domingo, 2 de fevereiro de 2014

http://www.otempo.com.br/divers%C3%A3o/magazine/o-alcance-e-os-espa%C3%A7os-da-voz-1.660548 [ RANCESCA DELLA MONICA O alcance e os espaços da voz Magazine entrevista a antropóloga da voz, cantora e pedagoga italiana Francesca Della Monica, sobre a importância de seu trabalho no recém-estreado “Os Gigantes da Montanha” Enviar por e-mail Imprimir Aumentar letra Diminur letra Fonte NormalMais Notícias Francesca Della Monica Francesca Della Monica é antropóloga da voz, cantora e pedagoga Francesca Della Monica Antropóloga da voz, cantora, pedagoga ‹› FOTO: Achille Lepera/DivulgaçãoFOTO: GUTO MUNIZ/DIVULGAÇÃO PUBLICADO EM 09/06/13 - 03h00 LILIANE PELEGRINI ESPECIAL PARA O TEMPO A italiana Francesca Della Monica tem um lugar especial nos agradecimentos do diretor Gabriel Villela e do Grupo Galpão, por seu trabalho no recém-estreado “Os Gigantes da Montanha”. O espetáculo traz o texto do dramaturgo Luigi Pirandello (1867-1936), compatriota de Francesca. Nesta primeira parceria com grupo e diretor, ela teve a missão de trazer uma nova concepção para a voz. Nesta entrevista, ela conta sobre este processo: Como começou sua relação artística com o Brasil? Começou oito anos atrás, quando eu já era responsável pela pedagogia na Fondazione Pontedera Teatro, na Itália, onde (o diretor teatral polonês Jerzy) Grotowski viveu seus últimos anos. Ali conheci o ator e diretor brasileiro Cacá Carvalho (que então já tinha um forte intercâmbio com a Itália) e ele fez um projeto com a fundação que foi uma ponte para esse contato. Ele me convidou para participar de uma montagem de “Dom Quixote”, que foi co-dirigida por Roberto Bacci, da Fondazione Pontedera. Depois, fizemos “O Homem Provisório”, baseado em “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa. O Cacá já havia trabalhado com o Grupo Galpão e foi ele quem nos apresentou. Em 2006, ministrei uma oficina de voz para o grupo e foi naquela ocasião que encontrei a realidade do grupo. Foi um encontro importantíssimo. Ali, conheci também o Ernani Maletta, que já trabalhava há muito tempo na preparação vocal do Galpão. Ele ficou muito interessado na minha metodologia e desenvolvemos uma parceria muito bacana, inclusive dois anos depois ele foi para a Itália e, além de colaborações, ele fez uma pesquisa de doutorado sobre o meu trabalho. Foi também o Ernani que me apresentou ao diretor Gabriel Villela. Assim que nos conhecemos, houve um sintonia muito grande. Logo surgiu a vontade de trabalharmos todos juntos. E como foi, então, trabalhar com o Galpão e o Gabriel Villela? O Gabriel é uma pessoa de uma sensibilidade incrível, inclusive no que se refere à voz. Ele entendeu de um jeito muito profundo o meu trabalho. Antes, sempre ficávamos conversando sobre a Itália, pensando como seria maravilhoso montar “Os Gigantes da Montanha”, que é uma metáfora maravilhosa da arte, da vida e da realidade de um grupo. Uma ideia que felizmente se realizou e eu entrei nessa realidade maravilhosa do Grupo Galpão e dos seus colaboradores, todos tão sensíveis, como o Ernani, a Babaya e o Marcelo Cordeiro. Quero ressaltar o Marcelo, que assina a assistência de direção (junto com Ivan Andrade) porque ele tem uma pesquisa sobre o corpo similar, o corpo polissemântico, que casou muito com a minha pesquisa. E tudo casou muito bem com a estética do Galpão. Esses meses de trabalho foram de milagres artísticos, por podermos trabalhar a dramaturgia completa de Pirandello. Antes, na Itália, você já havia participado de uma montagem do mesmo texto de Pirandello. Como relaciona essas duas experiências, a de lá e a daqui? As duas montagens são muito diferentes. Lá, trabalhei com o Federico Tiezzi, que também é um diretor incrível e me fez mergulhar na obra de um jeito muito filosófico. Foi uma montagem linda. Com o Galpão, foi como mergulhar de novo. Tive, inclusive, a necessidade de ‘apagar’ memórias para fazer uma nova viagem. Conhecia o texto de cor em italiano e agora conheço de cor também em português. São dois rumos muito diferentes e ficaram experiências que alimentaram meu conhecimento. A montagem do Galpão, com