domingo, 20 de janeiro de 2013

UM CICLO QUE SE FECHA por Eduardo Moreira 17 de janeiro, 2013, 14:53 A participação de “Romeu e Julieta”no encerramento do festival “Santiago a mil”, no Chile, celebra o ponto final das comemorações dos trinta anos de existência do Galpão. O festival de Santiago é hoje a principal vitrine do teatro internacional na América do Sul, especialmente depois das crises econômicas que esvaziaram importantes eventos do continente, como os festivais de Caracas e de Bogotá. Um ciclo comemorativo se fecha para que o grupo retome um novo período dedicado à sala de ensaio e à gestação de um novo espetáculo. Saímos da celebração do encontro com o público para entrarmos num processo de isolamento e de reflexão interna. É o momento de nascer “Os gigantes da montanha”, nossa nova parceria com Gabriel Villela. A história do grupo é feita da alternância desses dois estados – de um lado, as viagens e as apresentações e, de outro, o isolamento da sala de ensaios, na criação de espetáculos. Nesse sentido, períodos de ensaio representam redução drástica de turnês e apresentações. Ao longo do ano, de maio de 2012, em Londres a janeiro de 2013, em Santiago, foram 31 apresentações de “Romeu e Julieta” nas cidades de Belo Horizonte, Ouro Preto, Mariana, São Paulo, Santos, São José do Rio Preto, São José dos Campos, Caraguatatuba, Caxias do Sul e Rio de Janeiro., além das duas capitais estrangeiras. Mais uma vez a tragédia dos amantes de Verona na versão de Gabriel Villela para o Galpão mostrou sua força e empatia incondicional do público. Qual é o segredo do espetáculo? “Romeu e Julieta” foi pensado para o interior mais profundo do Brasil. Os ensaios no vilarejo de Morro Vermelho, distrito de Caeté, foram uma ferramenta fundamental para que sedimentássemos essa característica. O espetáculo traz uma brejeirice e uma ingenuidade tão brasileiras, que cativa e encanta não só o nosso público como também o estrangeiro. Canções como “Amo-te muito”, “Lua branca”, “A ultima estrofe”e “É a ti flôr do céu”encarnam como nunca esse DNA de um Brasil profundo. Algo que, por mais adormecido e soterrado que esteja, sempre emerge como nossa natureza mais profunda. Um substrato cultural que, assim como o samba, “agoniza mas não morre”. O público é convidado desde a abertura da peça, a entrar num mundo de ancestralidade em que o tempo das nossos avøs emerge e quem assiste, volta a se transformar também em criança que ouve histórias de uma tragédia de amor contada através de luas e estrêlas suspensas em varas de bambu, flôres de plástico, figurinos pintados com cal que remetem às casas de pau a pique do interior, cruzes tôscas que compõe a lápide do casal. Tudo é tão singelo e arrebatadoramente mágico e teatral, que se torna irresistível. A poesia se derrama sobre as praças das cidades, o tempo fica suspenso e o mundo inteiro se ilumina de poesia. Talvez seja pretensioso referir-se assim a um espetáculo do próprio grupo, mas “Romeu e Julieta”, mais uma vez, vinte anos depois de sua estreia, provou sua força arrebatadora, emocionando as multidões por onde passou. Como registro inesquecível dessa volta celebrativa, dois momentos mágicos ficaram marcantes para sempre na minha memória de artista. O primeiro, na praça do Papa, em Belo Horizonte, quando na cena do casamento de Romeu com Julieta, o dueto de “Amo-te muito”cantado por mim e pela Fernanda foi acompanhado por um coro de 6000 vozes delicadamente afinadas. O segundo aconteceu na apresentação no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, em que uma multidão de quase duas mil pessoas, impossibilitadas de assistir o espetáculo, por falta de espaço disponível, ouviu a peça atrás do palco montado sob a Veraneio, na mais absoluta concentração e silêncio. “Romeu e Julieta” é um momento muito mágico e poético na vida do Galpão e de milhares de pessoas. Para mim, como artista e ser humano, um marco. http://www.grupogalpao.com.br/blog/2013/01/um-ciclo-que-se-fecha/

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