sexta-feira, 15 de julho de 2016

POPULAR

América Latina de cores, cantos e descasos

Peça fala da vida dos excluídos em tom de comédia

Enviar por e-mail
Imprimir
Aumentar letra
Diminur letra
Fonte Normal
PUBLICADO EM 15/07/16 - 03h00
O universo do circo-teatro acompanha alguns dos trabalhos do diretor Gabriel Villela, como na conhecida montagem de “Romeu e Julieta”, feita ao lado do Grupo Galpão. É a essa estética, que perdurou por mais de meio século no desenvolvimento das artes cênicas no país, que Villela recorre para contar a história de Mina e Fifi, duas artistas do teatro musical que ganham a vida com shows pela América Latina.

“Usamos essa linguagem para revestir, dar corpo e cor ao espetáculo. É uma linguagem mais simplista, delicada e ingênua. De alguma forma, todas as artes primitivas que têm conteúdo ingênuo, que são menos elaboradas do ponto de vista teórico e que são feitas na rua como os mamulengos, a palhaçaria, falam direto ao coração do espectador. Não há filtros na elaboração ou na interpretação. O olhar é direto”, comenta o diretor.

Estrelada pela atriz Walderez de Barros, antiga companheira de cena de Villela, “Rainhas do Orinoco” será apresentada neste sábado (16), às 21h, e domingo (17), às 20h, no Teatro Bradesco. Em cima de um barco, as artistas viajam pelo rio Orinoco, cantam e representam seus amores e seus sonhos em uma viagem lírica e também bem-humorada, mesmo ao revelarem condições de descaso político e social.

“Mina, minha personagem, é uma artista de teatro de variedades, que está na profissão há muito tempo, em fim de carreira, quando se torna difícil conseguir um bom trabalho, mas ela precisa continuar trabalhando para sobreviver. Ela tem uma visão pessimista das coisas, ao contrário de sua colega Fifi, uma otimista sonhadora, personagem interpretada por Luciana Carnielli. As duas estão navegando pelo rio Orinoco a caminho de um novo trabalho no fim do mundo, quando estranhos acontecimentos fazem com que o barco fique à deriva”, comenta Walderez.

Estar em um barco à deriva, diz a atriz, lhe “pareceu uma excelente metáfora para a condição humana”. “Todos nós estamos à deriva, sendo levados pelo nosso destino. E o que me encanta no texto é a maneira bem-humorada como se conta essa história, que poderia ser dramática, mas é uma bela comédia”, completa.

A bordo do barco, as artistas de cabaré passam por diversas cidades e vivem momentos de alegria e de perrengues. “É a vida de duas artistas que cantam seus desejos e suas dores. Mas o autor engendra na fábula pequenas e delicadas doses de realismo mágico. Tem poesias que falam do superlativo e exuberante delírio tropical e equatorial, que está no imaginário das personagens e das pessoas”, comenta Villela.

O caminho percorrido pelas artistas, que vai do Paraguai à América Central, revela também uma América Latina desprotegida, como sinaliza o texto do dramaturgo mexicano Emilio Carballido. “É uma grande metáfora do descaso, do isolamento, do desamparo de um continente jovem, de 500 anos, que vive sob a desproteção política e social dos cem anos de solidão da América Latina”, diz o diretor, em referência à obra de Gabriel García Márquez, que é citado em cena, a partir do texto do próprio dramaturgo.

A peça se passa em vários lugares e não tem fronteiras geopolíticas. “Isso é uma manobra do autor de dizer que essa é a história de todos nós. E o desfecho é similar ao filme ‘Thelma & Louise’. Não há uma bandeira feminista, mas diz da situação de todos os excluídos, dos que não entram nos cálculos do mundo civilizado europeu. Quando a vida cerca, uma hora, não há mais saídas”, adianta o diretor.

E dentro do contexto sem fronteiras, segundo Villela, o que há de mais brasileiro é a trilha sonora que traz canções da América Latina cantadas na voz da dupla sertaneja Cascatinha e Inhana, do interior de São Paulo. “São sofisticados e comoventes”, afirma.

Serviço. Espetáculo “Rainhas do Oniroco”, neste sábado (16), às 21h, e domingo (17), às 19h, no Teatro Bradesco (rua da Bahia, 2.244 - Lourdes). Ingressos: Setor I: R$ 70 (inteira); Setor II: R$ 50 (inteira) 

http://www.otempo.com.br/divers%C3%A3o/roteiros-culturais/teatro/am%C3%A9rica-latina-de-cores-cantos-e-descasos-1.1338037

Nenhum comentário:

Postar um comentário