quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Peças inspiradas ou escritas por Shakespeare tomam conta dos teatros de SP


Peças inspiradas ou escritas por Shakespeare tomam conta dos teatros de SP

Por Metro
Atualizado em: 10/08/2015 às 21h11

http://www.metrojornal.com.br/nacional/cultura/pecas-inspiradas-ou-escritas-por-shakespeare-tomam-conta-dos-teatros-de-sp-213222
Otelo (Samuel de Assis) e Desdemona (Mel Lisboa) | Divulgação
Otelo (Samuel de Assis) e Desdemona (Mel Lisboa) | Divulgação
O aniversário de 450 anos de William Shakespeare foi ano passado, mas, se depender da agenda cultural de São Paulo, a festa nunca termina. Sete montagens baseadas em textos do bardo inglês ou inspiradas por eles estão em cartaz. A mais nova a entrar na lista é uma versão repaginada de “Otelo”, com direção de Debora Dubois, que estreia nesta terça-feira no Teatro Sérgio Cardoso.
A tradução de Maria Silvia Betti visa evidenciar um Shakespeare atemporal e mais próximo do nosso dia a dia, mas a essência – uma história movida por paixões e traições – permanece intacta.
Samuel de Assis encarna o personagem-título, um mouro alçado a general. O fato de ser um bem-sucedido estrangeiro em terras venezianas desperta a inveja de Iago (Rafael Maia), que, preterido do cargo de tenente, cria um plano para provocar um desentendimento na alta cúpula militar. Assim, Iago faz Otelo ter dúvidas quanto a fidelidade de sua jovem e bela mulher, Desdêmona (Mel Lisboa).
Esse é o primeiro Shakespeare da atriz, que atua embalada por uma trilha inspirada em trovadores, repentistas e Caetano Veloso, em meio a uma cenografia que sugere que os personagens acabaram de ressurgir de suas tumbas. 
Serviço: No Teatro Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153, Bela Vista, tel.: 3288-016). Estreia nesta terça. Ter. e qua., às 20h. R$ 40. Até 9/9.
Mais Shakespeare
Caesar – Como Construir um Império
Caco Ciocler e Carmo Dalla Vecchia se desdobram entre todos os personagens de “Júlio César” nesta montagem dirigida por Roberto Alvim que evidencia o jogo de interesses próprio da política. Com trilha composta e executada ao vivo pelo filósofo Vladimir Safatle, a peça terá nova temporada a partir de 18/9 no Centro Cultural São Paulo. No Sesc Santo André (r. Tamarutaca, 302, Vila Guiomar, Santo André, tel.: 4469-1200). Sex., às 21h, sáb., às 20h, dom., às 19h. R$ 30. Até. 16/8.
Como a Gente Gosta
Vinicius Coimbra e Gabriel Falcão traduziram e adaptaram o texto da comédia pastoral “As You Like It” para termos mais próximos do coloquial. Na montagem, que traz Pedro Paulo Rangel, os personagens são identificados por camisetas que revelam a troca de identidades que marca a história sobre a filha de um duque que, para se manter viva, foge para a floresta e finge ser homem mesmo ao reencontrar seu amado. No Teatro Nair Bello (r. Frei Caneca, 569, shopping Frei Caneca, tel.: 3472-2414). Sex., às 21h30; sáb., às 21h; dom., às 19h. R$ 60. Até 20/9.
Ricardo 3º
Indicado a melhor ator pelo prêmio Shell, Gustavo Gasparini encarna o monarca neste drama histórico que narra a ascensão do duque de Gloucester ao trono da Inglaterra. A direção é de Sergio Módena.No Teatro Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153, Bela Vista, tel.: 3288-016). Sex. e sáb., às 20h (R$ 40); dom., às 18h (R$ 50). Até 13/9.
H.A.M.L.E.T
Com texto de Roberto Alvim e direção de Juliana Galdino, a montagem atualiza os conflitos do príncipe da Dinamarca e os situa para a atmosfera delirante de uma metrópole. Na Biblioteca Mário de Andrade (r. da Consolação, 94, tel.: 3775-0002). Dia 17, às 20h. Grátis.
I Hate Hamlet
Encenada em inglês, a peça de Paul Rudnick apresenta a história de um jovem ator que, ao mudar-se para Nova York, descobre ter alugado o apartamento do maior intérprete de Hamlet, o que o leva a considerar o papel.No Teatro Cultura Inglesa (r. dep. Lacerda Franco, 333, Pinheiros, tel.: 3814-0100). Sex. e sáb., às 20h30. Grátis. Até 5/9.
Hamlet ao Molho Picante
Com direção de Dagoberto Feliz e Rosi Campos e Luciana Paes no elenco, essa divertida paródia de Aldo Nicolaj imagina todas as desventuras da família de Hamlet como decorrentes dos funcionários da cozinha do castelo. No Teatro Alfredo Mesquita (av. Santos Dumont, 1.770, Santana, tel.: 2221-3657). Sex. e sáb., às 21h; dom., às 19h. R$ 10. Até 6/9.
Os Dois Cavalheiros de Verona
Iniciado em 2013, o Shakespeare – Projeto 39 pretende montar todas as 39 peças do bardo inglês. Esta é a segunda montagem da série, que conta com a direção de Kleber Montanheiro para discutir amizade e infidelidade a partir da história de dois amigos que se apaixonam pela mesma mulher. No Teatro João Caetano (r. Borges Lagoa, 650, Vila Clementino, tel.: 5573-3774). Qui. (R$ 10), sex. e sáb., às 21h (R$ 20); dom., às 19h (R$20). Até 6/9.
A Tempestade
Com direção de Gabriel Villela e Celso Frateschi como Próspero, a montagem estreia dia 21 noTucarena.
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Celso Frateschi em A TEMPESTADE, de William Shakespeare. Tradução de Marcos Daud. Direção Gabriel Villela, teatro Tuca

