
segunda-feira, 17 de junho de 2013
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Galpão estreia ‘Os gigantes da montanha’, de Pirandello, na Praça do Papa
• 2 de junho de 2013 • Morrison Deolli • Espetaculo - 1 Comment
Espetáculo marca o retorno do grupo ao teatro de rua, com direção de Gabriel Villela
(Leandro Couri/EM/D.A Press)
Chegou a hora de ‘Os gigantes da montanha’ se encontrarem com os olhos do público de Belo Horizonte. É assim que a atriz Inês Peixoto fala da estreia da noite desta sexta-feira, marcada para 20h, na Praça do Papa. Já são 31 anos de experiência e até hoje os atores do Grupo Galpão não escondem que às vésperas da apresentação inaugural dá um frio na barriga. Afinal, são muitos os motivos que tornam a data especial.
É o reencontro com o diretor Gabriel Villela depois de 19 anos e duas obras-primas, ‘Romeu e Julieta’ e ‘A Rua da Amargura’. Também é a volta da companhia aos pés da Serra do Curral com uma montagem inédita. No ano passado, as emoções ficaram à flor da pele na reestreia de Romeu e Julieta no mesmo local, sob o olhar atento de uma plateia de mais de 5 mil pessoas. Embora os atores não arrisquem palpites sobre o número de pessoas esperadas para a noite de hoje, sabem que será em clima de celebração. Nas palavras do diretor Gabriel Villela, será “uma epifania”. O clima da peça de Luigi Pirandello favorece esse sentimento.
‘Os gigantes da montanha’ tem detalhes que dialogam profundamente com a história do Galpão. É um espetáculo de rua. É popular. É musical. É colorido e rico em referências e significados. Claro que os elementos que marcam a escrita cênica de Gabriel Villela estarão presentes. As sombrinhas, por exemplo, estão espalhadas pelo palco, formado por 12 mesas construídas em madeira de demolição. Vale prestar atenção em todos os detalhes da cena. Há tecidos que vieram do Peru e de países longínquos, como Mianmar.
A fábula, escrita em 1936, ficou inacabada por causa da morte do autor, vítima de pneumonia. No leito de morte, Pirandello narrou o roteiro final ao filho, mas mesmo assim a peça ainda é considerada uma obra aberta. A história gira em torno da chegada de uma trupe de atores a um lugarejo misterioso. Mais que falar sobre o teatro, o espetáculo chama a atenção dos espectadores para a importância da arte e da poesia na vida das pessoas.
Além de ser o reencontro do Galpão com o teatro de rua depois de duas experiências em palco italiano, com textos do russo Antón Tchekov, a peça também marca a reaproximação da trupe com o tipo de espetáculo que consagrou a companhia. Ou seja, assim como em ‘Romeu e Julieta’, ‘A Rua da Amargura’, ‘Um Molière imaginário’ e ‘Till’, os atores vão cantar e tocar ao vivo enquanto encenam a trama.
No exercício de revelar a poção popular na dramaturgia do italiano Luigi Pirandello, Gabriel Villela e os companheiros de empreitada mergulharam no cancioneiro do país. ‘Os gigantes da montanha’ tem a música como o ponto de conexão entre o público e o teatro. Detalhe: será uma viagem ao tempo e à terra natal do dramaturgo, mas com fortes referências a Minas Gerais, como também é tradição no trabalho da companhia. Isso sem dispensar toques espanhóis e franceses.
Composta por 13 canções, a trilha sonora foi escolhida por Gabriel Villela. Nela estão composições de Nino Rota, como ‘La arrabiatta’, presente no filme ‘Amor e anarquia’, de Lina Wertmüller, assim como peças de Bizet (‘Les pêcheurs de perles’), Sergio Endrigo (‘Io che amo solo te’), Jimmy Fontana (‘Il mondo’). Há também canções populares que marcaram a resistência italiana, como Bella ciao e Nina nana tidoletto.
OS GIGANTES
DA MONTANHA
De Luigi Pirandello, com o Grupo Galpão e direção de Gabriel Villela
Horário e local
Quinta, sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 19h, na Praça do Papa. Entrada franca.
Quem foi Pirandello
Natural de Agrigento, na região da Sicília, nascido em 1867, Luigi Pirandello foi dramaturgo, poeta, contista e romancista. Entre suas peças mais conhecidas estão Henrique IV e Seis personagens à procura de um autor. Em 1934, conquistou o Nobel de Literatura. Sua obra explora temas relacionados aos bastidores do fazer cênico. Morreu em 1936, vítima de pneumonia, antes de terminar Os gigantes da montanha.
