terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Peça revê mítica rivalidade entre Mozart e Salieri 'Um Réquiem para Antonio' esmiúça o conturbado relacionamento entre os personagens históricos 14 de janeiro de 2014 | 18h 46 Notícia Email Print A+ A- inCompartilhar Maria Eugênia de Menezes - O Estado de S. Paulo Há mentiras que se tornam verdade. A tal ponto que passa a importar pouco que tenham acontecido ou não. Ao escrever Mozart e Salieri, o russo Aleksander Pushkin tratava da relação entre os dois compositores, instaurando entre eles uma mortal rivalidade. Nos anos 80, quando Peter Shaffer lançou a peça Amadeus, que posteriormente inspiraria o filme premiado de Milos Forman, a disputa entre os dois artistas voltou à berlinda. Veja também: link Rivalidade entre Salieri e Mozart pautou modo como compositores foram compreendidos Estudiosos da música clássica já tentaram soterrar a tese: Salieri tinha mais fama à época do que Mozart e não teria motivos para odiá-lo. Mas a narrativa do tal desentendimento – seja ele realidade ou ficção – continua a inspirar novas obras. Um Réquiem para Antonio, que estreia na quarta, 15, no Tucarena, também esmiúça o conturbado relacionamento entre os personagens históricos. Escrito por Dib Carneiro Neto (autor de Salmo 91), o texto merece versão de Gabriel Villela. E transporta o pretenso episódio da Viena do século 18 para um atemporal picadeiro circense. “A opção por uma gramática cômica vem acentuar o aspecto mais grotesco dos personagens”, comenta o diretor mineiro, que completa 25 anos de carreira em 2014. Foram os atores Claudio Fontana e Elias Andreato, protagonistas da montagem, que pediram ao autor um espetáculo teatral sobre o tema. “Muita coisa mudou, mas o incômodo em relação ao sucesso do outro persiste. Ou até se acentuou com os atuais mecanismos de exposição da vida privada”, observa Elias Andreato, responsável pela interpretação do italiano Antonio Salieri. Se o mote da inveja entre os músicos não é novo e já serviu de subsídio para outras criações, o que diferencia o novo título é a maneira de narrar. “Não existe uma história linear”, pontua Carneiro Neto. “Minha contribuição é menos em relação ao enredo e mais em relação à estrutura, à forma.” Para não incorrer no erro histórico nem ver-se enredado na velha querela sobre a veracidade do fato, o escritor fez com que todas as ações do espetáculo sejam um delírio de Salieri. “Aqui, tudo se passa dentro da dentro da cabeça dele.” Em seu leito de morte, ele relembra acontecimentos e tem um encontro imaginário com Mozart – que viveu muitos anos menos e já estava morto naquele momento. “Escolhido esse jeito de criar, posso me defender da maneira como as pessoas irão interpretar a peça. Estou lidando com um mito”, ressalva o dramaturgo. Em sua contribuição a essa “mitologia” moderna, Gabriel Villela utiliza uma visão particular: transforma os compositores em clowns, transfigura seus rostos com tinta branca e um nariz de palhaço em cada um. “O nariz vermelho é a menor e mais poderosa máscara do mundo. Um pequeno adereço, mas que serve para eliminar qualquer psicologismo da trama”, comenta o encenador. Nesse enfrentamento, a figura de Mozart ganha tons mais luminosos e uma forte conotação infantil – tanto na voz quanto na natureza de seus comentários. Já Salieri surge no palco como um amargo bufão, em cores mais escuras e gestos menos harmoniosos. “Tanto a peça de Shaffer quanto o filme lidam com o lado mais sublime, enfatizando a arte dos dois. Eu queria ir para o outro lado: tratar do limbo, do obscuro”, observa Villela. A imaturidade de Mozart bem como sua pretensão à escatologia foram frisadas. Seus comentários dão conta de perversões sexuais e detalhes da fisiologia humana. Já Salieri tem seu aspecto carola acentuado. Também sua religiosidade, traço largamente abordado pelo longa Amadeus, é retomado na peça. “Muitos componentes dessa história não existem. Mas o que realmente existia, por parte do Salieri, era um grande ressentimento em relação à genialidade de Mozart. Um sentimento de que havia uma injustiça: não apenas na Terra, mas também no Céu”, crê o dramaturgo. Os palhaços do diretor foram construídos a partir de um amalgamado de referências: da Commedia dell’Arte italiana, do cinema de Federico Fellini e dos sátiros da tragédia grega. A herança grega pode ser reconhecida ainda no palco em formato de arena. Ele não remete apenas ao circo, mas aos anfiteatros da