domingo, 21 de outubro de 2012

Estreia »Diretor Gabriel Villela estreia Macbeth no Rio de JaneiroTexto, traduzido por Marcos Daud, está ao mesmo tempo, fiel e infiel ao original de Shakespeare Agência O Globo Publicação: 18/10/2012 09:40Atualização: 18/10/2012 10:00 Diante de uma obra em que lealdade e traição disputam forças, em que o instinto ameaça sabotar a temperança, o diretor Gabriel Villela decidiu ser, ao mesmo tempo, fiel e infiel a Shakespeare em seu Macbeth, que estreia nesta sexta-feira no Teatro dos Quatro, no Rio de Janeiro. É como se tomasse para si palavras ditas pelo general Macbeth: “Quem consegue ser sábio e pasmado, moderado e furioso, leal e neutro, tudo no mesmo instante? Ninguém.” E como diria a vil Lady Macbeth: “A tentativa, e não o ato, é o que nos aniquila.” Gabriel, mais do que tentar, agiu. Assim, da mesma forma que traz um Macbeth fiel ao teatro elisabetano, com um elenco composto apenas por atores homens, não se furta a intervir no texto traduzido por Marcos Daud, a cortar 12 dos 20 personagens e a implementar um narrador em cena. "A primeira coisa que a gente trai é o sistema econômico. O teatro de Shakespeare era autossustentável, já nós dependemos de patrocínio e não há jeito de tornar itinerante um elenco de 20 atores", diz o diretor. Em relação ao narrador, ele assume o papel de dois personagens secundários que aparecem no original: "Como rompemos com o realismo, ele convoca a imaginar a história." Já sobre a fidelidade ao elenco masculino, Villela diz: "A ausência da figura feminina trouxe um aspecto primitivo, que te joga num ambiente de guerra." Marcello Antony, que havia sido convidado de início para encarnar Lady Macbeth, vivida agora por Cláudio Fontana, interpreta Macbeth, o herói trágico assombrado pela profecia das três bruxas imaginadas por Shakespeare como oráculos da história. O ator classifica a abordagem como uma “reinvenção muito fiel”, e defende uma maneira atual de encenar um clássico: "Em Shakespeare tudo é muito poético, mas conseguimos deixar o rebuscamento de lado sem perder a poesia." Antony trata seu personagem como um “humano demasiadamente humano”, diz, enfatizando o desespero e a consciência de Macbeth frente ao seu destino incontornável: no primeiro ato, três bruxas lhe fazem uma profética escala ascendente: primeiro Macbeth será condecorado Barão de Glamis, depois Barão de Cawdor e, enfim, assumirá o trono da Escócia. Se de início mostra-se atemorizado diante da terceira previsão, logo se vê cego pela cobiça. "Macbeth é um general condecorado até que Shakespeare coloca essas três bruxas no caminho, que mudam sua vida e seus valores. Como os dois primeiros já haviam sido concretizados, ele teme que o terceiro também aconteça. Mas tudo se perde quando ele conta a Lady Macbeth", diz o ator. Inebriado pelas maquiavélicas palavras de sua mulher, Macbeth se vê convencido a concretizar o mais rápido possível a sua consagração como rei. Para isso, assassina o Rei Duncan. "A ambição o leva à ruína", diz o ator. De salvador do reino da Escócia, torna-se refém dos mecanismos de poder, e quanto mais próximo ao trono mais sangue passa a derramar, numa desesperada tentativa de ocultar o homicídio que o leva à coroa. Não há como fugir do destino implementado por cada ato. "Macbeth é uma história de amor, ambição e assassinatos. Em suma, é um casal amoroso arruinado pelo êxito. Quando conquistam o objeto de desejo ambos se destroem", conclui Villela. http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/viver/2012/10/18/internas_viver,402849/diretor-gabriel-villela-estreia-em-macbeth-em.shtml

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