quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

16/01/2014 19h19 - Atualizado em 16/01/2014 19h19 'Um Réquim para Antonio' destaca rivalidade entre Salieri e Mozart Elias Andreato e Claudio Fontana estrelam peça dirigida por Gabriel Villela imprimir Elias Andreato e Claudio Fontana vivem grandes nomes da música clássica (Foto: Divulgação) Elias Andreato e Claudio Fontana vivem grandes nomes da música clássica (Foto: Divulgação) Uma das características das lendas – a dúvida sobre a veracidade dos fatos – sempre provocou um certo encantamento nos ouvintes. Chega ao palco do Teatro Tucarena, em 17 de janeiro, um dos maiores mitos da música clássica. A rivalidade e a inveja entre o compositor italiano Antonio Salieri e o compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart ganham um tom lúdico e misterioso em “Um Réquiem para Antonio”, com estreia no dia 17 de janeiro, no Teatro Tucarena. O texto inédito de Dib Carneiro Neto tem direção de Gabriel Villela, que completa 25 anos de trajetória artística em 2014. Saiba dias e horários do espetáculo Tal antagonismo já foi tema para o escritor russo Alexsander Pushkin, em "Mozart e Salieri" (1830), e, nos anos 80, no espetáculo de Peter Shaffer, adaptada para o cinema com o título “Amadeus” por Milos Forman. O filme, vencedor de oito estatuetas do Oscar, em 1984, retrata um Salieri invejoso do gênio de Mozart, e ao mesmo tempo admirador de sua obra. No texto de Dib Carneiro, Salieri delira em seu leito de morte e faz um acerto de contas imaginário com seu rival, morto há 34 anos. Mentor de compositores famosos como Ludwig Van Beethoven, Carl Czerny, Franz Liszt e também do filho mais novo de Mozart, Franz Xaver, Antonio Salieri é vivido pelo ator e diretor teatral Elias Andreato. Já Mozart é interpretado por Cláudio Fontana. A encenação de Gabriel Villela aponta o lado mítico da inveja, trazendo um Salieri sombrio, confuso e frágil em contraponto a um Mozart gozador, confiante e ágil. Assinado pelo diretor em parceria com José Rosa, o figurino utiliza narizes de clown e trajes que imprimem o arquétipo dos personagens antes mesmo de as palavras serem ditas no espetáculo. O texto inédito de Dib Carneiro Neto tem direção de Gabriel Villela (Foto: Divulgação) Claudio Fontana como Mozart (Foto: Divulgação) A pedido do Globo Teatro, Claudio Fontana e Elias Andreato fizeram três perguntas um para o outro, sobre o espetáculo e o deasfio de interpretar duas grandes figuras da música clássica. Claudio Fontana: Elias, você sempre define o teatro como um sacerdócio. E sempre ao te ver em cena sentimos o resultado dessa vocação maravilhosa que você tem para o palco. Como você enxerga hoje seu ofício de ator no teatro? Elias Andreato: Com a idade avançando, não se pensa tanto. Vive-se intensamente o que nos é permitido. A escolha já foi feita. As alegrias e tristezas são conquistas e nada se torna tão definitivo.Tudo se transforma. Acho que a única coisa que permanece intacta é a paixão, mesmo que isso vire frase de parachoque de caminhão. O meu teatro morre comigo. A minha história só tem importância para mim. Penso no meu ofício e o quanto sou grato por todo conhecimento e aprimoramento do meu espírito. Devo a ele muito mais do que dei, o teatro é, e sempre será, de tantos outros. Assim sendo, ele viverá para sempre. CF: Antonio Salieri foi um dos maiores compositores de sua época mas ficou marcado como um músico que viveu à sombra de Mozart e portanto, sobre ele recaiu o mito da inveja. Como você criou seu personagem em 'Um Réquiem Para Antonio'? EA: Na minha juventude, entendi que a inveja poderia destruir qualquer possibilidade de poesia na minha profissão. Me dediquei a estudar o ser humano sempre atento a todas as possibilidades. A psicanálise foi fundamental, 20 anos de estudos, sofrimentos e muita angústia. O sucesso é tentador, sedutor, necessário e glamouroso. Ele é determinante na continuidade da nossa trajetória, da nossa sobrevivência. Todos somos merecedores. O papel do teatro é transformar o cidadão antes de querer pensar na nação. A inveja é burra, o sucesso do outro nunca será o meu! Quando penso no Salieri, penso na brincadeira que só o teatro escancara, como nossos defeitos e qualidades são risíveis. CF:Quais ainda são seus sonhos como artista? EA: Muitos amigos morreram.Todos talentosos, famosos... Alguns tristes outros vaidosos. Alguns esquecidos, outros quase. Quando penso no sonho, penso no agora. Antes de um grande texto ou um grande personagem, fico com um dia alegre, já que a felicidade é tão relativa... Gabriel Villela completa 25 anos de trajetória artística com novo trabalho (Foto: Divulgação) Elias Andreato intrepreta Salieri: "A única coisa que permanece intacta é a paixão" (Foto: Divulgação) Elias Andreato: O que o teatro provoca em você? Claudio Fontana: O teatro é desafio, aprendizado, dedicação, humildade, emoção, doação, troca, vida. O teatro transforma, perfura, mistura, desperta, estimula, transcende. O teatro me dá, a cada sessão, uma pequena chance de emocionar e, através dessa emoção, modificar outro ser humano. Para melhor. EA: Como é realizar seus projetos, estando envolvido em todo o processo, criativo e de produção? CF: Viabilizar financeiramente meus projetos é criar um ambiente de tranquilidade para que o processo criativo se instaure. Produzir meus projetos como ator significa escolher autores, diretores, colegas, técnicos, criadores. E respeitá-los com a mesma dignidade com a qual eu mesmo gostaria de ser respeitado. EA: Como a inveja de Salieri chega até os nossos dias? CF: Invejar é estarmos tristes perante o que o outro tem e nós não temos. Invejar é mostrar o quanto nos sentimos infelizes, e nossa atenção constante às ações e omissões dos outros mostra o quanto nos entediamos. Invejar é inerente ao ser humano e, ao nos utilizarmos da mítica inveja de Salieri por Mozart em “Um Réquiem para Antonio”, estamos provocando na plateia a reflexão sobre as causas e consequências desse sentimento dentro de cada um de nós. http://redeglobo.globo.com/globoteatro/boca-de-cena/noticia/2014/01/um-requim-para-antonio-destaca-rivalidade-entre-salieri-e-mozart.html

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