O enredo
Dividido em dois atos, Os gigantes da montanha narra a chegada de uma companhia teatral decadente a uma vila isolada do mundo, governada pelo mago Cotrone. A trupe encontra-se em declínio por obsessão de sua atriz, a condessa Ilse, em montar A fábula do filho trocado. Insistindo que o grupo permaneça no lugarejo, representando apenas para si mesmos, Cotrone constrói os fantasmas dos personagens que faltam para completar o elenco. No entanto, a condessa Ilse insiste que o espetáculo deve ser visto por um grande público. A solução será chamar os Gigantes da montanha, povo vizinho que não valoriza a arte.
Canções do espetáculo
La arrabiatta, de Nino Rota; Il mondo, de Jimmy Fontana; Jesus bambino, de Lucio Dalla; Ciao amore ciao, de Luigi Tenco; Io che amo solo te, de Sergio Endrigo; Bella ciao e Nana, nana tidoletto, canções populares da resistência italiana; La golondrina, de Narciso Serradell Sevilla; Les pêcheurs de perles, de Georges Bizet.
Palco e bastidores
Elenco: Antonio Edson (Cromo), Arildo de Barros (Conde), Beto Franco (Duccio Doccia/Anjo 101), Eduardo Moreira (Cotrone), Inês Peixoto (Condessa Ilse), Júlio Maciel (Spizzi/Soldado), Luiz Rocha (Quaquèo), Lydia Del Picchia (Mara-Mara), Paulo André (Batalha), Regina Souza (Diamante/Madalena), Simone Ordones
(A Sgriccia), Teuda Bara (Sonâmbula).
Direção: Gabriel Villela. Assistência de direção: Ivan Andrade e Marcelo Cordeiro. Tradução: Beti Rabetti. Antropologia da voz: Francesca Della Monica. Direção musical e arranjos: Ernani Maletta. Preparação vocal: Babaya. Iluminação: Chico Pelúcio e Wladimir Medeiros.
Duração do espetáculo
Uma hora e 20 minutos
Como chegar à Praça do Papa
Para quem vai de ônibus, a linha 4103 sai do Centro e para na Praça do Papa. Outras opções são as linhas 4108 (descer na Av. Agulhas Negras e caminhar 550 metros) ou a 4111 (descer na Av. Bandeirantes e caminhar 1.300 metros). Não há estacionamento no local.
Dicas para o público
• Proteja-se do frio. Leve agasalhos extras, já que nesta época do ano venta muito na Praça do Papa.
• Chegue cedo. Estreias do Grupo Galpão já se tornaram tradição no local. Apesar da grande capacidade de receber público, há muitos pontos cegos na praça.
• Respeite o momento da apresentação. Afinal, trata-se de uma peça de teatro e não um show de rock.
Próximas apresentações
8 e 9 de junho, às 18h. Parque Ecológico da Pampulha. Entrada franca.
De volta à praça
“Rezarei para que Santa Clara nos dê uma noite estrelada, livre de ventos fortes e chuva, para celebrar esse novo encontro do Grupo Galpão com a genialidade de Gabriel Villela. Através da fábula de Pirandello, poderemos sentir a vibração de nossos corações evocando poesia e sonho para nossas vidas!”
• Inês Peixoto, atriz
“Encontrar o público de Belo Horizonte, na rua, é sempre uma festa e uma grande alegria. Espero que Os gigantes da montanha ajude de alguma maneira a despertar nas pessoas o desejo de imaginar, sonhar, buscar novos limites e dimensões. No fundo, a peça fala da capacidade que a arte tem – e precisa desenvolver – de fazer com que as pessoas busquem outros horizontes, novas perspectivas.”
• Eduardo Moreira, ator
‘‘É bom voltar para a Praça do Papa, esse cenário natural. Que nossos amigos e o público querido recebam o Galpão de braços abertos. Vai ser bonito e poético!’’
• Teuda Bara, atriz
“Estar junto com o Galpão e Pirandello e celebrar essa união no teatro grego da Praça do Papa, com o público de Belo Horizonte, é a verdadeira epifania teatral.”