o Gabriel Villela, foi feita de uma forma muito feliz. Essa releitura deu uma nova vida ao texto. Para mim, é uma alegria também entregar um pouco da cultura italiana para os trópicos. Você é uma atropóloga da voz, ciência que ainda não é muito comum no Brasil. No que consiste esse trabalho e como foi o processo com o Galpão para “Os Gigantes da Montanha”? Meu processo acontece em duas direções diferentes. Uma é encontrar os diversos espaços para a voz, que são espaços epistemológicos diferentes. Num espaço físico, a voz é uma coisa; num espaço imaginário, é outra; dentro do ator, é outra. Tudo isso acontece simultaneamente. Os atores têm que fazer um trabalho múltiplo por todas as camadas da voz e os processos extra-verbais. Por isso foi importantíssimo a parceria com o Marcelo Cordeiro, que tem essa pesquisa do corpo similar e polissemântico, para chegar nessas várias linguagens. É um trabalho que alcançou níveis inexplorados da voz, de afinações e extensões da voz. Outra direção do que eu faço é o trabalho diretamente sobre o texto, em nível verbal e extra-verbal, valores fonéticos, lógicos, semânticos. Claro que é um trabalho que acontece todo por intermédio de experiências singulares, particulares e coletivas, encontrando as problemáticas de cada ator. Trabalhei com todos individual e coletivamente. O Gabriel me deu a liberdade imensa de no primeiro mês trabalhar exclusivamente com voz e texto, um a um. Trabalhamos por seis meses. Ter esse tempo é um privilégio pouco comum no teatro. Você chegou a comentar, antes da estreia da montagem com o Galpão, que ficou encantada com a tradução feita por Beti Rabetti que serviu de base para o espetáculo. É uma tradução ótima! Em “Os Gigantes da Montanha”, Pirandello alcança o nível mais elaborado da linguagem e da dramaturgia. É um diamante. Lendo a tradução feita pela Beti, tive a imprenssão de ler o texto em italiano. Eu o conheço de cor e fiquei impressionada com o que ela realizou nesta tradução. Ela estava doente e não conseguia escrever. Então, ela foi traduzindo oralmente, gravando aquilo com a voz dela. Pensei no primeiro instante que essa conjunção de ter tido que fazer a tradução falada fez a palavra ser trabalhada de uma forma diferente, física. Ajudou muito a já trazer uma embocadura. Muitas vezes, o tradutor faz uma obra-prima literariamente, mas não pensa que aquelas palavras vão parar nas bocas dos atores. Como a palavra já havia passado pela boca dela, é um trabalho que já traz em si essa outra comunicação. É uma tradução linda, que preserva a mitologia siciliana, italiana, e a poesia de Pirandello. Como foi assistir a estreia desse espetáculo sobre o qual você se debruçou por tanto tempo, ali naquele cenário natural grandioso que é a praça do Papa? Vocês estão acostumados com esses números tão grandes, aquele monte de gente. Mas eu... Imagina a minha emoção! Meu corpo estremeceu, foi uma alegria enorme compartilhar daquele momento. (Hoje, o Galpão faz a última apresentação da temporada em BH, no Parque Ecológico da Pampulha.) Você costuma dizer que acha Minas Gerais e a Sicília, na Itália, muito parecidas... Penso que são duas terras míticas, de muitas histórias e raízes, valorização da família, dos elmentos primordiais, da natureza... Pirandello conseguiu em seu texto criar uma síntese das raízes antiquíssimas da Sicília e uma linguagem moderna, experimental. Do mesmo modo, Galpão e Gabriel Villela conseguiram sintetizar as raízes e a modernidade aqui em Minas. Tanto o Galpão quanto o Gabriel têm um “apego” – ou melhor, um apreço – grande por seus colaboradores. A maioria está com eles há 10, 20 anos – Babaya e Ernani Maletta, por exemplo. Seria, então apenas o começo da sua trajetória com o grupo e o diretor? Acho que rolou um amor muito grande, quero muito trabalhar mais com todos. Foram meses maravilhosos. Volto para Europa na próxima semana, mas vamos nos reencontrar. Em outubro, devo voltar para uma nova montagem de Gabriel Villela em São Paulo e também farei concertos aqui em novembro. O que achou deste artigo? 2 4 6 8 10

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