quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Antônio Hohlfeldt | a_hohlfeldt@terra.com.br Teatro Notícia da edição impressa de 07/12/2012 Um Shakespeare semioticamente perfeito Se não me engano, é em Henrique V que William Shakespeare mais desafia a imaginação de seus espectadores, quando lhes pede que imaginem saltos de meses ou anos na simples passagem de uma cena para a outra, ou que, a partir de três ou quatro atores em cena, visualizem-se 3 ou 4 mil soldados em ação. No entanto, seria nas cenas finais de Macbeth que Shakespeare melhor experimentaria ele próprio aquela ideia, quando coloca, na boca das bruxas, uma série de metáforas que vai, depois, revelando gradualmente, culminando com o movimento da floresta de Elsinor. Neste sentido, essas duas peças são os pontos altos da dramaturgia shakespeariana. Do mesmo modo, Gabriel Villela reuniu, para a montagem deste trabalho, todo um conjunto de experiências que tem acumulado ao longo de anos de sua carreira, o que resulta em um trabalho extraordinariamente criativo e inovador, semioticamente desafiador e, como comentava alguém à saída do teatro, impactante. A partir de uma tradução fiel de Marcos Daud, o diretor e dramaturgo reorganizou o texto shakespeariano do mesmo modo que Shakespeare, em sua época: a partir de textos de outros dramaturgos, de fragmentos de diferentes textos dramáticos de autores diversos, ou ainda a partir de lendas e de racontos orais mais ou menos populares e tradicionais na Inglaterra criava trabalhos absolutamente inesperados. Se Shakespeare foi um dramaturgo e diretor, não menos diretor e dramaturgo quis ser Diogo Villela, que chega ao cúmulo de personificar-se ele mesmo na figura híbrida de uma dama de vermelho, que é Shakespeare e Villela, que lê o (seu, deles) texto, fiscaliza e passeia pela cena de seu espetáculo e quase que intervém pessoalmente na própria cena. A grande afirmação da encenação de Villela é justamente o conjunto de aspectos semióticos - isto é, simbólicos - que ele foi capaz de concatenar com logicidade, dinamicidade e unicidade. Começa com o figurino dele mesmo e de Shicó do Mamulengo que não é a primeira vez que trabalha com o diretor. Esta mescla de figurinos de época e de peças absolutamente inventadas, a partir da cultura brasileira popular, prenhe de colorido e de fragmentos reunidos em bricolagem, é a própria metáfora do espetáculo (alguma influência de Klimt? Por outro lado, o Shakespeare/leitor, vestido de vermelho, lembra diretamente a efígie do dramaturgo inglês, enquanto a cor refere diretamente à sanguinolência da narrativa). A escolha para os trajes de Macbeth e a esposa são igualmente referenciais: remetem-nos ao vampirismo do Drácula, inclusive pela cor negra e as grandes capas - cheguei a vislumbrar grandes dentes em ambas as bocas. As coisas não param aí: as três feiticeiras tecem os destinos com pequenas antenas normalmente usadas para exposições públicas em conferências, equipamentos que permitem indicar com raio laser os elementos de projeção em uma tela. No final da montagem, um preto velho (mandigueiro?) comenta os acontecimentos e, quando Macbeth, enfim, vai ser morto, é o roqueiro Jim Morisson quem dá o seu recado... Em síntese, eis um espetáculo que se precisa, na verdade, assistir mais de uma vez. A leitura múltipla e complexa não se esgota em um primeiro contato. Neste primeiro encontro, a gente se extasia pelo verdadeiro caleidoscópio que o trabalho apresenta. Não dá tempo para se observar tudo, sobretudo porque também o texto é complexo, e as situações se sucedem constantemente. O que é evidente, contudo, é que estamos frente a um trabalho muito pensado e amadurecido, em que as conjunções entre os objetos (aparentemente) mais díspares não atenderam a um acaso ou a uma simples voluntariedade do diretor, mas possuem vínculos profundos entre si e constituem tramas subterrâneas que reiteram e reforçam a própria narrativa oral e dramática que se desenvolve em cena. Eis porque este é um grande espetáculo. COMENTÁRIOS Guilherme Xavier Sobrinho - 07/12/2012 - 11h29 A crítica está irretocável (fora o deslize de chamar Gabriel Vilela de Diogo Vilela). E, ainda assim, não toca no ponto que, para mim, foi central, diante do espetáculo: ele me chegou completamente destituído de dramaticidade. Um Macbeth que não encanta, não atemoriza, não revolta, não, não, nada. Gratuito como aquele senhor barbudo vestido de senhora (por que, mesmo?). -------------------------------------------------------------------------------- Guilherme Xavier Sobrinho - 07/12/2012 - 11h32 A crítica está irretocável (fora o deslize de chamar Gabriel Vilela de Diogo Vilela). E, ainda assim, não toca no ponto que, para mim, foi central, diante do espetáculo: ele me chegou completamente destituído de dramaticidade. Um Macbeth que não encanta, não atemoriza, não revolta, não, não, nada. Gratuito como aquele senhor barbudo vestido de senhora (por que, mesmo?). -------------------------------------------------------------------------------- Theófilo Silva - 09/12/2012 - 15h23 É um grave erro dizer que Henrique V são os pontos altos da dramaturgia Shakespeariana. Embora Shakespeare seja um gigante, Hamlet, Rei Lear, Othelo, Medida por Medida, e claro, Macbeth são seus pontos altos!. http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=110553

Nenhum comentário:

Postar um comentário