Celso Frateschi em A TEMPESTADE, de William Shakespeare. Tradução de Marcos Daud. Direção Gabriel Villela, teatro Tuca
 
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http://www.brasilocal.com/minas_gerais/alfenas/carmo_do_rio_claro.html

Gabriel Villela leva A Tempestade, de Shakespeare, para os palcos
Diretor de detalhes, o mineiro cuida da criação e acompanha a produção dos figurinos, adereços e cenário, direto de seu ateliê na cidade natal de Carmo do Rio Claro. Na segunda semana de ensaios, os atores já haviam recebido o figurino, com os tecidos ...
A TEMPESTADE
William Shakespeare
Dir: Gabriel Vilela
21 de agosto a 22 de novembro
Sextas às 21h30, Sábado às 21h00 e Domingo às 19h00
A partir de 12 anos
TUCARENA – Teatro da PUC-SP (Entrada pela Rua Bartira)
Rua Monte Alegre, 1024 – Perdizes - São Paulo - SP
Ingressos: Sextas R$50 / Sábados e Domingos R$70
Elenco:
Celso Frateschi (Próspero), Helio Cicero (Caliban), Chico Carvalho (Ariel -professor do Célia), Letícia Medella (Miranda) e Romis Ferreira, Dagoberto Feliz (professor do Célia), Marcos Furlan, Rogerio Romera, Leonardo Ventura, Felipe Brum e Rodrigo Audi.
saiba mais: http://blogceliahelena.blogspot.com.br/2015/08/em-cartaz-com-os-professores-do-celia.html



