sábado, 22 de agosto de 2015

Gabriel Villela estreia Shakespeare com referências à cultura brasileira

Gabriel Villela estreia Shakespeare com referências à cultura brasileira

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A ilha de "A Tempestade", de Shakespeare, é também a ilha do sertão mineiro, cercado de terra, distante do mar.
Na adaptação do diretor Gabriel Villela para a peça, que estreia nesta sexta-feira (21), em São Paulo, os elementos mágicos do drama são representados por ícones da cultura popular brasileira, em especial a de Minas.
Na ilha onde se passa toda a trama, Próspero (Celso Frateschi), ex-duque de Milão banido de sua terra, encontra seres mágicos: o espírito Ariel (Chico Carvalho) e o monstro Caliban (Helio Cicero).
Com a ajuda destes, atrai para o local o navio em que estava a corte de Nápoles e seu irmão Antonio (Rogerio Romera), que lhe usurpou o ducado. Próspero usa de mágica e ilusão para se reconciliar com a família e restituir a filha Miranda (Leticia Medella) ao poder em Milão.
Marlene Bergamo/Folhapress
ILUSTRADA - 11//08/2015 - Cenas da peça "A Tempestade" (de Shakespeare), dirigida por Gabriel Villela. Foto - Marlene Bergamo/ Folhapress - 0717.
Helio Cicero como o personagem Caliban na peça 'A Tempestade'
Na releitura da magia, entram em cena elementos da cultura nacional. Os figurinos trazem rendas e bordados. Parte do detalhado cenário vem de antiquários, como a mobília de antigos casarões.
O cajado mágico usado por Próspero é um tronco retirado da represa de Carmo do Rio Claro (MG), cidade natal de Villela. A biblioteca do personagem é um armário de cachaças. Sua mesa, uma carteira escolar. "Tudo tem uma força simbólica", diz Villela.
Potes de cerâmica, da região de Tiradentes, são usados pelos atores para projetar suas vozes, uma referência à acústica do teatro grego e uma forma de tornar suas falas mais artificiais, míticas, explica o encenador.
Acompanham o visual músicas do cancioneiro popular brasileiro, interpretadas pelos atores em coros e com o auxílio de instrumentos.
"O elenco é muito heterogêneo, com gente de várias gerações, e todos entraram em acordo com a linguagem. Nos ensaios, descobrimos que alguns atores tocavam instrumentos, e virou um processo de colaboração", conta Cacá Toledo, assistente de direção ao lado de Ivan Andrade.
Assim, a chegada do navio à ilha é acompanhada por "Peixinhos do Mar" (Milton Nascimento). Em outra cena, ouve-se: "Minha jangada vai sair pro mar", de "Suíte do Pescador" (Dorival Caymmi).
SÍNTESE
Acredita-se que "A Tempestade" foi a última peça inteiramente escrita pelo dramaturgo, em 1611 –é provável que ele, morto cinco anos depois, tenha colaborado posteriormente em textos de outros autores. Shakespeare então se projeta na pele de seu protagonista, manipulando os demais personagens.
"Próspero trabalha o tempo todo com a magia, convocando essas forças invisíveis para levá-los à compaixão e ao perdão", conta o diretor.
"É o terreno do ator, a mentira explícita", afirma Carvalho. "Mas, por ser explícita, você tem que torná-la mágica no instante seguinte."
No texto, Shakespeare ainda alude a seus trabalhos anteriores, e Villela decidiu incluir na montagem uma referência a seu famoso "Romeu e Julieta" (1992) com o Grupo Galpão, que projetou diretor e companhia: como os jovens apaixonados interpretados pelo Galpão, em seu encontro romântico, Miranda e Ferdinando (Marco Furlan) de "A Tempestade" ficam na ponta dos pés, como equilibristas.
Já o visual habitualmente colorido de Villela ganha aqui tons de terra. "Como essa é uma síntese de todas as peças de Shakespeare, achei que deveríamos voltar ao barro, à origem", diz o diretor.
A TEMPESTADE
QUANDO sex., às 21h30, sáb., às 21h, dom., às 19h; até 22/11
ONDE Tucarena, r. Monte Alegre, 1.024, tel. (11) 3670-8453
QUANTO R$ 50 a R$ 70
CLASSIFICAÇÃO 12 anos 

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