrigar essa gama de equipamentos, a edificação da nova unidade foi construída em três pavimentos, respeitando as questões socioambientais, como energia solar, teto verde, captação de água de chuva, iluminação natural, paraciclo e vagas para veículos elétricos, para idosos e pessoas com deficiência, além de priorizar a acessibilidade arquitetônica.
FICHA TÉCNICA
Texto: Albert Camus
Direção, Adaptação e Figurinos: Gabriel Villela
Tradução: Alcione Araújo e Pedro Hussak
Elenco: Elias Andreato, Claudio Fontana, Chico Carvalho, Arthur Faustino, Cacá Toledo, Daniel Mazzarolo, Kauê Persona, Marco França, Mariana Elisabetsky, Nathan Milléo Gualda, Pedro Inoue, Rogério Romera, Rosana Stavis e Zé Gui Bueno
Cenografia: J C Serroni
Iluminação: Domingos Quintiliano
Direção Musical: Babaya e Marco França
Diretores assistentes: Ivan Andrade e Daniel Mazzarolo
Foto: João Caldas Fº
Produção executiva: Luiz Alex Tasso
Direção de Produção: Claudio Fontana
SERVIÇO
ESTADO DE SÍTIO – SESC GUARULHOS
Dias: 25/05, sábado, às 20h e 26/05, domingo, às 18h
Local: Teatro
Capacidade: 349 lugares
Duração: 90 minutos
Classificação etária: para maiores de 16 anos
Ingressos: R$ 30,00 (inteira); R$ 15,00 (meia: estudante, servidor de escola pública, + 60 anos, aposentados e pessoas com deficiência); R$ 9,00 (credencial plena: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes).
SESC GUARULHOS
Endereço: Rua Guilherme Lino dos Santos, nº 1.200, Jardim Flor do Campo, Guarulhos – SP
Horário de funcionamento: De terça a sexta, das 9h às 21h30. Sábados, das 9h às 20h e domingos e feriados, das 9h às 18h.
Telefone: (11) 2475-5550
Como Chegar:
Ônibus: Quatro linhas passam na rua do Sesc Guarulhos: 233 Cocaia/Cidade Satélite de Cumbica; 356 B Circular Saúde (via Tiradentes); 356 A Circular Saúde (via Taboão); 278 Osasco (Centro) – Guarulhos (Term. Urb. Guarulhos). Outras 15 linhas de ônibus passam na Av. Monteiro Lobato, a 300 metros do Sesc. A 900 metros, fica o Terminal de Ônibus CECAP – de lá, são 12 minutos a pé.
Trem: Na Linha 13 (Jade) da CPTM, a Estação Guarulhos CECAP está a 2 km da unidade – são 24 minutos de caminhada, 18 minutos de ônibus ou 5 minutos de carro.

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