Grécia Antiga. “O espaço público do mito é a arena, é lá que esses mitos podem conversar”, diz o diretor. Ao lidar com a inveja, o espetáculo inevitavelmente evoca a tradição cristã e aqueles que são considerados os pecados capitais. O teatro de Shakespeare é outro dos pontos de apoio da encenação. Tanto no drama histórico Ricardo III quanto na tragédia Macbeth (dois textos, aliás, recentemente montados por Villela) são a ambição desmedida e a cobiça os motores da rede de assassinatos e crimes que é posta em movimento. Além da estética abarrocada, o uso imaginativo da música é uma das marcas da estética do encenador. Para ressaltar ainda mais a ausência de vínculo com a realidade e sua liberdade criativa, a trilha sonora excede o universo dos compositores clássicos em questão e abraça referências populares, como Tom Jobim. http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,peca-reve-mitica-rivalidade-entre-mozart-e-salieri-,1118446,0.htm Disputa entre Salieri e Mozart pautou modo como compositores foram compreendidos A versão do assassinato de Mozart foi cristalizada no imaginário contemporâneo pelo filme ‘Amadeus’, de Milos Forman, que por sua vez se baseou na peça de Peter Shaffer 14 de janeiro de 2014 | 18h 53 Notícia Email Print A+ A- inCompartilhar João Luiz Sampaio - O Estado de S. Paulo A rivalidade doentia entre Antonio Salieri e Wolfgang Amadeus Mozart, ainda que exagerada, acabou pautando a própria maneira como os dois compositores foram compreendidos e analisados ao longo das décadas. Em resumo, fez com que pairasse sobre o primeiro a pecha do autor menor que, sentindo-se ameaçado, acabaria envenenando o pequeno gênio que monopolizava a atenção do meio musical de sua época. Veja também: link Peça revê mítica rivalidade entre Mozart e Salieri As próprias circunstâncias misteriosas da morte de Mozart, ocorrida enquanto o compositor escrevia seu ‘Réquiem’, foram terreno fértil para que brotassem versões das mais diferentes sobre seu desaparecimento. O fato, porém, é que não há prova documental de que Salieri o teria envenenado. Faz diferença? No caso de obras de ficção, como peças, livros ou filmes, talvez seja mais interessante pensar que a história de um personagem real é também a história do modo como ele é visto e compreendido pela sensibilidade de cada época. E, que, assim, a forma como entendemos e interpretamos Mozart hoje diz muito a respeito não apenas dele mas também, ou principalmente, de nós mesmos. A versão do assassinato de Mozart foi cristalizada no imaginário contemporâneo pelo filme ‘Amadeus’, de Milos Forman, que por sua vez se baseou na peça de Peter Shaffer. A relação entre os dois músicos, no entanto, já inspirara autores muito tempo antes, em especial o russo Aleksander Pushkin, que ainda no século 19 escreveu a peça ‘Mozart e Salieri’, que seria mais tarde transformada em ópera por Rimsky-Korsakov. E agora chega aos palcos brasileiros ‘Um Réquiem para Antonio’, de Dib Carneiro Neto. Shaffer foca na rivalidade entre os autores; Pushkin, como anota o crítico Lauro Machado Coelho, aborda o conflito a princípio insuperável entre o gênio e o mero talento. Carneiro Neto segue em um caminho diferente e original. O cenário da narrativa é a mente de Salieri – é nela que se dá seu encontro com Mozart. Este é o ponto de partida para que o dramaturgo crie um jogo de espelhos e projeções – e isso importa mais do que a verdade factual, ainda que seja notável a atenção dispensada pelo autor a episódios reais e o cuidado com que aproxima seu Mozart do personagem revelado por sua farta correspondência. No final das contas, ‘Um Réquiem para Antonio’ utiliza dois personagens bem marcados no imaginário coletivo para tratar da descoberta de si próprio por meio do outro – ou, seria melhor dizer, do difícil diálogo entre traumas, desejos, sonhos e expectativas que formam esse espaço maior do que a verdade ou a ficção que é a mente humana. http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,disputa-entre-salieri-e-mozart-pautou-modo-como-compositores-foram-compreendidos,1118449,0.htm http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,peca-reve-mitica-rivalidade-entre-mozart-e-salieri-,1118446,0.htm e no http://www.panorama.com.br/index.php?option=com_k2&view=item&id=15889:pe%C3%A7a-rev%C3%AA-m%C3%ADtica-rivalidade-entre-mozart-e-salieri&Itemid=23&tmpl=component&print=1 mas tinha que ter a fonte!

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