Como parte da programação comemorativa dos 50 anos do Tuca, estreia dia 21 de agosto no Teatro Tucarena A Tempestade, quinta direção de Gabriel Villela para uma peça de Shakespeare, depois de Romeu e Julieta (com o Grupo Galpão), Sonho de Uma Noite de Verão (com a Cia de Dança Palácio das Artes de BH), Macbeth (com Marcello Antony e Claudio Fontana) e Sua Incelença Ricardo III (com o grupo Clowns de Shakespeare).
Para montar o último texto do consagrado autor inglês, Gabriel reuniu 11 atores, dos quais 9 ele já havia trabalhado em outros projetos. O elenco é composto por Celso Frateschi (Próspero), Helio Cicero (Caliban), Chico Carvalho (Ariel), Letícia Medella(Miranda) e Romis FerreiraDagoberto FelizMarcos FurlanRogerio RomeraLeonardo Ventura, Felipe Brum e Rodrigo Audi.
Para muitos estudiosos, A Tempestade foi a peça em que o autor homenageou suas próprias criações anteriores e onde se despede da dramaturgia, já prevendo sua morte, que aconteceu cinco anos depois, em 1616.
A voz dos atores é instrumento de extrema importância para o teatro de Gabriel Villela, seja ela falada ou cantada. O diretor escalou para trabalhar a espacialização da voz do elenco a italiana Francesca Della Monica, uma importante e frequente parceira artística de seus trabalhos mais recentes.  Antropóloga da voz, pesquisadora de voz da Universidade de Brera, em Milão, Itália, foi também responsável pela pedagogia na Fondazione Pontedera. A preparação vocal e a partitura dos textos coube a outra antiga parceira de Gabriel Villela: a fonoaudióloga e preparadora vocal mineira Babaya, que já fez 28 espetáculos com o diretor, enquanto os arranjos instrumentais e vocais foram elaborados por Marco França, músico e ator do grupo Clowns de Shakespeareque junto com Babaya, assina a direção musical e ainda com o suporte artístico e pedagógico do musicista e ator Dagoberto Feliz.
A música tocada e cantada ao vivo pelos atores é um elemento fundamental nesta montagem. Para compor o repertório da peça foram selecionadas canções populares brasileiras de domínio público cujo tema fosse universo das águas doces do Brasil e salgadas do Oceano Atlântico, com novos arranjos para ambientar a atmosfera onírica do espetáculo. “Buscamos uma delicadeza nas canções, a ideia do Marco de juntar violino, violão, flauta e acordeon foi pensada para esse fim. Mesmo quando a música vem com força, trata-se de uma força delicada“, comenta Babaya.
Os figurinos em tons de areia e terrosos e com inúmeras camadas de bordados, aplicações e sobreposições são de Gabriel Villela e José Rosa, com bordados de Giovanna Villela.
A cenografia de Gabriel Villela e Márcio Vinicius foi pensada para o formato de arena. O cenário aponta um grande círculo que envolve toda a encenação, remetendo à Ilha onde Próspero e sua filha Miranda vivem. Dentro deste círculo, potes de cerâmica, uma cama repleta de objetos míticos e de magia utilizados por Próspero, mesas, objetos que remetem a um navio naufragado, instrumentos musicais e outros símbolos teatrais preenchem a cena e tomam diferentes significados conforme a história acontece.
A iluminação é de Wagner Freire, os adereços e objetos de cena foram confeccionados por Shicó do Mamulengo e a direção de movimentos é do preparador corporal Ricardo Rizzo.
Completam a equipe criativa os diretores assistentes Ivan Andrade e Cacá Toledo que já acompanharam Gabriel em muitos outros espetáculos. “Ivan e Cacá são peças definitivas, eles atuam e afetam a estética deste trabalho“, ressalta o diretor.
O espetáculo conta com o patrocínio da AB Concessões, Sul America e 2S Inovações Tecnológicas através da Lei Federal de Incentivo à Cultura do Ministerio da Cultura
Arqueologia da encenação
Neste espetáculo, o diretor faz referências a alguns dos seus trabalhos anteriores, como uma citação a uma cena da sua versão de Romeu e Julieta com o Grupo Galpão, no momento em que os personagens Ferdinando e Miranda se encontram. O galho de árvore utilizado como o cajado mágico de Próspero, assim como o galho que simboliza uma cobra, vieram do fundo das águas da represa de Carmo do Rio Claro, terra natal de Gabriel Villela. Algumas canções escolhidas para a peça já estavam há anos na cabeça do encenador para esta montagem. Elas fazem parte de uma pesquisa musical feita por Babaya no CD Velho Chico. Potes de cerâmica achados em antiquários são utilizados para uma reprodução da voz humana na acústica grega. Esta é uma forma de aquecimento de voz utilizada por Babaya em muitas peças do diretor (com baldes plásticos), mas somente desta vez essa técnica entra em cena através dos potes.  

A TEMPESTADEWilliam Shakespeare
Dir: Gabriel Vilela
21 de agosto a 22 de novembro
Sextas às 21h30, Sábado às 21h00 e Domingo às 19h00
A partir de 12 anos
Local
TUCARENA – Teatro da PUC-SP (Entrada pela Rua Bartira)
Rua Monte Alegre, 1024 – Perdizes - São Paulo - SP
Ingressos: Sextas R$50 / Sábados e Domingos R$70 - (Desconto de 50% para Estudantes, Maiores de 60 anos e Aposentados. Preço especial PUC-SP R$ 10,00 / Para estudantes, professores e funcionários da PUC sob comprovação - número de ingressos limitado a 10% da lotação do teatro). Acesso para pessoas com deficiência.
Elenco:
Celso Frateschi (Próspero), Helio Cicero (Caliban), Chico Carvalho (Ariel -professor do Célia), Letícia Medella (Miranda) e Romis Ferreira, Dagoberto Feliz (professor do Célia), Marcos Furlan, Rogerio Romera, Leonardo Ventura, Felipe Brum e Rodrigo Audi.


segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Gabriel Villela leva A Tempestade, de Shakespeare, para os palcos

Gabriel Villela leva A Tempestade, de Shakespeare, para os palcos

LEIA TAMBÉM :