• Gabriel Villela, diretor
fonte: http://divirta-se.uai.com.br/app/noticia/arte-e-livros/2013/05/30/noticia_arte_e_livros,142765/arte-sobre-a-cidade.shtml
1 comentário em “Galpão estreia ‘Os gigantes da montanha’, de Pirandello, na Praça do Papa”
Tia Daniele
9 de junho de 2013 às 4:24
OS GIGANTES ADORMECIDOS
Critica teatral
texto de Luigi Pirandello e direção de Gabriel Villela, o Grupo Galpão volta mais uma vez ao trabalho do teatro de rua com “Os Gigantes da Montanha”. A montagem trás figurinos ricos em detalhes e significados e um cenário primoroso que coloria a noite belorizontina, contudo, mesmo com todos esses elementos, nossos gigantes do teatro não conseguiu trazer de volta a magia cênica que se viu em montagens como Romeu e Julieta, Um Molière Imaginário e Rua da Amargura.
A fábula narra a chegada de uma companhia teatral decadente a uma vila mágica, povoada por fantasmas e governada pelo Mago Cotrone. Tudo começa muito bem com um coral de vozes unissom que anuncia uma noite de grandes emoções, mas, infelizmente, o que se vê posteriormente são interpretações perdidas e um desenrolar de cenas enfadonhas e desconexas, muito aquém do já realizado em peças anteriores pelos nossos gigantes do teatro mineiro, transformando a encenação de Os Gigantes da Montanha em uma sequência de interpretações monocórdias e repetidas.
Desde o espetáculo Eclipse, o Grupo tem optado em trabalhar uma linguagem não linear em busca de um surrealismo lírico, contudo, o que se nota em Os Gigantes da Montanha é uma total despreocupação da encenação com que o texto chegue ao público. Isso talvez justifique os rumores de espectadores ao redor sobre não estar entendendo onde a peça queria chegar, ou até mesmo seja um dos motivos pelo qual dezenas de pessoas abandonaram a Praça do Papa no decorrer do espetáculo, possivelmente saudosos da brasa que ardia em encenações que outrora ocorreram naquele mesmo lugar, mas também uma enunciação clara de que não embarcaram na proposta.
A musicalidade, sempre presente no histórico da trupe se apresenta como elemento fundamental na tradução do universo da fábula para o teatro popular de rua, contudo se por um lado conseguem encantar o público cantando em conjunto, seus números solos vão bem na contramão dessa via sonora. E nem mesmo a boa execução na cena do enforcado de Julio Maciel consegue apagar o estrago sonoro causado após cantar sua música solo. O mesmo não acontece com o solo de Regina Souza ao interpretar Madalena – que traz a cena um dos momentos auges do espetáculo –, e no solo de Eduardo Moreira, que mesmo tendo um coral de vozes femininas ao fundo canta com afinação e suavidade.
Tarimbada, Inês Peixoto interpreta a condessa Ilse, personagem central da fábula, e mostra em cena toda sua experiência do teatro de rua no que se refere a interação com a plateia, contudo, não consegue fugir dos marcantes estereótipos vocais e gritos histéricos, que já vem lhe acompanhando em montagens como em seu recente trabalho no espetáculo “Till”. Não obtante, essa não é uma característica notada apenas na interpretação de Peixoto, mas também na de vários outros atores, como é notório em Antonio Edson que pega emprestado de seu Tio Vânia várias das entonações utilizadas em seu personagem Cromo, tornando a encenação apenas mais um monte do mesmo.
Apesar desses atropelos, Os Gigantes da Montanha possui muitos méritos visuais como o deslumbrante cenário feito de madeira de demolição ou mesmo seus figurinos recortados por tecidos trazidos da Ásia, do Peru e de outros cantos do Brasil, que exemplificam o cuidado e os investimentos com a produção do espetáculo. Porém, nem todos esses artifícios foram suficiente para acordar nossos gigantes que pareciam adormecidos nessa noite de 30 maio, mas mesmo assim conseguiu prender até o final grande parte do seu público fiel. Ao meu lado duas espectadoras perguntaram: “Qual o nome desse espetáculo?” Isso nos leva a refletir sobre a responsabilidade da trupe em carregar uma marca tão forte, pois talvez o Grupo Galpão não seja o sabor da nova geração, mas certamente traz consigo um sinônimo de qualidade artística, que arrasta multidões e, por todo esse histórico, merecem nossos aplausos.
Tia Daniele

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