quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O Macbeth de Gabriel Villela No ano em que venho encarando como missão assistir a no mínimo uma peça por mês, não poderia faltar uma montagem de Shakespeare – ainda que, em abril, tenha visto o divertidíssimo “ppp@wllmshkspr.com.br”, dos Parlapatões. Ontem vi a versão de “Macbeth” do diretor Gabriel Villela, um dos brasileiros mais gabaritados na obra do Bardo. No limite entre a afetação e a ousadia, Villela construiu em seu “Macbeth” um visual hipnótico, que mistura o clássico e o moderno (trajes de época com all-stars, num exemplo breve) para contar a tragédia do personagem principal, que motivado por visões sobrenaturais, muita ambição e uma esposa maquiavélica, chega ao trono de Rei da Escócia. O difícil papel-título é interpretado por Marcello Antony com uma impostação que em outras circunstâncias poderia incomodar, mas acaba se encaixando bem na proposta da peça. Seu semblante está sempre entre o decidido e o amedrontado, e são as nuances entre esses dois lados que movem a trama. Numa escolha de fato interessante, o diretor escala um ator (Cláudio Fontana) para fazer Lady Macbeth, um dos personagens mais icônicos não apenas da obra de Shakespeare, mas da história do teatro. A opção justifica-se não apenas por ser uma citação direta aos tempos da encenação original, quando apenas homens podiam interpretar, mas também para nos lembrar que a força de um personagem vai além do gênero. E é visível o nível de entrega de Cláudio para construir uma poderosa Lady Macbeth. Não há como negar, porém, que desafiando a velha máxima que diz que o teatro é a arte do ator por excelência, quem brilha mais nesse “Macbeth” em cartaz até 19 de agosto no Teatro Vivo ainda são as soluções de Gabriel Vilella para buscar originalidade em um material que já foi feito e refeito inúmeras vezes desde 1611. Na contramão da tendência atual que parece nos querer vender a ideia de que “quanto mais realista, melhor”, o diretor não nos deixa esquecer nem por um momento que estamos diante de um espetáculo: homens podem ser mulheres, agulhas de tricô podem ser espadas, barbante pode ser sangue, e por aí vai. E claro, William Shakespeare em mãos hábeis sempre dá gosto de ver. http://cambioedesligo.blogspot.com.br/2012/07/o-macbeth-de-gabriel-villela.html

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