Entre 1590 e 1592, Agnes Sampson foi estrangulada e queimada por usar bruxaria para enviar tempestades contra o navio do rei Jaime VI da Escócia. Obcecado pela ameaça e inspirado pela experiência vivida, o monarca, que também reinou na Inglaterra, escreveu Daemonologie, um tratado que aprovava a caça às bruxas. Mais tarde, o livro serviu de base para a criação de Macbeth, do dramaturgoINGLÊS William Shakespeare (1564-1616). Já o episódio do temporal enviado por uma bruxa tomou forma em A Tempestade, última peça escrita pelo bardo.
"Shakespeare era ruim de inventar histórias. Ele copiava tudo, pegava histórias já prontas", brinca o diretor mineiro Gabriel Villela, que estreia o espetáculo no dia 21, em comemoração aos 50 anos do Teatro Tuca. "A grande diferença e grandeza do autor era sua forma de contar essas histórias. Aí tudo mudava." ]
Na trama, uma ilha é o campo de batalha sob o domínio do mago Próspero, duque de Milão por direito, que planeja restaurar sua filha Miranda ao poder. Vivido por Celso Frateschi, ele lança uma tempestade para atrair até a ilha o navio de seu irmão e usurpador Antônio e de seu cúmplice, o rei Alonso de Nápoles "Ele percebe que existe violência e formas de poder autoritárias que não funcionam mais e quer fazer justiça, muito embora seja também um personagem autoritário e manipulador", completa. O mago tem a seu serviço Ariel (Chico Carvalho), um espírito assexuado e Caliban (Helio Cicero), um monstro escravo que se apresenta como um grotesco fauno que utiliza um pote de barro para reverberar sua voz. Essa escolha se estende por toda a montagem e os potes têm origem nos antiquários de Minas Gerais. "O vaso entra para dar um artificialismo necessário muito comum no teatro clássico e grego", explica Villela. "O barro representa a origem do Homem em muitas religiões e o sopro criador está presente na nossa Bíblia. O vaso cria algo mítico na medida em que adultera o timbre natural do ator. A busca é pela região do mito na qual pertence a voz do ator."
Diretor de detalhes, o mineiro cuida da criação e acompanha a produção dos figurinos, adereços e cenário, direto de seu ateliê na cidade natal de Carmo do Rio Claro. Na segunda semana de ensaios, os atores já haviam recebido o figurino, com os tecidos tingidos em tons ocre e marrom por José Rosa e bordados por Giovanna Villela. As bolas sopradas de vidro murano que trazem escritos nomes dos signos do zodíaco são assinadas, entre outros objetos, pelo artista Shicó do Mamulengo. Com isso, a representação da ilha ganha diversas referências que incluem festejos a Iemanjá e o teatro de máscaras gregas. "A ilha é como Minas, um Estado interno do Brasil. É uma ilha dentro de todos nós. Na peça, ela é composta por vários pedaços terras, máscaras e também pelos personagens de Shakespeare", conta o diretor. "Os atores estão pintados com o barro de Minas. É uma força telúrica, da psique do nosso povo. Parece que eles foram chamados para uma viagem no Rio São Francisco e lá há um encontro da água doce com a água do mar."
Essa caligrafia cênica também acompanha as outras montagens de Shakespeare por Villela, que em diferentes medidas cunhou traços da cultura regionalista, como em Sua Incelença, Ricardo III, com o grupo Clowns de Shakespeare, além Sonho de uma Noite de Verão com a Cia de Dança Palácio das Artes de Belo Horizonte, e em seu Romeu e Julieta com o Grupo Galpão que se apresentou no Globe, o teatro de Shakespeare, em Londres, além de dirigir Marcello Antony e Claudio Fontana no sangrento Macbeth. A trilha sonora de A Tempestade é executada ao vivo e vai na contramão do título da montagem. Nada de trovões ou gritaria. Como explica o diretor, o volume das canções se aproxima às histórias contadas às crianças antes de dormirem. "O mundo já está muito bravo e cruel. Se você grita, você mata a imaginação. Apesar de eu não ser um primor de cortesia como diretor e como ser humano, o espetáculo é muito cortês e delicado com a plateia."
Aos 58 anos, Villela é um sonhador. Em diálogo com famosa frase "nós somos feitos da mesma matéria que nossos sonhos", dita por Próspero, para ele, não podem faltar pernas. "Eu não sou dado a sonhos paralíticos."

