FIT BH 2012 – Fiquei rica!
This entry was posted on 17/07/2012, in Teatrando and tagged belo horizonte, FIT BH 2012, teatro. Bookmark the permalink. Deixe um comentário
No post anterior, falei de forma geral o que foram os últimos dias pra mim, destacando a imersão teatral-artística-cultural-sensacional que vivi: o FIT BH. Aqui, vou falar dos espetáculos que mais me chamaram atenção em todo o festival. Quando comecei a escrever, a intenção era transmitir a experiência e seu significado para mim. No entanto, após ver o cursor piscar mil vezes na tela em branco, percebi que definitivamente não reduzimos esse tipo de coisa a um punhado de palavras. Fica então um registro aparentemente superficial, mas de significado profundo pra quem está dando os primeiros passos no teatro.

A primeira experiência no FIT foi também uma das mais especiais: a adaptação do Grupo Galpão para Romeu e Julieta. Eu, que sempre amei BH, senti-me especialmente orgulhosa quando vi todas aquelas pessoas ali reunidas. Parece bobagem, mas não é. Senti uma sensação inédita, como se todos nós ali nos conhecêssemos e estivéssemos nos reunindo na sala de casa pra assistir TV. Só que era muito mais especial e envolvente que isso. Estávamos ali pra compartilhar o espetáculo, e tudo o que o tornava ainda mais espetacular: as montanhas ao fundo, o clima ameno, a vista da nossa cidade… Fui tomada por verdadeira euforia ao perceber o espaço público utilizado para celebrar a convivência, o deleite de um domingo, o início de uma nova semana. Enfim, senti a agitação da urbanidade serenar-se através daquele momento pleno de encontro, lazer e cultura… Apreciei os sorrisos do público, os olhos curiosos, as palmas, as vozes entoando as músicas puxadas pelo elenco. Uma sucessão de acertos, coroados pelo inexplicável efeito que o por do sol conferia a tudo. Não sei quanto tempo durou o espetáculo, mas sei que sua lembrança estará presente enquanto o sol subir e descer naquele belo horizonte.
Aí veio Sua Incelença, Ricardo III. Não sei se por ter chegado em cima da hora e por isso sentado muito longe, mas não gostei. Mal ouvia a fala dos personagens, e por já ter perdido o fio da meada, decidi ir embora antes do final. Foi a única coisa que não deu muito certo, em todo o festival.

Ofuscando o fiasco do dia anterior, veio Selton Mello em O Palhaço. Não é porque adoro o Selton desde sempre, nem porque a história se passa em Minas Gerais, nem pelo convite à reflexões banhadas de humor… A tônica da experiência foi a forma como o filme falou a mim – tão diretamente que acreditaria ser até algo pessoal. E como se não bastasse, a exibição deu-se em um parque localizado a poucos metros da minha casa, o qual eu sempre soube existir, mas nunca dei bola. E não é que agora eu adoro o tal lugar?
Adoro quando algo me faz pensar e rir ao mesmo tempo, principalmente quando trata-se de encenar, criticar e discutir dramas e inconsistências humanas. Por isso, Abito, Umnenhumcemil e Mistero Buffo foram excelentes. Envolveram-me completamente, cada um com sua proposta. Foi quando notei que cenários simples são muitas vezes um convite a reflexões profundas.
Foram incontáveis boas atuações as quais presenciei, mas se fosse para eleger a melhor delas, não pensaria duas vezes para indicar Dani Barros dando vida a Estamira. Eu, que estou engatinhando no teatro, olhei pra ela ali em cima do palco e vi uma grande inspiração. Quero um dia conseguir transitar com tamanha facilidade e competência entre o choro comovente e o riso, o olhar frágil e os gestos enérgicos, a realidade e a ficção. Sei que ainda tenho um monte de gente boa pra conhecer, mas já a coloco em meio às minhas atrizes preferidas.
Outro espetáculo delicioso foi O Idiota. Pensei que idiota seria eu, em comprar ingresso pra um espetáculo de 7 horas e meia de duração. Só que mudei de ideia rápido, pois até ali tinha sido tudo tão bom durante o festival… imaginei que experiência poderia estar reservada a mim com mais este. Felizmente, não me arrependi nem um pouco. Foi como pegar o mesmo trem das personagens e viajar muito, pra bem longe. E por horas não pensei em nada: deixei-me envolver completamente, e lá fui eu pra Polônia, tomei champagne, fui convidada de um jantar e uma festa de noivado… Para quem sabe o que foi Fátima, é fácil entender que tenho tomado gosto por esse tipo de espetáculo em que a plateia é inserida na história. Deste, em especial, ficou a percepção de quão incrível é a mente humana ao criar situações, antever sensações e desencadear auto críticas. É mais ou menos o que eu quero dizer quando conto a alguém que uma peça pode valer mais que mil anos de terapia.
E as cortinas fecharam-se para mim, pela última vez neste festival, com Voyageurs Immobiles. Não poderia haver melhor pedida, pois até ali eu já havia assistido muitas coisas densas, então foi agradabilíssimo conferir um verdadeiro show de ilusão de ótica, humor e trocas incríveis de cenário. Não que não houvesse qualquer convite ao pensamento – muito pelo contrário. E foi divertido demais até me sentir uma trouxa por não fazer ideia de como eles conseguiam fazer certas coisas. Eu olhava fixamente pra ver se captava o segredo, mas convenci-me de que não ia rolar. Eles são bons mesmo.
http://amandacrl.wordpress.com/2012/07/17/fitbh2012/
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