terça-feira, 21 de maio de 2013

21/05/2013 13h03 - Atualizado em 21/05/2013 13h03 Com entrada franca, Galpão estreia 'Os gigantes da montanha' em BH Segundo diretor Gabriel Villela, popularizar texto de Pirandello foi desafio. Peça será encenada em praça, de 30/5 a 2/6, e em parque, dias 8 e 9/6. Alex Araújo Do G1 MG Tweet Grupo Galpão na montagem 'Os gigantes da montanha', de Luigi Pirandello (Foto: Guto Muniz / Divulgação) Popularizar o texto do italiano Luigi Pirandello em uma obra que todos entendam. Foi desta forma que o diretor Gabriel Villela descreveu o desafio de dirigir o espetáculo “Os gigantes da montanha”, que o Grupo Galpão estreia no próximo dia 30, em Belo Horizonte. “Não há uma linguagem linear porque há avanços do realismo e do naturalismo. É o surrealismo lírico. É um texto cujo tema é a vitória da arte e da poesia sobre a morte”, definiu. A fábula conta a chegada de uma companhia teatral decadente a uma vila mágica, povoada por fantasmas e governada pelo mago Cotrone. A peça é uma alegoria sobre o valor do teatro, da poesia e da arte e a capacidade de comunicação com o mundo moderno, cada vez mais pragmático e empenhado nos afazeres materiais. O ator Eduardo Moreira, que interpreta Cotrone, destacou a parceria do Galpão com Villela e relembrou que o grupo já trabalhou com o diretor em “Romeu e Julieta” (1992) e “A rua da amargura” (1994). “Essa parceria é extremamente importante para o Galpão”. Moreira destacou que o espetáculo é o 21º em mais de 30 anos de existência do grupo. “A gente se perguntou o tempo todo como o texto chegaria ao público, mas há elementos intensos como a música que toca além do intelecto”. A atriz Inês Peixoto, que faz a condessa Ilse, disse que o espetáculo faz referências à cultura mineira como os casarões e os móveis feitos em madeira. "Ao mesmo tempo, que tem o peso da madeira há a leveza das sombrinhas. Inês também destacou que o texto de Pirandello é mais atual do que nunca porque mostra a correria e a modernidade que permeiam o dia a dia. "A gente encena como se estivesse dentro de um circo. Há uma teatralidade exarcebada. A gente mergulha no teatro". Com relação à personagem, ela disse que foi um presente dado por Villela. Musicalidade Villela e o Galpão experimentam a música, ao vivo, tocada e cantada pelos atores, como um elemento fundamental na tradução do universo da fábula para o teatro popular de rua. Para compor o repertório da peça foram selecionadas algumas árias e canções italianas, popular e moderna. “Ciao amore”, “Bella ciao” e outras músicas ganham novos arranjos e coloridos para ambientar a atmosfera onírica do espetáculo. Para chegar a esse resultado, durante meses, os atores passaram por treinamento musical com parceiros antigos, como Babaya e Ernani Maletta, e por uma pesquisa sobre a antropologia da voz, com a performer e musicista, Francesca Dell Monica, que trabalha a partir da técnica de espacialização vocal. A temporada de estreia em Belo Horizonte será na Praça do Papa, de 30 de maio a 2 de junho, quinta-feira a sábado, às 20h, e domingo, às 19h. Depois segue para o Parque Ecológico da Pampulha, nos dias 8 e 9 de junho, sábado e domingo, às 18h. O acesso é gratuito e a classificação é livre. Mais informações no site do Grupo Galpão. Atriz Inês Peixoto interpreta a protagonista condessa Ilse em 'Os gigantes da montanha' (Foto: Guto Muniz / Divulgação) ‘Os gigantes da montanha’ Quando morreu vítima de forte pneumonia, em 1936, Pirandello ainda não havia concluído “Os gigantes da montanha”, que possui apenas dois atos. Em leito de morte, o autor relatou ao filho Stefano um possível final, que aparece indicado como sugestão para o terceiro ato. Para o Galpão, o fascínio de montar a fábula está em sua incompletude, que lhe atribui característica de obra aberta, possibilitando múltiplas leituras e interpretações. O texto foi uma escolha de Villela para celebrar o reencontro com o Galpão. A fábula narra a chegada de uma companhia teatral decadente a uma vila isolada do mundo, cheia de encantos, governada pelo mago Cotrone. A trupe de mambembes encontra-se em profundo declínio e miséria, por obsessão de sua primeira atriz, a condessa Ilse, em montar "A fábula do filho trocado" (peça escrita por um jovem poeta que se matou por amor não correspondido da condessa). Cotrone, o mago criador de "verdades que a consciência rejeita", começa a construir os fantasmas dos personagens que faltam para a companhia montar a peça. Ele convida os atores a permanecerem para sempre na vila, representando apenas para si mesmos a “A fábula do filho trocado”. Ilse, no entanto, insiste que a obra deve viver entre os homens, sendo representada para o público. A solução encontrada, que resultará no desfecho trágico da peça é sua apresentação para os chamados "Os gigantes da montanha", povo que vive próximo da vila. Os gigantes, por terem um espírito fabril e empreendedor, "desenvolveram muito os músculos e se tornaram um tanto bestiais", e, portanto, não valorizam a poesia e a arte. O ato final da peça, que ficou