A Tempestade no Estadão


Gabriel Villela leva 'A Tempestade', de Shakespeare, para os palcos

Publicado em segunda-feira, 10 de agosto de 2015 às 09:58 Histórico

Gabriel Villela leva 'A Tempestade', de Shakespeare, para os palcos


http://www.dgabc.com.br/Noticia/1540087/gabriel-villela-leva-a-tempestade-de-shakespeare-para-os-palcos
Entre 1590 e 1592, Agnes Sampson foi estrangulada e queimada por usar bruxaria para enviar tempestades contra o navio do rei Jaime VI da Escócia. Obcecado pela ameaça e inspirado pela experiência vivida, o monarca, que também reinou na Inglaterra, escreveu Daemonologie, um tratado que aprovava a caça às bruxas. Mais tarde, o livro serviu de base para a criação de Macbeth, do dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616). Já o episódio do temporal enviado por uma bruxa tomou forma em A Tempestade, última peça escrita pelo bardo.
"Shakespeare era ruim de inventar histórias. Ele copiava tudo, pegava histórias já prontas", brinca o diretor mineiro Gabriel Villela, que estreia o espetáculo no dia 21, em comemoração aos 50 anos do Teatro Tuca. "A grande diferença e grandeza do autor era sua forma de contar essas histórias. Aí tudo mudava." ]

Em Destaque

Na trama, uma ilha é o campo de batalha sob o domínio do mago Próspero, duque de Milão por direito, que planeja restaurar sua filha Miranda ao poder. Vivido por Celso Frateschi, ele lança uma tempestade para atrair até a ilha o navio de seu irmão e usurpador Antônio e de seu cúmplice, o rei Alonso de Nápoles "Ele percebe que existe violência e formas de poder autoritárias que não funcionam mais e quer fazer justiça, muito embora seja também um personagem autoritário e manipulador", completa. O mago tem a seu serviço Ariel (Chico Carvalho), um espírito assexuado e Caliban (Helio Cicero), um monstro escravo que se apresenta como um grotesco fauno que utiliza um pote de barro para reverberar sua voz. Essa escolha se estende por toda a montagem e os potes têm origem nos antiquários de Minas Gerais. "O vaso entra para dar um artificialismo necessário muito comum no teatro clássico e grego", explica Villela. "O barro representa a origem do Homem em muitas religiões e o sopro criador está presente na nossa Bíblia. O vaso cria algo mítico na medida em que adultera o timbre natural do ator. A busca é pela região do mito na qual pertence a voz do ator."
Diretor de detalhes, o mineiro cuida da criação e acompanha a produção dos figurinos, adereços e cenário, direto de seu ateliê na cidade natal de Carmo do Rio Claro. Na segunda semana de ensaios, os atores já haviam recebido o figurino, com os tecidos tingidos em tons ocre e marrom por José Rosa e bordados por Giovanna Villela. As bolas sopradas de vidro murano que trazem escritos nomes dos signos do zodíaco são assinadas, entre outros objetos, pelo artista Shicó do Mamulengo. Com isso, a representação da ilha ganha diversas referências que incluem festejos a Iemanjá e o teatro de máscaras gregas. "A ilha é como Minas, um Estado interno do Brasil. É uma ilha dentro de todos nós. Na peça, ela é composta por vários pedaços terras, máscaras e também pelos personagens de Shakespeare", conta o diretor. "Os atores estão pintados com o barro de Minas. É uma força telúrica, da psique do nosso povo. Parece que eles foram chamados para uma viagem no Rio São Francisco e lá há um encontro da água doce com a água do mar."
Essa caligrafia cênica também acompanha as outras montagens de Shakespeare por Villela, que em diferentes medidas cunhou traços da cultura regionalista, como em Sua Incelença, Ricardo III, com o grupo Clowns de Shakespeare, além Sonho de uma Noite de Verão com a Cia de Dança Palácio das Artes de Belo Horizonte, e em seu Romeu e Julieta com o Grupo Galpão que se apresentou no Globe, o teatro de Shakespeare, em Londres, além de dirigir Marcello Antony e Claudio Fontana no sangrento Macbeth. A trilha sonora de A Tempestade é executada ao vivo e vai na contramão do título da montagem. Nada de trovões ou gritaria. Como explica o diretor, o volume das canções se aproxima às histórias contadas às crianças antes de dormirem. "O mundo já está muito bravo e cruel. Se você grita, você mata a imaginação. Apesar de eu não ser um primor de cortesia como diretor e como ser humano, o espetáculo é muito cortês e delicado com a plateia."
Aos 58 anos, Villela é um sonhador. Em diálogo com famosa frase "nós somos feitos da mesma matéria que nossos sonhos", dita por Próspero, para ele, não podem faltar pernas. "Eu não sou dado a sonhos paralíticos."