quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

 Publicado 03/12/2015 - 23h41 - Atualizado 04/12/2015 - 00h02
Por Marita Siqueira
Cena da peça 'A Tempestade', de Willian Shakeaspeare, remontada pelo diretor Gabriel Villela e protagonizada pelo ator Celso Franteschi

FOTO : João Caldas
João Caldas/Divulgação
Cena da peça 'A Tempestade', de Willian Shakeaspeare, remontada pelo diretor Gabriel Villela e protagonizada pelo ator Celso Franteschi FOTO : João Caldas
O espetáculo 'A Tempestade', última peça escrita por William Shakespeare, ganhou nova adaptação pelas mãos do diretor mineiro Gabriel Villela. Celso Frateschi protagoniza a versão como o nobre feiticeiro Próspero, Duque de Milão, que tem poderes mágicos e vive exilado com sua filha em uma ilha fantástica. A montagem conta com 11 atores e repertório musical ao vivo composto por canções populares brasileiras, cujo tema é o universo das águas doces do Brasil e salgadas do Oceano Atlântico. O espetáculo será apresentado nesta sexta-feira (4) e sábado (5), às 21h, no Teatro Municipal José de Castro Mendes, em Campinas.
A obra se passa em uma ilha remota, onde Próspero usa ilusão e manipulação para restaurar sua filha Miranda ao poder. O feiticeiro conta com os serviços de Caliban, seu escravo, e de Ariel, o espírito servil e assexuado que pode se metamorfosear em ar e fogo. Os poderes mágicos de Próspero e Ariel se combinam para invocar uma grande tempestade, visando assim, atrair para a ilha seu irmão Antônio, que lhe usurpou a posição de duque, e seu cúmplice, o rei Alonso de Nápoles. Na ilha, a natureza vil de Antônio é revelada e suas maquinações acabam, por fim, levando-o à sua própria redenção. Em uma reviravolta, Miranda se casa com o filho de Alonso, Ferdinando.
'A Tempestade' é uma história de vingança, amor, conspirações e também de reconciliações e de perdão. “A beleza de 'A Tempestade' está no fato de ele ter um olho para o futuro e falar ‘o admirável mundo novo’ com um tom de ironia, mas que também, pelos motivos principais, ele revoga a ira, a culpa, a violência sanguinária e termina a obra com um grande perdão e uma solicitação de aplausos. É uma obra de compaixão, de reconciliação. Parte do caos em direção ao equilíbrio”, afirma Villela.
Para protagonizar a peça, o diretor convidou Celso Frateschi, que atuou na montagem há 20 anos com o personagem Caliban, enquanto Próspero foi interpretado por Paulo Autran. “O teatro tem essa coisa maravilhosa, que é a possibilidade de repetir o texto e isso te permite atingir um nível de sensibilidade, de inteligência, de paixão. Quanto mais você conhece, se abre para um conhecimento ainda maior. Sempre há uma camada mais profunda que você não conhece. Então, conhecer o texto é uma vantagem” conta o ator.
Na preparação, Frateschi buscou captar o que o Próspero dizia para o mundo atual. “Isso é o que estabelece o ‘superobjetivo’ que chamamos no teatro, o por quê você está fazendo aquilo. A partir dai, se constrói, ou reconstrói, neste caso, o personagem. Próspero é muito sábio, a ponto de entender que a vingança ao irmão que lhe deu um golpe não é necessária e é preciso encontrar o equilíbrio. E o texto é muito bonito e profundo, veja um trecho que ele diz ‘somos feitos da mesma matéria dos sonhos e entre um sonho e outro decorre nossa curta vida’. Então eu tenho que dizê-lo de forma que a plateia também sinta e perceba a beleza filosófica”, diz.
Assim como o ator, Villela acredita que o fato de a obra ter sido montada diversas vezes antes traz benefícios. “Se você tem fundamentos próprios e uma ideia exata daquilo que pode adicionar às experiências alheias, não atrapalha. É um processo natural inerente aos clássicos. Eles estão sempre circulado no nosso imaginário” , afirma. “A produção da peça saiu de uma forma muito tranquila, com ator excelentes, com o Celso capitaneando a equipe toda. Ele é um ator modelo, carregado de ética, uma referência estética, e a última geração do Teatro de Arena, que aprendeu muito pelo estudo, pela prática, pelo conjunto ético. Então, neste aspecto o navio segue tranquilo, não a deriva. Está finalizando a temporada cheio de luz” , completa.
Contemplada pela lei Rouanet de incentivo fiscal do Ministério da Cultura (MinC), o espetáculo estreou em agosto, em São Paulo, passou por Belo Horizonte e encerra a temporada em Campinas. “Para a dor de todos, porque gostaríamos de permanecer pelo menos um ano com a peça. Mas também estou muito feliz de terminar em Campinas, uma cidade que eu nem considero mais interior, é quase uma extensão de São Paulo” , diz o diretor.
Essa é a quinta direção dele para uma peça de Shakespeare — depois de 'Romeu e Julieta' (com o Grupo Galpão), 'Sonho de Uma Noite de Verão' (com a Cia de Dança Palácio das Artes de BH), 'Macbeth' (com Marcello Antony e Claudio Fontana) e 'Sua Incelença Ricardo III' (com o grupo Clowns de Shakespeare). Como estudioso das obras shakesperianas, Villela vê como apenas uma sensação a especulações de estudiosos que dizem que 'A Tempestade' foi a peça em que autor inglês, já prevendo sua morte, que aconteceu cinco anos depois, em 1616, foi escrita como uma despedida. “É mais uma percepção do que uma afirmação. Shakespeare não deixou nada escrito sobre isso, mas, na realidade, o que aconteceu foi que ele queria um espetáculo de luz e sombra, baseado nas velas, tochas, e encontrou espaço no Blackfriars — área em Londres em estilo vitoriano atualmente utilizada como locação de filmes e séries de TV —, depois de ter estreado no teatro Shakespeare’s Globe. Esse foi a última que ele escreveu, mas na sequência ele fez algumas participações”, conta.
O diretor faz referências a alguns de seus trabalhos, como uma citação a uma cena da sua versão de 'Romeu e Julieta' com o Grupo Galpão, no momento em que os personagens Ferdinando e Miranda se encontram. Em cena estão Celso Frateschi (Próspero). Helio Cicero (Caliban), Chico Carvalho (Ariel), Leticia Medella (Miranda), Dagoberto Feliz, Romis Ferreira, Marco Furlan, Rogerio Romera, Felipe Brum, Rodrigo Audi e Leonardo Ventura.
Serviço
O quê: peça 'A Tempestade'
Quando: nesta sexta-feira (4) e sábado (5), às 21h
Onde: Teatro Municipal José de Castro Mendes (Praça Correa de Lemos, s/n°, Vila Industrial, Campinas, fone: 3272- 9359)
Quanto: R$ 70,00 (plateia) e R$ 50,00 (balcão)
http://correio.rac.com.br/_conteudo/2015/12/entretenimento/402520-a-tempestade--de-shakespeare-esta-em-campinas.html

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