inconcluso, mas que chegou a ser vislumbrado pelo autor em leito de morte, descreve a cena em que Ilse e a poesia são trucidadas pelos embrutecidos Gigantes. A peça termina com os atores da companhia carregando o corpo da atriz na mesma carroça em que chegaram à primeira cena. “Os Gigantes da Montanha” traz uma contundente discussão sobre o possível lugar da arte e da poesia num mundo dominado pelo pragmatismo e pela técnica. A morte de Ilse representa a morte e também o renascimento da arte. Como a Fênix que ressurge das cinzas: a velha arte precisa morrer para que novas sensibilidades artísticas brotem e floresçam. Ator Eduardo Moreira interpreta o mago Cotrone (Foto: Guto Muniz / Divulgação) Pirandello Luigi Pirandello nasceu em Agrigento (Sicília), em 1867. Ele considerava a atividade teatral menos importante em sua condição essencial de poeta (Mal Jucundo), romancista (O Falecido Matias Pascal, A Excluída, O Turno) e contista (364 escritos). Mas foi como teatrólogo, curiosamente, que Pirandello ganhou êxito. Das peças mais conhecidas estão “Henrique IV” e “Seis personagens à procura de um autor”, que abordam a natureza da loucura e da identidade. Em 1934, o escritor ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, por sua audaz renovação e questionamentos sobre a arte cênica e dramática. Com pinceladas de realidade à ficção, Pirandello explorava, a tradição elisabetana da “peça dentro da peça” e temas referentes aos bastidores da maquinaria cênica. Em 1936, o autor morreu vítima de pneumonia. Villela e o Galpão experimentam a música, ao vivo, tocada e cantada pelos atores, como um elemento fundamental na tradução do universo da fábula para o teatro popular de rua. Para compor o repertório da peça foram selecionadas algumas árias e canções italianas, popular e moderna. “Ciao amore”, “Bella ciao” e outras músicas ganham novos arranjos e coloridos para ambientar a atmosfera onírica de espetáculo. Para chegar ao resultado, durante meses, os atores passaram por treinamento musical com parceiros antigos, como Babaya e Ernani Maletta, e por uma pesquisa sobre a antropologia da voz, com a performer e musicista, Francesca Dell Monica, que trabalha a partir da técnica de espacialização vocal. Atores encenam espetáculo de Pirandello (Foto: Guto Muniz / Divulgação) Cenário e figurino A ponte Brasil-Minas-Itália é costurada pelas mãos de Villela e dos assistentes de direção, Ivan Andrade e Marcelo Cordeiro, que misturam referências diversas. Em um mesmo caldeirão estão reunidas Sicília, Carmo do Rio Claro, macumba, magia, Commedia Del’Arte e circo-teatro, Vaudeville, Totó e Vicente Celestino, Ana Magnani e Procópio Ferreira, Mamulengo e ópera, festival de San Remo e seresta mineira. "Os gigantes da montanha" convida o público para um mergulho teatral que funde e sintetiza o brasileiro com o universal, o erudito com o popular, a tradição com a vanguarda. Um desafio à altura da trajetória de 30 anos de buscas e desafios do Galpão. Essa alquimia fica claramente representada nos figurinos e no cenário do espetáculo. Construído por madeira feita de demolição, o cenário traz 12 mesas robustas, objetos, armários e cadeiras que se movimentam para elevar a encenação e caracterizar a atmosfera de sonho da fábula. Coloridos e brilhantes, concebidos especialmente para apresentações à noite, os adereços e figurinos do espetáculo carregam detalhes e referências do teatro popular, que surgem das ideias inventivas de Villela e das mãos criativas de seu parceiro antigo, José Rosa. Os bordados da costureira Giovanna Vilela realçam e dão toque especial ao acabamento das peças. Tecidos trazidos da Ásia, do Peru e de outros cantos do Brasil, pelo diretor, adornam as roupas. Velhas sombrinhas bordadas de “Romeu e Julieta” reaparecem e ganham nova função na peça, com efeitos que tornam a Vila de Cotrone, fantasmagórica e cheia de encantamentos. Villela e equipe também se utilizam de máscaras inspiradas na Commedia Del’Arte e fabricadas pelo artista natalense Shicó do Mamulengo, para trazer à encenação um aspecto burlesco e, ao mesmo tempo, sombrio. Ficha técnica Elenco Antonio Edson - Cromo Arildo de Barros - Conde Beto Franco - Duccio Doccia / Anjo 101 Eduardo Moreira - Cotrone Inês Peixoto - Condessa Ilse Júlio Maciel – Spizzi / Soldado Luiz Rocha (ator convidado) - Quaquèo Lydia Del Picchia - Mara-Mara Paulo André - Batalha Regina Souza (atriz convidada) – Diamante / Madalena Simone Ordones - A Sgriccia Teuda Bara - Sonâmbula Equipe de criação Direção: Gabriel Villela Texto: Luigi Pirandello Tradução: Beti Rabetti Dramaturgia: Eduardo Moreira e Gabriel Villela Assistência de direção: Ivan Andrade e Marcelo Cordeiro Preparação vocal e texto: Babaya Iluminação: Chico Pelúcio e Wladimir Medeiros Figurino: Gabriel Villela, Shicó do Mamulengo e José Rosa Cenografia: Gabriel Villela, Helvécio Izabel e Amanda Gomes http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2013/05/com-entrada-franca-galpao-estreia-os-gigantes-da-montanha-em-bh.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário